Comédia de Paulo Fontenelle que acaba de estrear em Campinas usa fórmulas já desgastadas por filmes do gênero
Cena do filme nacional 'Divã a 2', que tem direção de Paulo Fontenelle ( Divulgação)
Com a canção 'Clichê do Clichê', Gilberto Gil tornou clássica uma expressão capaz de identificar o excesso do previsível, o mais alto grau do lugar mais comum, o supra-sumo do óbvio. Pois 'Divã a 2' (Brasil, 2014), roteiro e direção de Paulo Fontenelle, superou em muito o sentido da música do compositor baiano. O filme é o clichê do clichê do clichê. Não há uma única cena, sequência, fala, o que seja, original — tudo ali já foi tão reiterado que chega a invalidar a expressão déjà vu. Para não sermos injustos, há alguma originalidade no título, pois parece, mas não é a continuação de 'Divã' (José Alvarenga Jr. 2009). Para não confundir, os produtores fizeram uma gambiarra que funciona: os dois protagonistas vão para a terapia — daí o jogo com o número. Fora essa brincadeira (que, sim, confunde), nada resta do filme. Ah, não há escatalogias cuja ausência virou mérito no cinema nacional. Porém, há uma personagem, Isabel (Fernanda Paes Leme), que só fala bobagens de uma nota só: sexo vulgar. Ou melhor, há um diálogo ao final em que ela não fala em sexo. Supostamente, as intervenções de Isabel seriam para provocar riso. Provocam tédio.E o diretor roteirista (ao contrário de todo mundo) deve ter adorado o execrável diálogo sobre o nome do cachorro em 'Se Beber, Não Dirija' (2013, roteiro e direção do próprio), pois repete idêntico formato na cena em que a ortopedista Eduarda (Vanessa Giácomo) pede para o assistente boboca deixar recado no celular do marido e produtor de eventos Marcos (Rafael Infante). Supostamente era para rir, mas dá sono. O filme conta a história da tal ortopedista, casada há dez anos com o tal Marcos. Como o casamento não anda bem, eles se separam, mas continuam ligados afetivamente. Enquanto o ex caça meninas, ela se apaixona (não poderia ser diferente em nenhum dos casos) por Leo (Marcelo Serrado), paixão regada a jantares com vinhos e piquenique com bananas. Há umas quinze delas para dois adultos e duas crianças. Quem come tanta banana? Aquilo é decoração, não direção de arte. E o enredo se sustenta em coincidências do tipo: Eduarda faz sexo por acaso com o pai do assistente boboca e Leo foi terapeuta de Marcos. E o velho lugar-comum da disputa entre São Paulo e Rio vem recheado de estereótipos: o Rio é lindo e São Paulo cinzenta (na imagem acelerada, a cidade só tem carros e gente apressada). Faltou dizer que São Paulo não tem praia, mas possui ótimos restaurantes e que o carioca é descontraído e o paulistano estressado. E tanto Rafael Infante quanto Vanessa Giácomo estão em papéis equivocados. Ele parece ter saído de um episódio do grupo Porta dos Fundos. Mesmo quando sofre ou está bravinho mantém inalterada expressão de quem está prestes a começar um stand up. Ela, por mais que pareça se esforçar, não consegue nos fazer crer que está numa comédia (mesmo com toques românticos). Falta-lhe o tempo da comédia. E, quando tenta chorar, não convence nem a própria. Para piorar, falta química entre os dois. Como falta ao filme — o que, afinal, explica tudo.