MÚSICA

Grupo foge pro meio do mato para gravar CD

Matuto Moderno se enfurnou em chácara para realizar seu quinto trabalho

Marita Siqueira
05/02/2013 às 15:26.
Atualizado em 26/04/2022 às 05:40
Integrantes do grupo musical Matuto Moderno (Divulgação)

Integrantes do grupo musical Matuto Moderno (Divulgação)

No “meio do mato”, na chácara do Vô Zezinho, entre Pedralva e Maria da Fé (Minas Gerais), nasceu o quinto álbum do Matuto Moderno. Ritmos caipiras como o cururu, pagode de viola, recortado com um intenso flerte com o rock, algo como um imaginário encontro de Tião Carreiro com Jimi Hendrix, traçam a trajetória de 14 anos do grupo e estão evidenciados no disco. Por sua vez, Matuto Moderno 5 inova ao trazer pela primeira vez Zé Helder e o Edson Fontes dividindo os vocais. “Acho que ficamos mais rock e mais caipiras também. Eu só toquei minhas violas guitarras, quase sempre distorcidas, enquanto o Zé ficou com a acústica, dando uma sonoridade única”, afirma Ricardo Vignini, membro fundador do grupo.

Roqueiros caipiras ou caipiras roqueiros, o fato é que o grupo — formado por Marcelo Berzotti (baixo), Edson Fontes (voz, catira e viola caipira), Ricardo Berti (bateria e percussão), Zé Helder (viola caipira e bandolim), Carlinhos Ferreira (percussão) e Ricardo Vignini (viola caipira elétrica e cabacítara) — fundem a tradição genuinamente brasileira com o rock’n’roll oriundo dos Estados Unidos e Europa. Mostra disso é a imersão num local isolado, assim com faziam seus ídolos dos anos 70, como Led Zeppelin e Pink Loyd.

A fuga da “loucura urbana” foi essencial para a produção ao vivo com repertório inteiramente de autorais inéditas, segundo Vignini. “Foi maravilhosa. Algo que eu queria fazer há bastante tempo. É uma forma da gente ficar unido mesmo. Eram sessões de 12 horas por dia, dormindo, acordando, almoçando e trabalhando juntos”, diz ele. Não havia nem estúdio. “A gente levou o equipamento e ficou tocando no meio do mato, de janela aberta. Sem incomodar nem ser incomodado, exceto alguns marimbondos que apareciam de vez em quando”, conta.

Foi quase um ano de pré-produção para conciliar a agenda do músicos, que chegaram no sítio com composições prontas (apenas algumas foram alteradas). Foram seis meses de ensaios, pois não queriam usar metrônomo e nem overdubs nas músicas. Isso trouxe pequenos ruídos e conversar entre eles nas gravações, desengessando a perfeição acústica dos estúdios.

Tem o canto dos passarinhos e o bucólico barulho de água, nunca em primeiro plano. “Temos uma massa sonora grande. Fazemos mais barulho que a natureza, por isso não aparece tanto”, constata Vignini. Assim foram gravadas as dez faixas em homenagem ao amigo e parceiro do grupo Mingo Jacob, que morreu um mês antes da viagem à chácara.

Homenagem a Jacob

O percussionista Mingo Jacob, membro fundador do Matuto Moderno em 1999, morreu na manhã do dia 28 de julho. “Foi um dos dias mais terríveis de nossas vidas. Ficamos perdidos sem saber o que fazer, mas decidimos tocar o projeto em frente. Acho que era o que o Mingo gostaria que fizéssemos”, diz Vignini, citando que ele participou de todo o processo da pré-produção. “Eu sei que ele estava lá. Tudo deu certo porque ele estava conosco. Tudo que a gente faz hoje dedica a ele”, conclui. Para substituí-lo, foi convidado Carlinhos Ferreira, amigo de longa data da banda.

14 anos de carreira

Mesmo incorporando elementos elétricos e eletrônicos, o Matuto Moderno sempre teve um contato amplo com a cultura popular e os artistas da música raiz, já no primeiro CD Bojo Elétrico, em 2000, com canções autorais. Dois anos depois, lançaram Festeiro com releituras de Vide Vida Marvada (Rolando Boldrin) e Minha Viola (Zé do Rancho, avô de Sandy e Junior); Pena Branca e Pereira da Viola participaram do disco.

Entre 2004 e 2005, gravaram Razão da Raça Rústica, CD autoral produzido pela banda. Há quatro anos, chegou às lojas Empreitada Perigosa, primeiro CD da banda só com releituras. Pedro Bento e Zé da Estrada, Tião Carreiro, Raul Torres, Tonico e Tinoco, Palmeira, Mário Zan e Pereira da Viola são alguns dos autores presentes. Agora, mais um 100% autoral, Matuto Moderno 5, cujo título faz referência direta ao quinto trabalho do grupo.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por