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Lume estreia 'Kintsugi, 100 memórias' no Sesc

Um dos coletivos mais emblemáticos da cena teatral brasileira, o Lume Teatro, volta aos palcos com 'Kintsugi, 100 memórias', no Sesc Av. Paulista

Da Agência Anhanguera
24/05/2019 às 12:24.
Atualizado em 03/04/2022 às 09:57

Um dos coletivos mais emblemáticos da cena teatral brasileira, o Lume Teatro, volta aos palcos com a estreia de Kintsugi, 100 memórias, no Sesc Avenida Paulista, em São Paulo. A dramaturgia autoficcional é desconstruída de maneira não narrativa, e transita pelas lembranças dos intérpretes, suas histórias em grupo e, como projeção, pela história dos espectadores. A montagem tem dramaturgia de Pedro Kosovski e direção do argentino Emilio García Wehbi. Kintsugi, 100 memórias tem início com uma cena de ruptura. Em seguida, os atores Ana Cristina Colla, Jesser de Souza, Raquel ScottiHirson e Renato Ferracini tentam restaurar o que se rompeu, revisitando e reorganizando os fragmentos do que um dia teve um contorno estável, em uma conexão metafórica com as memórias e marcas assumidas (doces, amargas, felizes e/ ou dolorosas) que constituem o indivíduo e que o espetáculo traz à cena. Kintsugi é uma técnica japonesa de restauração de cerâmica, que utiliza uma mistura de laca e pó de ouro. Na cultura japonesa, as peças que recebem esta reparação comumente são mais valorizadas que as que nunca sofreram rupturas. Ao invés de ocultar as cicatrizes, os artesãos da arte Kintsugi as expõem, integrando-as e embelezando-as, de modo a valorizá-las como celebração constante da vida cotidiana e das superações; uma metáfora acerca da possibilidade de reparação, de transformação e aprendizado a partir dos pequenos e dos grandes erros. A pesquisa que levou o Lume Teatro ao espetáculo vem sendo desenvolvida há alguns anos, quando a atriz Ana Cristina Colla se deparou com uma matéria sobre a cidade de Angostura, na Colômbia, onde em torno de 12% dos cerca de 12 mil habitantes têm uma mutação genética que leva a um tipo raro e precoce do Alzheimer. Segundo ela, a memória é um tema sempre presente nas montagens que reúnem os quatro atores, como Café com Queijo e O que seria de nós sem as coisas que não existem. “A doença foi um disparador para colocarmos a memória como algo valioso e, por isso, sua perda, irreparável. Usamos esse princípio como uma costura dramatúrgica e ampliamos as memórias pessoais, mas sempre tensionando a fronteira entre o que é real e ficcional”, conta ela. Kintsugi, 100 memórias é uma proposta cênica que, partindo dos limites da teatralidade e de modo fragmentário, tenta aproximar-se de uma ideia de memória não linear nem bucólica, mas sim uma memória que apresenta o gesto da vontade no ato de lembrar. “Para nós, a memória não é nem monumentalista nem autocomplacente, mas sim um exercício do presente para revisitar as crises passadas, os erros cometidos, as cicatrizes – pessoais e coletivas – que a história nos deixou e, assim, corrigir o nosso futuro; é o reencontro com a dor como ato de superação”, afirma o diretor Emilio García Wehbi. Já o ator Jesser de Souza aponta que a montagem dá continuidade às linhas de pesquisa do Lume, tanto técnicas, quanto estéticas e temáticas. “Como nossos projetos são gestados por longos períodos e se mantêm em repertório por vários anos, invariavelmente os temas que os atravessam são aqueles cuja relevância transpassa os tempos. Acredito que Kintsugi, 100 memórias leve ao público uma reflexão atual sobre o descaso com a memória e seus apagamentos deliberados, tanto na história, quanto na política atual.” O encontro com o diretor Wehbi foi por acaso. Em 2016 ele foi convidado pelo Porto Iracema das Artes, em Fortaleza, para ser orientador de um grupo teatral da cidade e a atriz Ana Cristina Colla, também. “Depois de conversarmos bastante e de muita troca de informações e experiências, a Ana Cristina comentou sobre a possibilidade de eu dirigir o grupo, em um projeto já em andamento e que tinha como eixo temático e conceitual a memória. Tivemos uma conversa com os quatro via Skype meses depois – eu em Buenos Aires e o Lume em Campinas – e acordamos um possível cronograma de trabalho. Eu conhecia o grupo pelo nome, mas nunca tinha visto nenhuma montagem. O que ficou claro foi o desejo de trabalharmos em conjunto para que nossa estética diferente pudesse produzir algo novo”, diz Wehbi. O trabalho começou há um ano e nesse tempo ele esteve na sede do Lume três vezes. O desenho sonoro da peça ficou a cargo de Janete El Haouli e José Augusto Mannis. AGENDE-SE O quê: Kintsugi, 100 memória Quando: De hoje a 23/6, de quinta a sábado, às 21h; domingos e feriados, às 18h (sessão extra dia 19/6, às 21h) Onde: Sesc Avenida Paulista (Avenida Paulista, 119, Bela Vista, São Paulo, fone: 11 3170-0800) Quanto: De R$ 9,00 a R$ 30,00

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