ENTREVISTA

Leandra Leal fala sobre sua carreira

Atriz conversou com o Caderno C durante o lançamento da comédia 'Mato sem Cachorro'

Fábio Trindade
26/09/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 01:46
A atriz Leandra Leal está em um dos pontos altos de sua carreira, aos 31 anos ( Divulgação)

A atriz Leandra Leal está em um dos pontos altos de sua carreira, aos 31 anos ( Divulgação)

Leandra Leal vive um dos momentos mais produtivos de sua carreira. Além de estar no ar na novela 'Saramandaia' (Globo) como Zélia, pouco tempo depois de cair nas graças do público como uma empreguete em 'Cheias de Charme', a atriz ganhou o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Gramado por 'Éden' e se prepara para exibir nada menos que quatro filmes no Festival do Rio, que começa nesta sexta-feira (27): a comédia 'Mato Sem Cachorro', o suspense 'Um Lobo Atrás da Porta', e os polêmicos dramas 'O Uivo da Gaita' e 'O Rio Nos Pertence'. Esses dois últimos, totalmente autorais, foram produzidos por seu coletivo de cinema, Operação Sônia Silk. Isso, sem falar que Leandra ainda pode ser vista no horário da tarde em um dos maiores sucessos da sua carreira e da Globo, já que 'O Cravo e a Rosa', mais uma vez, está sendo exibida na faixa 'Vale a Pena Ver de Novo'. Não é pouco, principalmente para uma atriz de apenas 31 anos. Mas também, desses, 24 são de carreira. Caderno C — A reprise de 'O Cravo e a Rosa' já repercute nas ruas? Afinal, é uma das novelas mais bem-sucedidas da Globo.Leandra Leal - As pessoas falam muito comigo sobre 'O Cravo e a Rosa', sobre a Bianca (sua personagem). Tem gente, inclusive, que só fala sobre isso, “você é a Bianca?”, e nem comenta sobre 'Saramandaia'. As novelas têm públicos distintos, principalmente pelo horário ('O Cravo e a Rosa' vai ao ar às 14h45 e Saramandaia às 23h20). Eu acho até que 'Saramandaia' poderia passar mais cedo. É uma novela que alcançaria um público mais novo, que normalmente precisa acordar cedo, ou mesmo quem não consegue ver TV nesse horário. Graças a Deus a internet bomba nisso, porque as pessoas podem ver os capítulos de outra forma. Mas'O Cravo e a Rosa' é uma novela que repercute muito e toda vez que passa é assim. As pessoas amam. E como você se vê naquela época e agora?Olha, eu fiz a novela quando eu tinha 17 anos. Hoje estou com 31. É muito tempo, 14 anos. Eu mudei muito fisicamente, graças a Deus (risos). Eu tinha um bochechão. Acho muito divertido ver essas reprises. Até porque foi uma fase muito especial para mim, porque eu era adolescente. Uma fase em que a gente muda muito. O trabalho, principalmente o meu, que registra a imagem, registra muito quem você é naquele momento. Sempre quando eu vejo eu lembro o que eu vivia naquela época, quem eu era, os bastidores. É gostoso. 'Saramandaia', mesmo sendo um remake, é uma novela diferenciada que ousou bastante, principalmente na linguagem, mas pouco se falou sobre ela, ficando até apagada em relação aos outros folhetins da casa. Como você vê isso?Eu acho que quem tinha que falar, falou. E ainda acho que é uma questão muito do horário. Para mim, justamente por ser um horário diferenciado, as novelas tinham que ousar cada vez mais e 'Saramandaia' foi um ótimo passo nisso. Pode-se produzir coisas cada vez mais ousadas. Mostramos linguagens surrealistas e acho que se deve investigar outras linguagens, porque permite isso. Não há a mesma cobrança de uma novela das 9, que tem que acertar de qualquer forma. Você está empenhada agora em lançar 'Mato Sem Cachorro', que chega aos cinemas no dia 4 de outubro. Mas, enquanto isso, 'O Lobo Atrás da Porta', dirigido por Fernando Coimbra, concorre esta semana na 61ª edição do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na Espanha, e foi lançado no Festival de Toronto com muito sucesso. É uma exposição bem diferente...É sim, e foi demais em Toronto. 'O Lobo...' é um filme muito especial. É um suspense forte. Gosto de dizer que, para mim, é um sinal de maturidade muito grande no cinema nacional. É preciso diversificar, investigar gêneros. Dá para fazer público assim também. Não é todo mundo que gosta de comédia, que gosta de drama, enfim, tem que diversificar. Tanto que o filme foi muito bem recebido em Toronto. Ele é complexo, tem um triângulo amoroso cheio de suspense, e com um final muito trágico. As pessoas precisam ver para acreditar. É forte. Depois de San Sebastián, ele ainda vai para Zurique (Suíça) e vem para o Festival do Rio. Um filme denso e complexo, sendo nacional, tem vez no Brasil nesse momento comédia escrachada que o cinema vive atualmente?Tem que acreditar que sim. Tivemos este ano outros filmes que atingiram mais de um milhão de espectadores. As biografias musicais fizeram sucesso, 'Faroeste Caboclo' foi muito bem. Acho que o cinema está