amor através do olhar feminino negro

Jéssica Gaspar traz para Campinas o seu show autoral e reflexivo

A carioca traz o potente show de seu primeiro EP que traz reflexões sobre ancestralidade e emancipação feminina

Aline Guevara/ [email protected]
07/02/2024 às 09:08.
Atualizado em 07/02/2024 às 09:08
A carioca Jéssica Gaspar chega a Campinas nesta quinta-feira (Daniel Kersys)

A carioca Jéssica Gaspar chega a Campinas nesta quinta-feira (Daniel Kersys)

Artista multidisciplinar autodidata, cantora, compositora, performer e figurinista Jéssica Gaspar, utiliza muitas vertentes da arte para espalhar sua mensagem. De voz potente e aveludada, ela se entrega às letras que escreveu enquanto está no palco para falar sobre ancestralidade, emancipação negra e feminina, e de gentilezas. O nome do show e de seu primeiro EP autoral, "Amor", reflete essa intenção. Ela faz show no Sesc Campinas nesta quinta, a partir das 20h, na Área de Convivência. A entrada é gratuita e não é preciso retirar ingressos com antecedência.

"Amor" é composto de seis faixas lançadas em 2023. "É um EP de músicas afro-brasileiras desenhadas de um jeito muito simples. Tem uma que é piano e voz, outra violão de sete cordas e voz, uma canção à capela. E dentro dessa simplicidade é uma busca para falar sobre amor, paz e liberdade. As composições tem palavras que pude compor à beira do rio, perto da minha filha. Então ele tem essa essência de gentileza e o desejo do meu coração de compartilhar o que eu aprendi com a vida", detalha a artista, que recusa ficar dentro de um único estilo musical.

Ela lembra que no começo da sua carreira havia uma expectativa vinda de outros de que atuasse dentro de determinados gêneros, mas prefere não se limitar. "Eu não tenho um estilo definido, trabalho com a música negra. Assim dá para brincar com tudo, com samba, com jazz. Acho que isso é essencial para a população negra. Recentemente eu descobri o Afro House, um estilo musical que tem uma batida eletrônica e trago as minhas letras mais sensíveis para um ritmo dançante", detalha. Jéssica é artista hoje graças à Central Única das Favelas (CUFA), onde teve contato com a dança do break e a cultura Hip Hop. "Eu entendi, mais pra frente, que o espaço sublimador era mesmo a partir da arte e da música. Foi quando comecei a escrever."

REFERÊNCIAS

Ao citar referências musicais, Jéssica lembra de Milton Nascimento, da portuguesa de ascendência cabo-verdiana Sara Tavares e da cubana Celia Cruz. "A Celia tem uma frase boa, que é "a África me deu uma grande faculdade para cantar e bater meu tambor'. Foi uma grande faculdade para mim também", completa. Como muitos descendentes africanos, Jéssica não tinha certeza de suas origens e fez até um exame de DNA para entender de onde vieram seus antepassados. "Tive uma surpresa grata. Descobri que sou de Angola, Gabão, Mali, Marrocos e Rússia. Há um certo reducionismo no que é ancestralidade. Como não sabemos de onde viemos, perdemos muito. Então busquei essa perspectiva ancestral de senso de comunidade, de amor, de comer junto, de se alimentar de boas coisas e estar perto da natureza."

Outro tema recorrente na música de Jéssica é a emancipação feminina. A cantora conta que foi muito impactada pela história de Cláudia Silva Ferreira, moradora da favela no Rio de Janeiro e mulher inocente que foi atingida por uma bala perdida e morreu após ser arrastada pela viatura policial. "Foi muito doloroso. Eu sou uma mulher que vem da comunidade, mãe também, e isso não aconteceu comigo por diferença de tempo e espaço.

Eu gostaria que as mulheres, as meninas, minha filha, fossem respeitadas e tivessem motivos para sorrir. É para isso que eu escrevo e falo sobre filosofia, sobre diálogo", finaliza

ANCESTRALIDADE NEGRA NO SESC

Durante o mês de fevereiro o Sesc Campinas promove semanalmente espetáculos com o tema da ancestralidade negra. Depois de Jéssica, a casa recebe dia 15 de fevereiro a cantora Renata Alves, também com um show autoral cuja base é a música afrobrasileira. Já em 17 de fevereiro a Cia. Alexandre Snoop apresenta seu espetáculo de dança para a família "Antes da Chuva Chegar", movido pelos ritmos afro, pop e house. Encerrando a programação em 23 de fevereiro está a peça "QUEÑUAL", da Cia Pé no Mundo, que expõe a urgência dos saberes ancestrais afroindígenas para os dias de hoje.

PROGRAME-SE

Show de Jéssica Gaspar "Amor"

Quando: Quinta, dia 08/2, às 20h

Onde: Área de Convivência do Sesc Campinas - R. Dom José I, 270/333 - Bonfim

Entrada gratuita

Informações: Instagram @sescspcampinas

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