A mais nova produção de Will Smith, não mostra golpes afiados, mas extremamente irreais, a não ser que você acredite que há mágica no meio das jogadas
Cena do filme 'Golpe Duplo', de Glenn Ficarra e John Requa ( Divulgação)
Filmes sobre vigaristas que aplicam os mais variados golpes existem às pencas. Talvez por isso, quando um novo longa-metragem com esta temática surge em Hollywood, como a mais nova produção de Will Smith, 'Golpe Duplo' (Focus, que chega nesta quinta-feira, 12, aos cinemas), o roteiro sempre busca ser bem mais elaborado do que aqueles já feitos para tentar criar uma produção que supere as outras. Isso quer dizer, teoricamente, golpes mais sofisticados e poderosos que proporcionem resultados surpreendentes. O que se vê o tempo todo em 'Golpe Duplo', entretanto, são ideias tão mirabolantes — e facilmente executadas —, que, no final, não se vê golpes afiados, mas extremamente irreais. Ou seja, não dá para comprar o que eles querem vender em nenhum momento, a não ser que você acredite que há mágica no meio das jogadas. Do contrário, a cada nove golpe, em vez de o espectador ficar eufórico e boquiaberto, como se espera de um filme dessa linha, a única coisa que acontece é um involuntário virar de olhos acompanhado por uma forte expressão de descrença. Ainda existe uma intensa pegada romântica no longa, com uma trama que mescla os fantasiosos truques com o vaivém de um problemático casal — no caso, o trambiqueiro profissional Nicky Spurgeon (Smith) e a bela aprendiz Jess Barrett (vivida pela atriz australiana Margot Robbie). O que existe entre eles é um milionário argentino do ramo da Fórmula 1 interpretado pelo brasileiro Rodrigo Santoro. Na história, Nicky é contratado por Garriga (Santoro) para enganar seus adversários e, assim, vencer o campeonato. Só que o golpista descobre que Jess, após ser abandonada por ele três anos antes, agora é a nova namorada do rico empresário. Ou seja, o filme é dividido em duas etapas: a primeira, mostra o encontro do ladrão profissional com uma simples batedora de carteira, dando início ao período em que Nicky ensina tudo o que sabe à namorada Jess. O mesmo enredo do clássico 'Ladrão de Alcova' (Trouble in Paradise, de 1932), com exceção de que os golpes, agora, acontecem durante a temporada do Super Bowl, a grande final da NFL, liga profissional de futebol americano nos Estados Unidos. Até a cena marcante de um devolvendo ao outro os objetos furtados sem que ninguém perceba há na história. A segunda parte, como dito, é a que envolve o ator brasileiro. Aliás, as cenas na Argentina são um fôlego para os visados e exagerados cenários de Hollywood. A química entre Will Smith e Margot Robbie é boa e busca resgatar a época em que o astro americano encarnava carismáticos personagens malandros que o colocaram no topo em Hollywood, sendo o principal deles em 'MIB - Homens de Preto'. Porém, Will, aqui, parece sonolento o tempo todo, enquanto Margot e até Santoro — apesar da participação mínima — salpicam a trama com um pouco mais de vigor. 'Golpe Duplo' é apenas um luxuoso filme feito pela dupla Glenn Ficarra e John Requa (de 'O Golpista do Ano' e 'Amor a Toda Prova'), mas sem qualquer conteúdo que o torne atrativo. Ao contrário, trata a criminalidade como algo banal e relativamente despretensioso quando pensamos no que os golpes podem render a suas vítimas. Coisas sérias são tratadas como meras brincadeiras que envolvem milhões. Ou seja, tudo é justificável e louvável o tempo todo, como se os golpistas fossem os caras mais bacanas para se ter por perto. No mundo real, ou nos bons filmes sobre a temática (como 'Os Imorais', de 1990), como se sabe, o cenário é bem diferente.