diversificando, mas também acredito que a comédia é uma tradição no Brasil. E isso não é algo para ser negado, ao contrário, é uma coisa muito boa. A tradição está aí, temos isso desde a chanchada. Os roteiros estão amadurecendo e o 'Mato' (Sem Cachorro) é fruto disso. O Pedro (Amorim, diretor do filme) é um cara muito bem formado, com muita referência, que conseguiu um roteiro muito amarrado e com algo que acredito que as grandes comédias precisam: os personagens não são chapados. Aqui eles são complexos, eles têm camadas, cada personagem tem um universo particular, tudo com muita identidade. O 'Mato...,' além disso, abre várias frentes. Tem a onda do cachorro, que é fofa e vai pegar um público, tem a história de uma comédia romântica que é um casal que se conhece, se separa e passa por várias aventuras para voltar, e tem também a pegada musical que é ótima, que é jovem, pop, que se comunica muito diretamente com a geração atual. Acredita que outros segmentos do cinema estão evoluindo também?Muito. 'O Som ao Redor' (de Kléber Machado, indicado pelo Brasil para uma vaga no Oscar) teve 100 mil espectadores. Poderia ter sido mais visto? Poderia. Pode ser relançado agora, quem sabe, com a indicação ao Oscar, se ficar mesmo entre os finalistas. É muito difícil, mas queria tanto que fosse e que ganhasse o prêmio para acabar logo com essa novela, de a gente nunca ter levado. Pronto, ganhou, e não se fala mais nisso. Mas o que tem ainda no cinema nacional é um abismo muito grande em relação a filme autoral e filme comercial. Tem que procurar esse caminho do meio também, ter filmes que se preocupam em chegar ao público, mas com uma certa qualidade. Buscar outros gêneros. E mesmo que seja só comercial, tem que ter muita qualidade, porque tem que respeitar o seu público. O 'Mato...,' desde o começo, foi feito para dialogar com o grande público, mas a gente só fez porque a gente acredita muito nele. Você ainda tem o polêmico e experimental filme 'O Uivo da Gaita', que estreou no Festival Internacional de Rotterdam e tem até cena de sexo entre você e a Mariana Ximenes...Esse filme é mais polêmico em si do que a própria relação homoafetiva entre as personagens. Ele é extremamente radical, autoral, experimental, é um filme que só tem dois diálogos, e são só dois diálogos mesmo, o resto é todo em silêncio. Ele não é fácil. Não se trata de algo sexy que vai falar de duas mulheres que transam. O tema é amor líquido, a relação contemporânea nos dias de hoje. Essa coisa da dificuldade da escolha, de você sempre sentir que está em um lugar perdendo outra coisa. A própria dificuldade em escolher estar em algum lugar mesmo, com alguém, como o casamento. Foi uma experiência radical que a gente se propôs a viver nesse coletivo de cinema. Ganhamos o prêmio de finalização em Rotterdam, temos o patrocínio do Canal Brasil, que foi quem proporcionou essa loucura que a gente fez, de três filmes em duas semanas. São filmes extremamente simples, com três locações, três atores, e uma mesma equipe. Todo mundo muito parceiro, muito amigo, querendo viver essa experiência, ficar fazendo cinema insandecidamente. Essa é a fase mais produtiva da sua carreira?Todo mundo me pergunta como eu consigo fazer mil coisas ao mesmo tempo, meus amigos. Mas na verdade eu apenas filmei tudo isso um atrás do outro, em sequência, e depois teve as novelas, tanto 'Cheias de Charme' quanto 'Saramandaia'. Coincidiu de tudo sair meio que junto. A minha profissão tem muitos altos e baixos. São momentos. É como o mar, cheio de ondas. Não se acostuma em nenhum lugar, nem embaixo nem em cima. Esses altos e baixos são em relação a ter trabalhos ou visibilidade?Visibilidade, definitivamente, não é um sinal desses altos e baixos. Para mim é outra coisa que mede isso. O que vale é a qualidade do trabalho que você está fazendo. As parcerias, com quem você está trabalhando. É o trabalho em si, o que está fazendo. Não vejo a minha profissão com glamour ou deslumbre. É trabalho e dedicação, suor, e prazer também. Mas sempre trabalho. A gente tem que aproveitar o máximo do lugar em que a gente está. Quando a gente está lá embaixo, é um momento riquíssimo para a gente aprender. Quando está em cima, os ganhos são outros. As pessoas ficam mais receptivas a você, então é o momento de se relacionar, trocar ideias, fazer coisas novas. É cíclica a nossa profissão. Sou filha de atriz e sei muito bem disso desde criança. Aliás, você tem uma cena ótima com a sua mãe em 'Mato Sem Cachorro'...Ai, foi tão gostoso e divertido. Foi um dia de filmagens superengraçado e muito importante para a minha personagem, deu um colorido a ela e ao universo dela. Explica muito a Zoé (papel de Leandra) e o irmão dela. Ficou muito engraçado e bizarro. Valeu a pena.

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