MÃES-MENINAS

Longa de campineiro aborda a gravidez na adolescência

Augusto Sevá acaba de lançar o filme 'Fala Sério!', rodado em Trancoso (BA): pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz indica que 18% dos brasileiros são filhos de mães adolescentes

João Nunes/Especial para o Correio
27/05/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:28
Luciana Louvadini, selecionada entre moradores de Trancoso, na Bahia, para compor o elenco de 'Fala Sério!', em cena do filme de Sevá ( Divulgação)

Luciana Louvadini, selecionada entre moradores de Trancoso, na Bahia, para compor o elenco de 'Fala Sério!', em cena do filme de Sevá ( Divulgação)

O campineiro Augusto Sevá acaba de lançar o filme 'Fala Sério!', rodado em Trancoso (BA), no qual aborda a gravidez na adolescência. Ele conta que o tema surgiu durante a realização do anterior, 'Estórias de Trancoso' (2007), cujo elenco era em parte de adolescentes e teve oportunidade de entrar em contato com esse universo. Ao estudar o assunto, leu uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz indicando que 18% dos brasileiros são filhos de mães adolescentes. “Entendi que era um tema importante, que afeta a vida de todos nós, mas tem sido sistematicamente escondido ou menosprezado pela sociedade e pelo Estado”, afirma. A escolha da locação na cidade baiana se deu por uma relação afetiva que data de 1975. “Fui um dos primeiros ‘forasteiros’ a chegar ao lugar quando ele era apenas uma aldeia de pescadores”. Lá realizou também 'A Caminho das Índias' (1980). Eles formam uma trilogia que têm em comum serem feitos com histórias e elenco locais. Trancoso, diz, não é apenas locação, mas parte da história. O tema é universal, mas a abordagem, os personagens e a cultura retratados são genuinamente trancosenses. “Trata-se do ‘lado B’ do povoado, que está na frente do turista, mas ele não repara”, lembra o diretor. Como é a vida da menina que serve cerveja na barraca da praia, da que é caixa no mercado, da camareira da pousada. O filme, diz, nasceu nesse universo e o roteiro foi realizado a partir das histórias que testemunhou. O elenco foi escolhido a partir de inscrições para quem morasse em Trancoso e região. Após as fases de testes e ensaios, feitos em cinco meses, foram selecionados os atores e preparados pelo próprio cineasta e pela diretora de teatro Tamara Flier. Augusto acredita que este é um filme a que todo adolescente e todos os pais devem ter acesso. “Toca num tema complexo, mas com linguagem leve e gostosa. Não tem ideias preconcebidas de como devemos enfrentar a questão; o objetivo é ilustrar em que condições a maternidade ocorre e as consequências para meninas, meninos, família e comunidade”. Depois do lançamento em São Paulo, em abril, Augusto recebeu propostas de veiculação em escolas, igrejas e ONGs. A resposta dele não deixa dúvidas: este é o objetivo do filme; para isto ele está disponível. E estabeleceu até uma agenda que quer ver ampliada — basta que os interessados entrem em contato. O diretor descarta a ideia dos homens como coadjuvantes na história. O foco, declara, é a relação amorosa entre meninos e meninas e o que os leva a ter filhos, mesmo que não entendam como será o futuro. “É uma decisão quase sempre irresponsável tomada a dois, mas que afeta mais as meninas e as famílias, que muitas vezes acabam por acolher de volta as mães e as crianças. “Por isto o filme assume o ponto de vista da mulher”.Realidade Augusto fez mais de cem entrevistas em Trancoso com adolescentes, famílias, além de padre, pastor, delegado, professora e diretora da escola e, a partir dos relatos, construiu o roteiro. Mas em nenhum momento há menção a preservativos. Esta seria uma realidade local? Ele garante que o entendimento que se tem hoje da gravidez precoce não está somente relacionado aos métodos contraceptivos. O adolescente tem consciência do processo reprodutivo, diferentemente de 50 anos atrás, quando era tabu. “O sexo está disponível o tempo todo para todos nós”. Mesmo quem foge do assunto, não fica longe dele. “É TV, internet, rádio, revistas, jornais, escola, rua, casa”. E cita pesquisas que mostram que mais de 90% das adolescentes engravidam por decisão própria, espécie de atalho para o mundo adulto, independência familiar, desejo de construir a própria vida, sair das dificuldades de onde vive, se afirmar como partícipe da sociedade; enfim, de “ser gente”. O filme está viajando pelo País; nesta semana estreou em Curitiba. Para Campinas está sendo estudada uma agenda de exibições, mas ainda não há data definida.  

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