O ator interpreta John Thornton, um homem tomado pelo luto que fica amigo de um cão chamado Buck
O envolvimento de Harrison Ford com a defesa do meio ambiente não é parte de uma modinha. O ator, famoso por interpretar Han Solo na série Star Wars e o personagem-título na franquia Indiana Jones, batalha pela preservação há décadas. Ele derramou-se em elogios a Greta Thunberg em coletiva de imprensa na Cidade do México sobre seu novo filme, O Chamado da Floresta, que estreia no dia 20 no Brasil e é inspirado no livro Chamado Selvagem, de Jack London. "Aplaudo a Greta por seu ativismo e por seu papel em representar os interesses dos jovens. Admiro sua coragem e firmeza e sua capacidade de se expressar", disse o ator de 77 anos. Em O Chamado da Floresta, ele é John Thornton, um homem tomado pelo luto que se refugia numa região no noroeste da América do Norte em plena corrida do ouro no século 19. Lá, ele fica amigo de um cão, Buck. Juntos, os dois vão encontrar seus verdadeiros propósitos de vida. "Fazer o filme não mudou em nada minha relação com a natureza", disse. "Eu acho que o homem é parte da natureza, não está acima dela. Nós nos entendemos melhor quando nos vemos como parte do mundo natural e responsáveis por ele." No longa, Buck foi inteiramente criado por computação gráfica. “Foi melhor do que filmar com animais de verdade, o que é sempre meio complicado”, disse o ator na coletiva. “Tive um ator e ex-bailarino do Cirque du Soleil, Terry Notary, com quem contracenar. De qualquer modo, o trabalho do ator é fingir. Achei divertido. Só foi estranho quando tive de coçar a orelha do Buck, por exemplo”, contou divertido. Ford também falou com firmeza sobre a política de imigração dos Estados Unidos na fronteira com o México, que tem afetado milhares de latino-americanos. "Estamos enfrentando questões urgentes nos Estados Unidos e estamos trabalhando para resolvê-las. A política de imigração é ridícula. Necessitamos de uma reforma completa. Precisamos convidar pessoas a vir para nosso país, não afastá-las. Esta é a história da América, sempre dependemos da imigração." Mas também houve tempo para falar de cinema, claro, como sua volta ao arqueólogo de chapéu fedora e chicote pela quinta vez - Indiana Jones 5 deve estrear ano que vem. "Me pareceu uma boa ideia caso tivéssemos um bom roteiro. E acredito que estamos muito perto de ter o roteiro que queremos. Estou muito empolgado em voltar ao personagem", disse. "Ainda gosto muito de fazer meu trabalho e sou grato de poder continuar." Ele também contou como foi que acabou conquistando outro de seus papeis icônicos, Han Solo, da saga Star Wars. "Eu já conhecia o George Lucas porque tinha feito um pequeno papel em Loucuras de Verão. Mas eu tinha uma estratégia naquela época: eu me tornei carpinteiro e alternava trabalhos como ator e na carpintaria. Era uma maneira de não precisar fazer qualquer papel que aparecesse. A carpintaria era uma forma de colocar comida na mesa." Um dia, um amigo pediu para ele instalar uma entrada elaborada no escritório de Francis Ford Coppola. Harrison Ford disse que faria, mas só se fosse à noite, porque não queria trabalhar com gente entrando e saindo - na verdade, não queria ser carpinteiro no escritório de um diretor de cinema. Harrison Ford fala sobre o novo e antigos trabalhos Em conversa exclusiva com o jornal O Estado de S. Paulo, ele falou do filme, de seus papéis icônicos, do Brasil e do meio ambiente. Estadão - Por que quis fazer o filme? Harrison Ford - O livro valia a pena, mas nesse caso queríamos fazer um filme para toda a família - a história original é dura. Queríamos fazer o tipo de filme que Hollywood produzia muito e hoje quase não existe mais. Nunca tinha feito um filme para a família, por mais que Indiana Jones e Star Wars tenham virado fenômeno e passado de geração a geração. O Chamado Selvagem é um clássico da literatura americana e mostra a jornada de Buck. Acha que as pessoas se conectam com o filme pela emoção do cachorro? Eu acho que o ponto de vista é compartilhado entre Buck e John, meu