CINEMA

Longa 'O Abismo Prateado' traz Alessandra Negrini

Filme de Karim Aïnouz, que estreia nesta sexta, é inspirado em versos de canção de Chico Buarque

João Nunes
10/05/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 16:46
Cena do filme  'O Abismo Prateado', o quarto longa-metragem de Karim Aïnouz (Divulgação)

Cena do filme 'O Abismo Prateado', o quarto longa-metragem de Karim Aïnouz (Divulgação)

Um dos mais inquietos cineastas brasileiros, Karim Aïnouz, chega ao quarto longa-metragem com 'O Abismo Prateado'. E, desta vez, o roteiro dele e de Beatriz Bracher parte dos primeiros versos da canção 'Olhos nos Olhos', de Chico Buarque: “Quando você me deixou, meu bem/ Me disse pra ser feliz e passar bem/ Quis morrer de ciúmes, quase enlouqueci/ Mas depois, como era de costume, obedeci”.

A ideia surgiu quando o produtor Rodrigo Teixeira comprou direitos de músicas de Chico Buarque, que renderam o livro 'Essa História Está Diferente' (diversos autores, Cia. das Letras), a minissérie 'Amor em Quatro Atos' (Rede Globo) e, agora, 'O Abismo Prateado'. “A música é uma carta de amor; ninguém da minha geração passou ileso ouvindo-a”, afirma o diretor.

Pronto desde 2011, naquele ano participou da Quinzena dos Realizadores em Cannes e ganhou o prêmio de direção no Festival do Rio. Chega à tela dois anos depois porque o cineasta diz que gosta de acompanhar de perto e nos mínimos detalhes os lançamentos e, no ano passado, ele estava envolvido com outro projeto. O filme estreia em Campinas nesta sexta-feira (10).

E fez questão de, tendo o Rio como cenário, fugir aos clichês dos cristos-redentores e pães-de-açúcar. “Como não ter um olhar exótico filmando no Rio?”, ele se perguntou o tempo todo antes de começar a rodar e durante o processo. E responde: “O olhar precisa estar a serviço da trama”. Assim, 80% do que se vê é um Rio noturno, incluindo as praias e nenhum cartão-postal explícito.

Estar a serviço da trama significava mostrar uma cidade geograficamente perigosa, pois é disto que fala a história. Enquanto a paisagem inóspita e barulhenta de um prédio em construção evoca tensão ao furar a terra, a personagem Violeta (Alessandra Negrini), abandonada pelo marido, se machuca em uma queda. “Este era o desejo: mostrar um espaço fisicamente perigoso com função dramática”.

E, mesmo que acompanhe a personagem em locações (praia, avenidas cheias de carro, prédio em construção, aeroporto), o diretor evita o termo documental. “Pode até ter esse sentido, mas estou fazendo cinema, não jornalismo”. Assim, a câmera segue a personagem e procura “traduzir a falta de compasso e a sensação de perda” dela. “São recursos de linguagem que traduzem os sentimentos de Violeta”.

Karim assume que quis contar uma história de amor sem implicações político-sociais. “Não tive essa obrigação e foi muito prazeroso". E concorda com a análise de que, com exceção de 'Madame Satã' (2001), seus filmes anteriores também falam de deslocamento e perdas. “São assuntos que me assombram”, define.

No entanto, não se satisfaz em tocar apenas nesses dois tópicos para não se repetir e porque há muitos outros temas que lhe interessa. Porém, adianta que, apesar de recorrentes não há nada de autobiográfico. “São temas que me comovem”. O deslocamento faz parte da vida dele, mas as perdas são comuns a todos nós, lembra. E justifica porque, tanto em 'O Céu de Suely '(2006) como aqui a personagem vai para Porto Alegre. “Adoro a expressão ‘porto alegre’”.

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