A mostra ‘Varal Étnico Ancestral’ vai celebrar a força das manifestações artísticas de diversos grupos étnicos africanos e indígenas, em Hortolândia
(Divulgação)
A arte enquanto poder pedagógico e cultural transcende gerações e o tempo. Com o propósito de reviver uma das variadas formas artísticas, professores de arte da rede municipal de ensino de Hortolândia estão participando de oficinas para produção de obras para a exposição “Varal Étnico Ancestral”. A mostra tem o objetivo de perpetuar as culturas africana e indígena por meio do grafismo característico de suas etnias, com o uso de técnicas de linhas, cores e padrões. A exposição vai ocorrer durante a programação do 4º Literalendo – festa literária da Prefeitura de Hortolândia – no dia 25 deste mês, também como parte das atrações para celebração do aniversário de 34 anos da cidade.
Esta é a terceira edição do projeto, que teve início em 2023, com a confecção de máscaras africanas. A atividade ocorre em cumprimento da Lei 11.645/08, que estabelece o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas.
Na edição deste ano, o grafismo foi escolhido por ser uma arte característica das culturas africana e indígena, também usado como linguagem escrita e visual – devido ao significado e história que cada símbolo carrega consigo. “O grafismo é uma referência ancestral dos povos. O tempo passou e vamos reviver essa arte de se comunicar e resistir”, explica o coordenador pedagógico de arte da rede municipal de ensino, Adelson dos Santos, que idealizou o projeto, com apoio da Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia.
PANÔS NA PRAÇA
As obras foram desenvolvidas sobre panôs – painéis decorativos em algodão cru – e serão expostas em um varal que interligará troncos de árvores do Parque Irmã Dorothy Stang, na Rua Manoel Antônio da Silva, 415, Jardim Nossa Senhora de Fátima. A ideia, explicou Santos, é expor de forma orgânica os panôs, a céu aberto, com o cuidado do uso de materiais que não agridem o meio ambiente – o que também vai ao encontro das filosofias africana e indígena de proteger e dialogar com a natureza. “Vamos dispor as obras como roupas estendidas no varal. Queremos que o público possa sentir essa cultura de pertencimento.”
Os professores de escolas municipais estão participando de encontros formativos e oficinas práticas para pesquisarem e se aprofundarem no conhecimento gráfico de diferentes povos. Essa pesquisa artística foi usada como ponto de partida e resultou no agrupamento de características de identidade visual e de manifestações de grafismo de cada grupo étnico. Desse modo, referências artísticas foram identificadas — como padrões de traços, linhas e cores — e selecionadas por cada um dos 30 professores que integram o projeto, para a produção das obras que vão compor o “Varal Étnico Ancestral”. Dentre as etnias escolhidas estão Bogolan, Ndebele e Adinkras (africanas) e Pataxó, Kadiwéu e Xingu (indígenas).
Partindo dessas várias referências artísticas e étnicas estabelecidas, cada autor criou a sua própria composição de grafismo em uma única peça, respeitando as origens culturais e a padronagem de cada grupo.
Os grafismos, destacou Santos, carregam consigo significados e podem ter diversas atribuições, como ornamentação, decoração e pintura corporal. Os símbolos característicos dos Adinkras, por exemplo, somam mais 300 tipos e são reconhecidos como um alfabeto.
Três encontros foram programados para a elaboração das obras. O último ocorrerá no dia 16 deste mês.
APROPRIAÇÃO CULTURAL
Depois da finalização da pintura, os panôs vão ganhar um arremate nas franjas de algodão, com sementes, palhas e miçangas, de acordo com a etnia escolhida. Para o idealizador, existem ligações e diferenças entre os grupos étnicos, que estabelecem divergências e encontros culturais e artísticos.
Depois da mostra no Parque Irmã Dorothy Stang, o varal será exposto até o final de 2026 de forma itinerante em 60 escolas municipais. “Cada escola desenvolverá um trabalho com os alunos, a fim de promover acessibilidade cultural e a educação do olhar por meio de um trabalho pedagógico. Nosso intuito é conscientizar a partir de uma imersão cultural que possa propagar a desconstrução de estereótipos. Mais do que uma exposição, é um manifesto visual contra o racismo”, afirma Adelson dos Santos.
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