personagem. Mas no livro John não tem passado. Não sabemos de onde ele vem. Ele salva Buck e o ajuda a continuar em sua aventura. Então quis que John tivesse uma vida, uma história paralela e humana, emocionalmente significativa. No filme, é um homem que deixou a civilização, sua casa e sua família por causa de uma tragédia - seu filho morreu. Ele foge do Alasca para escapar de seus problemas emocionais e encontra Buck. Eles são úteis um para o outro. É a história de Buck procurando seu lugar no mundo e John ganhando coragem por meio de sua relação com Buck para reassumir suas responsabilidades. A história já foi contada outras vezes no cinema. Acha que a tecnologia ajudou a criar uma versão maior e mais ambiciosa? Sim, a computação gráfica melhorou muito nos últimos anos. Quando fizemos Star Wars, usamos maquetes e miniaturas para a Estrela da Morte, por exemplo. Era muito trabalhoso. Agora, podemos representar a natureza e o mundo natural de modo admirável. Pudemos recriar a beleza da natureza, a vastidão, a escala de uma maneira bonita. Filmes para a família como O Chamado da Floresta costumam passar mensagens positivas. Neste caso, a história fala muito de liderança generosa e ética, não? Tudo se trata de liderança ética agora. Nossa história recente fez com que todas as histórias fossem sobre liderança. Alguns admiram as atuais lideranças, e outros estão perturbados com elas. Mas nosso destino depende de seguirmos um instinto positivo ou negativo. O filme fala de instintos positivos. Há negatividade em excesso hoje em dia? Sim. Mais do que precisamos. Devemos nos concentrar em resolver nossos problemas, não criar mais. O filme também trata da convivência pacífica do homem com a natureza, porque o homem faz parte da natureza. Espera que os espectadores pensem nisso? Quero que as pessoas saiam da sessão com uma experiência emocionante, algo que abra seus corações. Gostaria que as famílias conversassem sobre a natureza, mas também sobre ética, comportamento, responsabilidade e enfrentamento dos nossos desafios. E há muita divisão mesmo dentro das famílias hoje em dia? Estamos acostumados a nos comunicar por máquinas, não dependemos mais da nossa habilidade de sentir a presença real de alguém e ver seu nível de investimento no relacionamento. Dá para inventar tudo. Então me preocupo com isso. Você esteve no Brasil muitas vezes por causa de seu trabalho em prol da conservação do meio ambiente e recentemente se pronunciou na ONU sobre a situação na Amazônia. Continua acompanhando de perto? Sim. Estou muito preocupado, primeiramente com os povos indígenas que vivem nessas áreas e as ameaças a eles. E, claro, estou preocupado com o clima, com as prioridades nacionais, com as internacionais, com o comprometimento humano com o outro e a vida na Terra e não só com as oportunidades econômicas. Acredita que houve algum progresso nos últimos anos? Melhorou em alguns lugares e piorou em outros. O Brasil é muito complexo, e tenho certeza de que há muitas complexidades com as quais não estou familiarizado. Mas é um país vibrante, rico. E temos nos Estados Unidos essas questões também. Mas o povo brasileiro é resiliente, progressista e trabalhador. E tenho certeza de que vai prevalecer. Por que defendeu em seu discurso na ONU que se mandasse dinheiro diretamente para os povos indígenas e a sociedade civil? Por causa do que eles estão sofrendo. Eles estão sofrendo enormemente e são os protetores naturais, conhecem a fundo a terra. E sabem viver confortavelmente com a natureza e permitir que ela prospere. Têm respeito pela terra. Ela está viva para eles, assim como a natureza, que é uma criatura. Os povos indígenas têm conexão com os lugares onde vivem. Trabalhando tarde uma noite, entram George Lucas e Richard Dreyfuss para começar os testes para Star Wars. "Então acho que eu estar lá foi um feliz acaso", disse Ford. Os dois pediram a ele para contracenar com outros atores no teste, como um favor Ele topou. "No fim do processo, me perguntaram se eu queria fazer o papel." E assim nasceu Han Solo.