CRÍTICA

Longa-metragem 'Gravidade' arrebata o espectador

Filme de Alfonso Cuarón estrelado por Sandra Bullock e George Clooney estreia nesta sexta

João Nunes/Especial para o Correio
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11/10/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 02:23

Cena do filme 'Gravidade', com os atores Sandra Bullock e George Clooney ( Divulgação)

Uma mulher perde a filha em acidente, mas terá de reagir se quiser sobreviver. Este fio narrativo simples, mas trágico, que parece escondido atrás da experiência grandiosa (quase transcendental) de estar perdida no espaço surge, no entanto, como a força central de 'Gravidade' ('Gravity', EUA/Reino Unido, 2012), do mexicano Alfonso Cuarón.O espaço, de beleza fascinante, mas perigoso, é local de trabalho da engenheira Ryan Stone (Sandra Bullock) e também onde ela tenta processar a morte da filha. O assunto está na pauta das conversas com o chefe da missão, o astronauta veterano Matt Kowalsky (George Clooney), que incorpora o arquétipo do pícaro e do mestre. No primeiro caso, bem-humorado, faz piadas até mesmo nos momentos mais tensos. No segundo, um conselho dele torna-se decisivo para a história.Escrito pelo próprio diretor ao lado filho Jonás Cuarón, de 31 anos, arrebatador é o mínimo que se pode dizer do filme. São apenas 90 minutos e praticamente dois atores em cena. No mais, são imagens deslumbrantes do espaço que apoiam a história de dois astronautas que saem para a fora da nave a fim de solucionar um problema técnico; porém, a estação orbital sofre pane e eles são lançados à deriva.Faltam-lhes condições básicas de sobrevivência no espaço escuro e silencioso, onde nenhum ser sobrevive ao frio e não há oxigênio. Assim, Ryan e Matt estão mergulhados no vazio à procura de um porto. Os mais próximos são uma estação russa e outra chinesa — ambas avariadas. Mas é preciso chegar até elas.Alfonso Cuarón, cineasta de uma das melhores produções latinas destes anos 2000 ('E sua mãe Também', 2001) e, provavelmente, do melhor episódio da série 'Harry Potter' ('O Prisioneiro de Azkaban', 2004) confirma a qualidade e a competência em um filme enxuto e com estrutura dramática simples, apesar de se utilizar de uma sofisticadíssima tecnologia, criada especialmente para o filme.Porém, em que pese a exploração de todos os exuberantes recursos de efeitos especiais e dos elegantes movimentos de câmera, não é no exibicionismo que a produção se sustenta. Por trás da perícia e do investimento tecnológico, reside algo profundamente humano e poético.Por poético não se tome apenas os pores do sol exaltados por Matt, mas cenas exemplares como quando Ryan (sem conexão com sua base em Houston) se comove ao ouvir o choro de um bebê e o latido de um cão — manifestações comuns e muitas vezes irritantes que ganham significado novo. As lágrimas dela flutuando no espaço sem gravidade se encarregam de fechar o momento mais comovente da trama.Esta e outras sequências não entram apenas para aumentar o teor de dramaticidade proposta pelo gênero suspense, assim como as belíssimas imagens não estão lá para emoldurar possível falta de conteúdo. Ao contrário, a beleza do universo criado há milhões de anos se une a uma história cheia de nuances e toca em temas profundos, como o renascimento após experiência traumática e a superação de obstáculos como forma de seguir adiante.Pode soar discurso vazio de autoajuda, mas não. As metáforas do diretor (como os delicados e reveladores planos finais) jamais escorregam para as soluções artificiais. Elas comovem justamente porque não servem de artifícios, pois, de fato, o importante não são somente os perigos espaciais — na terra eles também existem; estão em cada esquina —, mas a possibilidade de encará-los.A saga se completa com a trilha de Steven Price, que entra em total sintonia com a delicadeza do filme num tempo em que virou lugar comum as trilhas sonoras grandiloquentes, onipresentes e banais. Em 'Gravidade', a força da música está na suavidade e nos silêncios que propicia. E quando retorna, sabe que seu papel é o de completar as sequências e não somente colori-las. 'Gravidade' se compõe a partir de um harmonioso conjunto de fatores — seu grande mérito — capaz, ainda, de fazer do cinema uma experiência espetacular e surpreendente.

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