ESTREIA

Longa-metragem 'O Grande Gatsby' se perde em excessos

Protagonizado por Leonardo DiCaprio, filme de Baz Luhrman é novidade nos cinemas de Campinas

João Nunes
correiopontocom@rac.com.br
07/06/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:59

Pode parecer implicância com Baz Luhrman, mas o diretor australiano insiste em produzir purpurina e glitter em excesso como forma de exuberância cinematográfica. Pois, assim como em 'Romeu + Julieta' (1996) e 'Moulin Rouge' (2001), não faltam afetações nas imagens de 'O Grande Gatsby' (The Great Gatsby, Estados Unidos/Austrália, 2013), que entra em circuito comercial em Campinas nesta sexta-feira (7).

Se a ideia era reproduzir as festas de Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), ao menos um pouco de autenticidade seria preciso ter. Exemplo: um locutor anuncia talentosa bailarina de charleston e ela entra em cena. Mas não há tempo para apreciarmos o talento da jovem, pois o palco é invadido por hordas de dançarinos, imagem que enche a tela dando a sensação de pompa e circunstância. Se o exibicionismo fosse circunstancial, até seria aceitável. Mas não. Ele repete tal maneirismo em boa parte do filme. E dá-lhe cortes rápidos para fogos de artifício, champanhes se abrindo, taças, plumas, paetês, supostas cenas sensuais, suposta alegria. Tudo superficial. Muito brilho, muito brocado, muitas luzes e cores, excesso de penas voando pelo set — imagem clichê ultra-usada.

Essa falsa impressão de algo vistoso fica apenas na superfície — e que nem o 3D ajuda —, pois ele quer enfatizar (mas o faz à exaustão) que tais festas atrairiam a amada Daisy Buchanan (Carey Mulligan), que mora em frente à mansão dele, do outro lado da baía. A demonstração de opulência deveria ser apenas o ponto de inflexão para o conflito central — o que de fato interessa.

Porém, o cineasta demora a chegar ao ponto a despeito de ser anunciado logo no prólogo pelo narrador Nick Carraway (Tobey Maguire) — primo de Daisy e usado como isca por Jay para trazer de volta a amada que ele deixou por conta da guerra e que, àquelas alturas, está casada com Tom Buchanan (Joel Edgerton).

A partir de determinado momento, o diretor esquece os acessórios para entrar no drama propriamente dito — mas não tanto. Ainda abusa das festas com serpentinas, música pop, bebidas e corpos pudicamente expostos como se exibisse a mais pervertida das festas, porém, com um recato de contos de fadas. Assim como espetaculariza (com direito a replay) um acidente trágico, o que revela virtuosismo e certa morbidez.

E as festas milionárias e pouco familiares fazem mesmo o contexto da história. O aspirante a escritor Nick chega em 1922 na Nova York do jazz, do contrabando de bebidas e das ações das bolsas nas alturas para ser vizinho de Jay Gatsby. Nick irá escrever essa história chamada O Grande Gatsby, que vem a ser a grande obra do norte-americano F. Scott Fitzgerald (1896-1940) — terceira refilmagem do livro.

Não há mal algum em fazer leitura pop de um clássico, desde que o resultado seja bom. Nem se está falando da realização impecável pela própria natureza de Hollywood e seus US$ 150 milhões investidos. Tampouco tem a ver com o elenco — DiCaprio sem nada notável (na verdade, repetindo-se); os outros cumprem a contento os respectivos papéis.

Trata-se, portanto, de como o diretor se acercou da obra fartamente conhecida e fez a leitura que lhe pareceu melhor. E essa aproximação tirou a essência do drama. Tanto que a dor de um personagem secundário, George Wilson (Jason Clarke), acaba sendo mais pungente que a dos protagonistas.

E coloque nisto os acertos e desacertos de Jay e Daisy e a decepção de Nick diante do desfecho. Certamente o problema está no roteiro (Craig Pearce e Baz Luhrman) e no diretor, responsável em última instância pelo resultado final.

Seria exagero dizer que 'O Grande Gatsby' é ruim. O mais justo será afirmar que Lurhman se equivocou ao preferir a exuberância cenográfica e cênica em lugar do drama e suas causas e seus efeitos.

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