Jogo de sedução no fim da primeira fase de trama

O motivo é triste e preocupante. Mas, verdade seja dita: dividir Salve-se Quem Puder em duas temporadas, por conta da pandemia do coronavírus parece ter contribuído para dar ainda mais agilidade para a novela das 19h da Globo. Para encerrar a primeira parte da trama no capítulo 54, a ser exibido hoje – ou seja, apenas depois de nove semanas no ar – deixando um gostinho de “quero mais” nos telespectadores, Daniel Ortiz provavelmente precisou antecipar alguns momentos de ápice da história. E deu certo: parece ter parado no momento exato para aguçar a curiosidade de quem acompanha o folhetim. Desde que estreou, no fim de janeiro, Salve-se Quem Puder sempre apostou em uma mistura equilibrada entre a comédia romântica e o espírito aventureiro. O fato de colocar em evidência três mocinhas também favoreceu a produção, já que se alguma delas não funcionasse tão bem, sempre haveria a possibilidade de investir mais na que desse mais certo. Isso, sem dúvidas, não foi preciso. Luna, Alexia e Kyra – ou Fiona, Josimara e Cleyde, como se apresentam atualmente, interpretadas por Juliana Paiva, Deborah Secco e Vitória Strada – conseguem ter força tanto nas sequências em que aparecem juntas quanto nas que estão em outros núcleos, vivendo vidas novas e cada vez mais instigantes. Fica até difícil analisar qual das três mocinhas se destaca mais. As atrizes se encontraram de tal forma em seus papéis que as personagens parecem ter sido escritas sob medida para elas. Nem mesmo a vasta experiência de Deborah Secco ou o carisma imenso que Juliana tem foram suficientes para diminuir Vitória no trio. Kyra/Cleyde, aliás, é uma das melhores surpresas da trama. A jovem riquinha, que precisa dar expediente como babá depois de presenciar um crime e entrar em um programa de proteção a testemunhas, poderia facilmente cair no ridículo, com a forte carga de humor que suas cenas carregam. Mas Vitória tira isso de letra e prova que seu talento vai bem além das mocinhas mais contidas que a revelaram na tevê – ela foi a protagonista de Tempo de Amar e Espelho da Vida, em 2017 e 2018. Aos 23 anos, já é uma das grandes promessas de sua geração. Para o fim desta primeira parte da novela, Daniel Ortiz deixou ganchos extremamente interessantes. Já dá para prever que Renatinha, vivida por Juliana Alves, deve reaparecer como uma vilã no retorno da trama. A tendência é que os romances entre Cleyde e Alan, personagem de Thiago Fragoso, e Fiona e Téo, de Felipe Simas, decolem. Isso ao mesmo tempo em que Renzo, interpretado por Rafael Cardoso, e Josimara, em sua fase “Betty, a Feia”, têm tudo para estreitar laços, movidos por uma suposta conexão espiritual entre a secretária e a “morta” Alexia. Além de todo esse clima de amor, uma virada também deve acontecer com Helena, papel de Flávia Alessandra. A personagem foi apresentada de uma maneira que deixava muito a impressão de se tratar de uma ambiciosa sem caráter, capaz de abandonar a família para viver uma vida de madame. A atriz, inclusive, tem sido um pouco subaproveitada na história. Talvez justamente por isso, tem bom potencial para a volta. O que não se sabe, no entanto, é quando chegará a hora disso ser mostrado. Afinal, para que Salve-se Quem Puder volte ao ar, em sua segunda parte, é preciso que outro “furacão”, o coronavírus, bem mais devastador que o produzido na primeira semana de trama, tenhapassado.