Na hora de embalar as festas juninas, algumas músicas são indispensáveis e, segundo o Ecad, Luiz Gonzaga reina na lista
Ainda que não tenha marcado a primeira posição no ranking, Luiz Gonzaga se destaca no levantamento do Ecad (Divulgação)
A música é um elemento indissociável da festa junina. A fogueira, as bandeirinhas e os quitutes típicos até alegram o coração dos amantes das festividades da época, mas elas só estão completas se estiverem embaladas pelos acordes da sanfona e pelo som dos triângulos, dando vida e alegria. O baião, o xote, o xaxado, o forró e o sertanejo são apenas alguns dos ritmos que dão o tom dos arraiás e quermesses. Além disso, algumas canções mais clássicas foram tão intensamente agregadas aos eventos que são quase hinos juninos.
O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) divulgou este mês uma lista com as 20 músicas mais tocadas em festas juninas nos últimos 10 anos e o resultado, em linhas gerais, não surpreende. No topo, não tem como ser outra: "Festa na roça", a composição instrumental dos sanfoneiros Mario Zan e Palmeira, é aquela que não fica de fora. Aliás, Mario, músico italiano radicado no Brasil, abre e fecha a lista do Ecad, pois a vigésima também é de sua autoria, "Marcando quadrilha". Fechando o top três estão "Olha pro céu", de Luiz Gonzaga e José Fernandes de Carvalho, em segundo lugar, e "O sanfoneiro só tocava isso" na terceira posição.
A presença do Gonzagão
Ainda que não tenha marcado a primeira posição no ranking, Luiz Gonzaga se destaca no levantamento do Ecad. O compositor e sanfoneiro pernambucano, também conhecido como Rei do Baião ou Gonzagão, emplacou seis das 10 primeiras músicas da lista. Além de "Olha pro céu", estão, claro, a clássica sertaneja "Asa Branca" em quarto lugar; "Pagode russo" em quinto; "O xote das meninas" em sétimo; "São João na roça" em nono; e "Fogo sem fuzil" em décimo.
"O Luiz Gonzaga é o cara que transformou o forró em algo comercializável, no gênero que representava o nordestino que migrou. Existe um lado mercadológico, pois ele se tornou um personagem popular, que usou a vestimenta de Lampião e trouxe essa figura nordestina do sanfoneiro, o herói. E também tem o lado afetivo, pois ele trazia orgulho para o povo nordestino, tratado com xenofobia durante a migração para o Sul do país", analisa a sanfoneira e pesquisadora na Unicamp, Clara Tomie Rodriguez (@clararodriguezanfoneira). De olho na lista, a instrumentista também lembra que Dominguinhos, que aparece no levantamento do Ecad com as músicas "Eu só quero um xodó" e "Isso aqui tá bom demais", era o "herdeiro musical de Luiz Gonzaga".
Para o violeiro e cantor de música sertaneja Yan Machado (@yanmatheuseyago), "rei" é uma palavra que cai bem a Luiz Gonzaga. "Ele foi um fenômeno. Quem trouxe essa musicalidade para o Sudeste e Sul do país, e consequentemente para a grande mídia que propagou fortemente para o resto do país", conta. Durante esta época do ano, as apresentações de Yan crescem muito devido às festas juninas e o seu estilo principal não o impede de tocar um baião ou um forró dentro das canções listadas no Ecad. "A música caipira vem desse lugar de sociabilidade e teve que se adaptar ao longo do tempo por questões mercadológicas, são muitas outras influências que entram nesse guardachuva do que conhecemos como música sertaneja. É por isso que temos uma abertura tão gigante na festa junina para cantar outros gêneros", afirma o cantor.
Ele aponta para o fato de que, mesmo em festas com um público majoritariamente jovem, Luiz Gonzaga é muito bem-vindo, pois sua música "atravessou gerações". Yan ainda chama a atenção para as três músicas do grupo Falamansa incluídas na lista do Ecad: "Xote dos milagres", "Xote da alegria" e "Rindo à toa", todas de autoria de Tato. "A gente sempre tem que incluir várias músicas do grupo nas festas e o público sabe cantar todas".
Legado nordestino
Muitas das músicas elencadas na lista do Ecad são de compositores nordestinos. Clara explica que a canção nordestina é a trilha sonora oficial desta celebração, que se tornou uma tradição cultural. "Eu vejo que consagra o gênero, não só como algo pop, mas como um patrimônio. Às vezes a pessoa conhece pela primeira vez um trio de forró, tem acesso a essa música na festa da igreja, na quermesse feita pelo ponto de cultura. Isso só difunde a importância do nordestino para a cultura brasileira", aponta a sanfoneira, que espera que a música acesse cada vez mais lugares garantindo sua valorização como representação cultural nordestina em detrimento de preconceitos.
Confira as 20 músicas mais tocadas nas festas juninas nos últimos 10 anos, segundo o Ecad:
✔ 1ª - "Festa na roça", de Palmeira e Mario Zan
✔ 2ª - "Olha pro céu", de Luiz Gonzaga e José Fernandes de Carvalho
✔ 3ª - "O sanfoneiro só tocava isso", de Haroldo Lobo e Geraldo Medeiros
✔ 4ª - "Asa branca", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
✔ 5ª - "Pagode russo", de Luiz Gonzaga e João Silva
✔ 6ª - "Eu só quero um xodó", de Anastácia e Dominguinhos
✔ 7ª - "O xote das meninas", de Luiz Gonzaga e Zé Dantas
✔ 8ª - "Esperando na janela", de Targino Gondim, Raimundinho do Acordeon, e Manuca Almeida
✔ 9ª - "São João na roça", de Luiz Gonzaga e Zé Dantas
✔ 10ª - "Fogo sem fuzil", de Luiz Gonzaga e José Marcolino
✔ 11ª - "Quadrilha brasileira", de Gerson Filho e José Maria de Aguiar Filho
✔ 12ª - "Frevo mulher", de Zé Ramalho
✔ 13ª - "Pula a fogueira", de João Bastos Filho e Amor
✔ 14ª - "Isso aqui tá bom demais", de Dominguinhos e Nando Cordel
✔ 15ª - "Quadrilha" (instrumental), de Josias Damasceno de Almeida
✔ 16ª - "Xote dos milagres", de Tato
✔ 17ª - "Antonio Pedro e João", de Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago
✔ 18ª - "Rindo à toa", de Tato
✔ 19ª - "Xote da alegria", Tato ✔ 20ª - "Marcando a quadrilha", de Mario Zan