Linguachula afiada

O Linguachula está de volta e mais indignado do que nunca. E, segundo De, vocalista, guitarrista e líder da banda campineira que marcou época na cena roqueira da cidade nos anos 90, motivo para indignação não falta: “Vivemos em uma ditadura. Pode não ser uma ditadura formal nem estamos – ainda – sob a tutela de militares, mas a liberdade está cada vez menor e a juventude, principalmente a das periferias, está, cada vez mais reprimida, quando não é vítima de violência até maior”. Para expressar sua indignação, a banda, agora com nova formação (Victor Coutinho no baixo e Adriano Caetano na bateria, além de De na guitarra e vocais), está lançando nas plataformas digitais o single I wanna to go back to Bahia – sim, a canção do exílio composta e gravada por Paulo de Diniz em 1970 em homenagem a Caetano Veloso, então auto-exilado em Londres, para fugir à repressão da ditadura militar. A música, que falava da solidão do cantor que teve que emudecer seu canto “Eu tenho andado tão só, quem me olha nem me vê / Silêncio em meu violão, nem eu mesmo sei por quê”), fez sucesso imediato assim que o disco começou a tocar nas rádios e até hoje é daquelas que acabam sendo cantadas em rodas de violão mais nostálgicas. A versão do Linguachula para o clássico de Paulo Diniz e Odibar foi produzida pelo mago Rick Bonadio e vem com videoclipe produzido pela Bravo Cine e dirigido por Jun Sakuma. “A gente poderia lançar coisas novas, elas estarão em nosso próximo álbum, mas este momento que vivemos é muito parecido com os anos 70, o sentimento de opressão é o mesmo, o fascismo está comendo solto, então achamos mais importante marcar nossa posição”, diz De. “É o nosso recado, também em nome de uma juventude exilada nas favelas e periferias, um exílio social.” O videoclipe da versão do Linguachula para I wanna to go back traz a banda tocando no túnel da Avenida Paulista e imagens de arquivo da época da ditadura. Para ver no Youtube, acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=QFuiwc8k9iw. No momento, o Lingua prepara um novo CD, com músicas próprias e produção de Caio Ribeiro, da Stage Records. “Som de quebrada pra quem quer se divertir”, é como De define hoje o trabalho da banda.