CRÍTICA

Maior mérito de 'Somos Tão Jovens' é a sinceridade

Filme de Antonio Carlos Fontoura, que entra em circuito comercial em Campinas e região nesta sexta

João Nunes
correiopontocom@rac.com.br
03/05/2013 às 16:53.
Atualizado em 25/04/2022 às 17:44

Cena do filme brasileiro 'Somos Tão Jovens', com direção de Antonio Carlos da Fontoura (Divulgação)

A bela canção 'Tempo Perdido' tocada inicialmente só com o playback anuncia em tom nostálgico à abertura de 'Somos Tão Jovens', de Antonio Carlos Fontoura, que entra em circuito comercial em Campinas e região nesta sexta-feira (3). Em seguida, ouvimos a voz de Renato Russo explodindo na tela enquanto lemos os letreiros. E o passado se instala em Brasília, em 1982, quando a Legião Urbana nem existia.

Os fãs talvez não apreciem o fato de o roteiro narrar apenas os primórdios da história de Renato,

pouco antes de ele embarcar para o Rio de Janeiro e transformar a Legião Urbana em lenda do pop-rock nacional. Pois o maior acerto do filme está nesse recorte — até por ser menos conhecido. E, se temos uma convincente reconstituição de época, assim como atores rendendo bem nos respectivos papéis, incluindo Thiago Mendonça que vive o protagonista; e se vemos um bom painel do comportamento do período — em especial em Brasília —, o filme, porém, nunca empolga como faz supor a expectativa criada em torno dele e a citada abertura. A começar da mise-en-scène conduzida com pouca inspiração — em alguns momentos ela está francamente precária, com soluções pouco criativas e mal coordenadas (leia-se direção de cena e de ator). Este é um dos principais problemas do filme.

O roteiro do experiente Marcos Bernstein (cineasta e coautor de 'Central do Brasil', entre outros) também escorrega. Insiste em ser didático (alguém sempre está falando algo para explicar o contexto), prevê soluções banais e óbvias para certos episódios (como a escolha do nome Aborto Elétrico, a primeira banda de Renato) ou tenta materializar o instante em que esta ou aquela canção foi composta.

Soa fake demais a visita com o namorado que o cantor faz a Taguatinga (no entorno de Brasília) a fim de dizer ao espectador onde e como foi criada 'Faroeste Caboclo'. Porém, nem se compara no quesito forçar a barra a sequência em que o compositor canta 'Ainda é Cedo', feita para Aninha (Laila Zaid). E, a exemplo do que ocorreu com Cazuza - 'O Tempo não Para' (Suzana Werneck e Walter Carvalho, 2004, roteiro de Fernando Bonassi e Victor Navas), Renato Russo passa o filme distribuindo frases de efeito (sempre inteligentes ou espirituosas) a qualquer momento do dia ou da noite. Ele pode mesmo tê-las dito, mas estão compactadas de modo que as cenas parecem estar a serviço das frases — e que todos os personagens à volta jogam a bola no ponto certo para Renato chutar.

O filme sugere também que temos diante de nós um iluminado e genial, mesmo antes de ter se tornado quem foi. É fácil vê-lo assim em retrospectiva; difícil é imaginá-lo como predestinado quando seu caráter e formação musical e intelectual ainda eram embrionários. Por esta razão, quando mostra os erros e desacertos, e as contradições adolescentes e inseguranças do personagem o filme parece mais genuíno. Assim, todas as vezes que inexiste a preocupação de fazer do protagonista um herói pronto que, naquele período ele nem era mesmo, o filme alcança momentos de ótimo cinema. Como na cena em que, no meio da noite, bêbado e inseguro, ele procura Flávio Lemos (Daniel Passi) por quem era apaixonado. Ou quando diz à mãe que gosta de meninos — a melhor cena do filme e seu melhor diálogo.

O protagonista está bem composto por Thiago Mendonça (apesar de certos exageros quando canta), até porque ainda não é o Renato Russo que entrou para a posteridade. E foi acertada a decisão de fazer o próprio ator cantar justamente porque não é o cantor que se definiu posteriormente, assim como a precariedade das bandas foi bem explorada. Apesar dos problemas, a força do personagem provoca empatia no espectador, seja fã ou não, gostando ou desgostando da Legião Urbana. Tal conexão nasce como resultado da sinceridade de 'Somos tão Jovens' — seu maior mérito.

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