CINEMA

Longa-metragem 'Mazzaropi' é destaque no Cine PE

Documentário de Celso Sabadin aborda a trajetória de um dos maiores comediantes brasileiros

João Nunes
01/05/2013 às 17:02.
Atualizado em 25/04/2022 às 18:00
Mazzaropi em cena do filme 'Nadando em Dinheiro' (Divulgação)

Mazzaropi em cena do filme 'Nadando em Dinheiro' (Divulgação)

Se alguém ainda não sabia, o documentário Mazzaropi, de Celso Sabadin, um dos destaques do Cine PE – Festival do Audivisual que termina nesta quinta-feira (2) em Recife, escancarou: um dos maiores comediantes do cinema brasileiro era gay. Bem, este é apenas um detalhe no belo documentário do jornalista e crítico paulistano, que recupera uma história riquíssima.

O primeiro acerto está no prólogo, no qual por sete minutos pessoas das mais diferentes procedências discorrem sobre o significado da palavra caipira. Segundo o diretor, foi uma forma de falar do preconceito que sempre cercou os filmes de Mazzaropi.

O próprio Celso nunca se interessou pela obra do cineasta e ator. “Sou urbano classe média e não assistia a filmes dele”, diz. O primeiro contato ocorreu quando, no papel de jornalista, fez longa reportagem para a TV a respeito do humorista.

A chance de fazer o documentário surgiu quando o produtor de 'Menino da Porteira' (Jeremias Moreira Filho, 2009), Moracy do Val, lembrou-lhe que em 2012 seria o centenário de nascimento de Mazzaropi e lhe sugeriu fazer um filme de ficção a respeito.

Diante do enorme material resultado da pesquisa que realizou, Celso constatou que seria impossível uma ficção pronta em 2012 (isso foi em 2009), e tomou em conta o alto custo da produção. Optou, assim, pelo documentário, que acabou sendo produzido por Edu Felistoque e Paulo Duarte.

A principal característica do filme, afirma, foi a possibilidade de realizá-lo sem deixar de lado os trabalhos de jornalista. Mesmo assim, além do material iconográfico e dos filmes, ele entrevistou 26 pessoas ligadas ao biografado, entre eles, Hebe Camargo, o cantor Daniel, o compositor Renato Teixeira, o ator David Cardoso — uma das melhores entrevistas — e o apresentador Ratinho, que concedeu o depoimento mais divertido.

O que mais surpreendeu o diretor foi descobrir a dimensão do sucesso de Mazzaropi. “Eu não tinha ideia do tamanho do sucesso”. O filme fala em 200 milhões de espectadores em 32 longas-metragens. O fato é que, ao final da vida, ele havia acumulado uma fortuna avaliada em R$ 30 milhões. Alguns falam em R$ 300 milhões.

A questão é saber onde esse dinheiro está. Celso garante que isso daria outro filme. E de suspense. E com viés policial. Ninguém sabe dizer onde o dinheiro foi parar. Sabe-se apenas que uma empresa de ônibus comprou fazenda abandonada no Vale do Paraíba e construiu o Museu Mazzaropi com o que restou dos objetos, equipamentos e filmes do ator.

O grande sucesso de Mazzaropi se dava no lugar geográfico do Brasil que acolhe a cultura caipira: São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Mato Grosso. Ainda assim, ele atestou que o nome do ator se tornou nacional. Só como exercício, fez pesquisa informal no Recife e todos os entrevistados sabiam do ator. Infelizmente, diz, não se pode aferir esse sucesso com números, pois antes da Embrafilme não havia contagem de ingressos vendidos.

Celso não tem grande expectativa de público para o filme por causa do formato documentário. Imagina algo em torno de 20 mil em lançamento da Imagem Filmes para o segundo semestre. Uma ficção certamente alcançaria um público infinitamente maior.

Mas ele não pretende fazer a ficção desta incrível história. Se surgir a chance, lhe agradaria escrever o roteiro. Sabe que o preconceito com relação a Mazzaropi e com a cultura caipira continua muito grande, mas há, por outro lado, público ávido por consumir qualquer produto que se refira a ele. Prova disso, o filme mostra, são os DVDS de filmes de Mazzaropi vendidos diariamente em São Paulo.

Quanto ao fato de ser gay, bem, este é apenas um detalhe na vida no ator e diretor e num tempo em que a palavra continha enorme preconceito e restrição. Importa dizer, e o filme diz, que nos dias 25 de janeiro e, eventualmente, no 7 de setembro, o Cine Art Palácio, na Capital, lotava para ver as estreias dos filmes dele. Autêntico filme nacional blockbuster. Ninguém nunca fez nada parecido no cinema brasileiro.

O JORNALISTA VIAJOU A CONVITE DO FESTIVAL

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