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Gaspar lança 'Rapsicordélico': rap, poesia e cordel

Músico do grupo Z'África Brasil traz um álbum que mistura hip hop e música nordestina: nomes como Zeca Baleiro e Emicida participam do disco

Marita Siqueira
02/03/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 00:47
O rapper Gaspar, filho de um sanfoneiro: "Cresci ouvindo Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Trio Nordestino"  ( Divulgação)

O rapper Gaspar, filho de um sanfoneiro: "Cresci ouvindo Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Trio Nordestino" ( Divulgação)

Rap, poesia, psicodelia e cordel com letras e estruturas rítmicas embaladas pela sonoridade de tambores. Essa mistura da cultura da periferia paulistana com ritmos brasileiros e africanos é a base de 'Rapsicordélico', primeiro disco solo do rapper Gaspar, líder do grupo Z’África Brasil há 20 anos.   No caldeirão musical do cantor, misturam-se elementos da cultura de rua: samba, a capoeira, o repente, a viola e, especialmente, o hip hop.   A estrutura do disco segue a métrica e os temas do repente brasileiro, segundo o cantor. “Ao invés de partir da base eletrônica, os arranjos do disco partiram sempre do pandeiro, do tambor, do cavaco dando harmonia e percussividade nas rimas”, explica o rapper, que convidou um time de artistas consagrados para participar desse projeto, como Zeca Baleiro, Emicida, Dexter, KL Jay, Lirinha, Funk Buia, Marcelo Pretto, Lou Piensa e Amanda Negrasim.   A tradição afrobrasileira em suas vertentes musicais e sonoras é a marca de 'Rapsicordélico'. Gaspar, filho de um sanfoneiro nordestino, teve ainda na infância o contato com essa cultura. “Cresci ouvindo Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Trio Nordestino. Todos eles cantam músicas para os orixás. E minha tia tinha um terreiro. Toda festa de São Cosme e Damião, eu estava lá buscando as oferendas” , diz. A faixa 'Guerreiro de Aruanda', por exemplo, é uma saudação ao orixá Ogum e conta com a participação do rapper Emicida. “Contamos um pouco das qualidades de Ogum, misturando o batidão ‘miami bass’ (rápido e pesado) no toque do orixá, do berimbau”, explica o rapper. Há outras faixas de destaque. 'Mestres Griôs' abre o disco e conta com a participação de KL Jay, tem scratch e colagens de Racionais MC’s e Jorge Benjor. 'Rapinbolada' tem participação de Zeca Baleiro e letra de Carlos Silva, Zé de Riba e Gaspar. Trata-se, como o nome anuncia, de uma mistura do rap com a embolada e resultou num som dançante e bem brasileiro, mostrando o parentesco dos mestres de cerimonias com os emboladores, dos repentistas com os rappers.   E 'Destruidor de Celas' mistura rap com samba, que vem na colagem de 'Eu Sou Raiz', de Aniceto do Império.   Dois anos foram necessários para a concepção do trabalho. Para Gaspar, o novo trabalho representa uma contribuição da arte como transformação. “Trata-se de mais uma alternativa de manter nossos projetos vivos, de dar continuidade em tudo que já fizemos e fazemos ao longo destes anos. Este trabalho representa a união do Z’África Brasil com o Afrobase, com os trabalhos do Treme Terra e a representatividade dos outros projetos que estão ligados permanentemente”, diz. “É um disco que traz em sua essência a ideia de que é possível fazer com que a cultura hip hop seja cada vez mais forte e sem limites para se expressar, aprender e valorizar nossas raízes. É preciso manter viva esta africanidade que pulsa nas nossas veias, nas veias de todo brasileiro”, finaliza o músico.   Em 'Rapsicordélico', Gaspar faz uma combinação arriscada e discutível, contudo, o disco ficou aceitável. Diferente, pouco palpitante, mas que não causa sensações ruins. Mérito pela irreverência e ousadia.  

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