Instituto Tomie Ohtake mostra obras de Picasso

Dois filmes sobre o trabalho do pintor espanhol considerado um dos maiores artistas contemporâneos da história já revelam ao visitante o que pode esperar da exposição 'Picasso: Mão Erudita, Olho Selvagem', em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. A mostra, realizada com as coleções do Musée Nacional Picasso-Paris, que detém um conjunto de obras sem equivalente do artista espanhol, apresenta um vasto volume de trabalhos de Pablo Picasso (1881-1973). A exposição reúne peças, selecionadas e mantidas por ele como parte de seu acervo e com as quais ele mantinha uma relação pessoal. O núcleo principal desse conjunto é proveniente, principalmente, de duas doações sucessivas efetuadas pelos herdeiros do pintor em 1979 e 1990. Apenas dois dos trabalhos apresentados na mostra vieram originalmente do acervo da quarta mulher de Picasso, Dora Maar, adquiridos posteriormente pelo museu. A exposição, que tem curadoria de Emilia Philippot, curadora também do Musée National Picasso-Paris, é composta por 153 peças — sendo a grande maioria inédita no Brasil — que traçam um percurso cronológico e temático em torno de conjuntos que seguem as principais fases e técnicas do artista, desde os anos de formação até os últimos de produção, permitindo uma visão da diversidade de sua criação. São 116 trabalhos — sendo 34 pinturas, 42 desenhos, 20 esculturas e 20 gravuras —, além de uma série de fotogramas de André Villers realizados em parceria com Picasso; e fotografias de autoria de Dora Maar e Pirre Manciet. A exposição brasileira propõe um percurso cronológico-temático em dez seções. O primeiro é 'Picasso: Formação e Influências' e apresenta de cara a obra 'Homem de Boné' (1895), pintado pelo artista aos 14 anos, quando era aluno da Escola de Belas Artes de La Coruna e que já revela o talento e gênio criativo. Nenhum outro artista do século 20 combinou uma produção tão vasta, intensa e múltipla como Pablo Picasso, que se dedicou a desafiar as convenções por meio da experimentação. Os módulos cronológicos prosseguem com 'Picasso Exorcista: As Senhoritas de Avignon', que traz o processo de geometrização das formas; 'Picasso Cubista: O Violão', mostrando sua relação com a música; 'Picasso Clássico: A Máscara da Antiguidade', sobre a maternidade, o teatro e a dança, logo após o período cubista; 'Picasso Surrealista: As Banhistas', com uma série de pinturas e desenhos de figuras surreais à beira-mar; 'Picasso Engajado: Guernica', apresentando esboços, estudos, fotos do processo, referências à apresentação da tela em 1953 no Brasil, na 2ª Bienal de São Paulo, além de um telão projetando detalhes da obra, com imagens tão contundentes quanto belas como do 'Cavalo e da Mulher Chorando'; 'Picasso na Resistência: Interiores e Vanitas', sobre o processo de trabalho durante a guerra, sua vida doméstica e suas vaidades, 'Picasso Múltiplo: A Alegria da Experimentação', com uma série de esculturas em cerâmica e fotografias; 'Picasso Trabalhando: O Mistério Picasso', mostrando a magia de seu processo criativo na pintura; e o 'Último Picasso: O Triunfo do Desejo', com imagens eróticas em todos seus estágios e estados. A coleção traz obras icônicas da produção do artista como 'Autorretrato' (1906), os estudos para a tela 'As Senhoritas d’Avingnon' (1907), 'Paul Vestido de Arlequim' (1924), 'A Corrida ou Duas Mulheres Correndo na Praia' (1922), 'O Jovem Pintor' (1972), 'As Banhistas' (1918) e 'O Beijo' (1969), além das reproduções de 'Guernica' (1937), painel representando o bombardeio sofrido pela cidade espanhola por aviões alemães em apoio ao ditador Francisco Franco, que destruiu todas as edificações. Atualmente o original da obra integra o acervo do Museu Nacional Centro de Arte Sofia, de Madrid (Espanha). Filmes Numa sala anterior ao espaço expositivo são exibidos em sequência os filmes 'Guernica', de Alain Resnais e Robert Hessens (1949), que revisita a emblemática obra do pintor por meio do olhar dos desastres da guerra; e 'Mystère Picasso', de Henri-Georges Clouzot (1956), que mostra a vitalidade criativa do artista. Se o segundo encanta pela possibilidade de conhecer um pouco de sua genialidade, o primeiro é um soco na boca do estômago. Todo o horror do fascismo está retratado no filme, que ao mesmo tempo que apresenta detalhes do famoso quadro, traz uma linguagem poética, mas pungente de mulheres e crianças com rosas vermelhas nos olhos ou com os mesmos vazados de tanto medo e desespero, acompanhadas de textos poéticos que narram o terror enfrentado por pessoas que nem sabiam ao que certo porque estavam sendo massacradas. “É estranho pensar que tivemos medo de trovões... trovões são anjos... Hoje temos as bombas que trazem o caos à terra”, diz um dos textos. É de chorar. Serviço O quê: exposição 'Picasso: Mão Erudita, Olho Selvagem' Quando: até 14/8, de terça a domingo, das 11h às 20h, com última entrada às 19h Onde: Instituto Tomie Ohtake (Av. Faria Lima, 201, Pinheiros, São Paulo, fone: 11 2245-1900. Entrada pela Rua Coropés) Quanto: R$12,00 (entrada franca às terças-feiras, mediante retirada de senhas na bilheteria do Instituto. Crianças até 10 anos e pessoas com deficiência têm entrada franca todos os dias); na compra do ingresso pela internet, o visitante precisa selecionar o período de visitação, conforme as opções oferecidas no site www.institutotomieohtake.org.br