Um dos livros que o físico da Unicamp lança amanhã para chamar a atenção para a necessidade da informação checada e confiável (Ricardo Lima)
O ex-reitor da Unicamp e professor titular de Física na instituição, Marcelo Knobel, entende bem quais são os malefícios da proliferação de notícias falsas e pseudociência, assim como a importância da ciência para combatê-las. Ciente que estes são debates atuais e urgentes em nossa sociedade, o educador compilou vários artigos seus que discutem e propõem questionamentos sobre os assuntos e lança dois livros nesta quarta-feira (11) em Campinas em evento presencial na Livraria da Vila, a partir das 19h. "Montei esses livros ao ver todos os ataques que as universidades estavam sofrendo, os ataques direcionados à ciência", conta.
No primeiro deles, "A Ilusão da Lua - Ideias para Decifrar o Mundo por Meio da Ciência e Combater o Negacionismo" (Ed. Contexto), o autor abre espaço para debater o que é ciência, a beleza por trás dos seus processos e como ela deve ser a nossa ferramenta contra o negacionismo que tanto ganhou força nos últimos anos. O título do livro também denomina um dos artigos do volume, remete à impressão de que a lua tem tamanhos diferentes quando vista no horizonte e no alto do céu. "Ela tem sempre o mesmo tamanho, é uma mera ilusão. É uma forma poética de mostrar que depois que você conhece um fenômeno do ponto de vista científico, nunca mais enxerga as coisas da mesma maneira", explica o educador, que classifica o momento como crítico. "Todos nós, que acreditamos na ciência para conquistar avanços contra desigualdades, melhorar a qualidade de vida e entender o mundo que vivemos, precisamos nos engajar. Afinal, os movimentos anti-científicos, negacionistas e de pseudociência estão crescendo de forma mobilizada e com recursos, ao contrário do que acontece do lado da ciência", alerta.
O segundo livro, "Reflexões sobre Educação Superior: A Universidade e seu Compromisso com a Sociedade" (Ed. Blucher), traz artigos sobre o universo acadêmico e também debate a importância da educação na fundação da sociedade. O objetivo das discussões trazidas nos livros é, principalmente, incentivar o pensamento crítico do leitor para que ele possa se proteger contra fake news e acrescentar sua voz a debates que são fundamentais para o nosso futuro. "Estamos diante de situações emergentes com as mudanças climáticas e este ainda é um ano de eleições", relembra.
A força da internet
Para além dos livros e da vida na universidade, Marcelo vê que a internet é um local não só de propagação de desinformação, mas também um potencial espaço de trocas necessárias. O educador criou durante a pandemia, no YouTube, o canal "Espaço Recíproco", onde leva diversos convidados para interessantes bate-papos. "Eu queria fazer mais e criei esse espaço onde entrevisto pessoas que estudaram, que se dedicaram e que são de diferentes áreas do conhecimento. Tento quebrar um pouco a bolha em que vivemos para atingir cada vez mais gente para pensar ciência e educação pública", ressalta. Ele já conversou com Drauzio Varella, Átila Iamarino, Guilherme Boulos, César Cielo, Mel Lisboa, Miriam Leitão e muitos outros. "Eu busco mostrar a trajetória dessas pessoas e também evidenciar como a educação foi fundamental na vida delas. Eu pergunto como foi a vida na universidade, se algum bom professor os influenciou". Marcelo conta que todas as suas entrevistas deixam muito claro como uma educação de qualidade fundamentou a vida dos seus convidados.