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'Magnífica70' mostra o poder da arte

Terceira e última temporada da série é ambientada em meio à ditadura militar brasileira

Estadão Conteúdo
15/10/2018 às 20:13.
Atualizado em 06/04/2022 às 16:20

Reza a lenda que a fênix entra em chamas quando sente que está fraca e, então, renasce mais forte das cinzas. Nesse sentido, a segunda temporada de 'Magnífica 70' terminou quase propondo a mesma renovação aos seus quatro personagens principais. Após a produtora Magnífica ser consumida por um incêndio, os protagonistas da série, assim como a criatura mitológica, ressurgem completamente renovados para uma terceira e última temporada, que chegou à HBO Brasil no domingo (14). “Quando produzimos as duas temporadas, sentimos que havia esse modelo do teatro clássico, com o primeiro e segundo atos bem na nossa frente. Assim, o terceiro ato é quando todos os problemas são resolvidos, o que acabou acontecendo também com a série. Pareceu que fazer essa última temporada assim daria um peso, uma coerência e a possibilidade de fechar a trilogia no auge, sem deixar que o vigor se esvaísse ou se perdesse na tentativa de perpetuar ad infinitum”, explica Cláudio Torres, diretor-geral, roteirista e criador de 'Magnífica 70', acrescentando ainda que a missão de encerrar a trama “deu um gás” em toda a equipe. E que gás. Se o público da série já está acostumado com as viradas imprevisíveis de seus personagens, o roteiro criado por Cláudio e Renato Fagundes, com colaboração de Melanie Dimantas e Aline Portugal, já deixa claro no primeiro episódio dessa reta final que nada é impossível no horizonte de 'Magnífica 70'. “Tem uma liberdade de expressão em todas as personagens, que se separam nesse primeiro momento para se unir lá na frente”, explica a atriz Maria Luísa Mendonça. Na pele de Isabel, mulher divorciada e sócia da produtora Magnífica, que abandona o novo marido e a vida como dona de casa para se tornar uma guerrilheira feminista, a atriz enxerga um grande paralelo entre o enredo quase surreal da trama e as questões vividas no Brasil de hoje. “Ela está indo atrás do que acredita, falando da força das mulheres contra a ditadura, o que é muito bonito", pontua a atriz. Além da Boca É o poder feminino, por sinal, que toma frente na história, principalmente depois que o enredo dessa terceira temporada leva os personagens a explorar outras possibilidades para além daquelas vividas na Boca do Lixo, na qual o cinema marginal e a pornochanchada ditavam o ritmo. Afinal, falar da produção realizada em plena ditadura é, inevitavelmente, contar a história de artistas e mulheres que estavam nadando contra a corrente da época. Simone Spoladore, a força por trás de Dora, enxerga na evolução de sua personagem ao longo da trama uma grande história de redenção pessoal, mesmo sob as camadas de humor e reviravoltas inusitadas. “Ela era uma ladra e golpista, que entra ali apenas para roubar todo o dinheiro e, de repente, se descobre atriz. Acho que ali mesmo ela percebe que tem uma alma, e uma alma de artista”, conta ainda. Assim como ela, Maria Luísa também sente que o final de Isabel acaba completando um arco inesperado, porém transformador. “Ela começa como uma dona de casa, depois vai estudar, toma consciência da realidade e acaba virando uma guerrilheira porque não aceita nem o machismo nem o regime da época. Desde o início, eu tinha a sensação de que ela era uma personagem bem à frente do seu tempo”, explica. Registro histórico Para Cláudio Torres, a chance de encerrar a história em seu tempo certo acabou servindo para ilustrar como, naquela época e hoje, a paixão pela arte acaba tendo a capacidade de mexer com o ser humano. “Essa reta final conta como pessoas que não eram artistas tiveram suas vidas transformadas quando passaram a ter contato com a arte”, afirma também. Ele frisa que, ainda hoje, o papel de registro histórico do cinema não deve ser subestimado, principalmente quando sua credibilidade e importância são colocadas em xeque. “A realidade atropelou a ficção. Não havia como prever o que está acontecendo no País. Tudo tomou uma proporção que lembra como é importante o papel da arte no mundo - não deixar as pessoas esquecerem a nossa história”, acrescenta o diretor-geral.

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