MODERNA

Gal Costa lança álbum de show feito ao vivo no Rio

Cantora lança Recanto ao Vivo, que registra apresentação feita na capital fluminense em outubro de 2012

Marita Siqueira
19/03/2013 às 07:09.
Atualizado em 26/04/2022 às 00:08
A baiana Gal durante a apresentação realizada no Theatro Net Rio, que resultou no lançamento do CD e DVD, pela gravadora Universal (Divulgação )

A baiana Gal durante a apresentação realizada no Theatro Net Rio, que resultou no lançamento do CD e DVD, pela gravadora Universal (Divulgação )

Ousada e moderna. Assim Gal Gosta se apresenta no álbum 'Recanto', agora lançado em versão ao vivo em CD e DVD pela Universal Music, ao interpretar canções inéditas de Caetano Veloso.

O show foi gravado no Theatro Net Rio (Rio de Janeiro), em outubro de 2012, e o disco que deu origem ao espetáculo se diferencia das bossas e sambas que consagraram a cantora ao misturar elementos do rock, como a pulsação marcante do contrabaixo e da bateria, com a música eletrônica.

Além das composições de Caetano, o repertório traz ainda dois clássicos da MPB: Modinha de Gabriela, de Dorival Caymmi, e Um Dia de Domingo, de Michael Sullivan e Paulo Massadas. A direção geral é de Caetano e a direção de áudio de Moreno Veloso, filho de Caetano e afilhado de Gal.

O bom resultado é consequência do entrosamento de Gal com os músicos Pedro Baby (guitarra, violão e voz — filho de Baby do Brasil e Pepeu Gomes), Bruno di Lullo (baixo, violão e voz) e Domenico Lancellotti (baixo, mpc1000 e voz).

“O entrosamento foi fatal, imediato, incrível. Um casamento perfeito”, conta. Isso sem falar na intimidade com o palco do antigo Teatro Tereza Rachel, local em que ela eternizou Fa-Tal e Índia.

“É um teatro que me traz boas e importantes recordações. Mudou bastante, está reformado. Antes parecia, literalmente, um pardieiro”, conta com humor. Tudo ambientado num cenário escuro com luz baixa, focada nos músicos. “Ela explicita a densidade do show, a minha interpretação, a performance dos músicos.”

A inovação no repertório e nos arranjos foi uma necessidade da artista de produzir uma peça que fosse forte como expressão atual. “Considero um trabalho de vanguarda, principalmente o disco feito em estúdio. O show mantém a mesma estética musical, com outras canções que gravei no passado integradas. Para mim é um trabalho que me dá muita alegria”, afirma a cantora. Entre as composições de Caetano Veloso selecionadas, apenas Madre Deus e Mansidão não são inéditas.

A primeira foi feita para o balé Onqotô, do grupo Corpo, de Belo Horizonte, gravada por Hosé Miguel Wisnik; a segunda, foi escrita para Jane Duboc.

A voz

Gal analisa que ao longo dos anos sua voz foi se transformando de acordo com as mudanças de sua personalidade, acompanhando o seu temperamento que perdia a timidez.

“Vejo minhas gravações do início da carreira e existe uma pureza no meu canto. Uma pureza angelical. Hoje em dia, eu vejo essa pureza, mas de uma maneira diferente. Não é que houve mudança na minha voz. As canções antigas eu canto nas mesmas tonalidades. O que eu digo é que a gente vai mudando o jeito de cantar, a expressão do meu canto tem uma pureza, mas também tem uma densidade que no início, quando eu era muito jovem, não tinha. Isso se deve à maturidade, porque a voz é a expressão verdadeira da nossa alma”, diz.

Para ela, quando você canta, não deve pensar. “Tudo que você deve pensar sobre uma canção tem que ser antes. Quando ela vem, você deixa ela ir”, afirma. “Quando eu estou no palco cantando, deixo me levar por aquela força, aquela energia. Também descubro muita coisa enquanto canto, o fato é que a canção tem que ser verdadeira para você. A canção tem que habitar em você para que você possa efetivamente assumir o que está dizendo”, completa.

Parceria

Ao conhecer Gal Costa, Caetano Veloso ficou embriagado com sua voz. “Na hora eu falei: ‘Você é a maior cantora do Brasil’. O som da voz dela leva a gente para fora, você se deixa levar por aquele som que sai quase sobrenaturalmente”, conta. Foi ao lado do cantor, como também de Gilberto Gil, Tom Zé e Maria Bethânia, que Gal estreou o espetáculo Nós, Por Exemplo, no início da carreira, em 22 de agosto de 1964, inaugurando assim o Teatro Vila Velha, em Salvador.

Com o parceiro, veio também o primeiro disco, Domingo, lançado em 1967 pela gravadora Philips. O trabalho garantiu reconhecimento para a dupla, especialmente pela canção Coração Vagabundo.

São cinco décadas de amizade e troca artística. E a ideia de gravar Recanto, lembra Gal, partiu de Caetano.

“Ouvi rumores de que ele tinha dado uma entrevista na Espanha dizendo que gostaria de produzir um disco meu. Eu estava até me preparando para fazer um trabalho, mas tranquila, pois estava viajando bastante para fora do Brasil no formato de show voz e violão com repertório de sucessos gravados ao longo da minha carreira. Eu estava em Lisboa, fazendo um show em teatro e Caetano estava coincidentemente lá com seus projetos, foi me assistir e lá me contou sobre o disco. Achei que fosse demorar um pouco, porque ele me disse que iria compor. Mas, para minha surpresa, logo as canções começaram a chegar.”

Produção

Conforme Caetano finalizava as composições, enviava para Gal. Na época, em 2011, ela morava em Salvador, assim como Moreno Veloso, responsável pela direção de áudio, o que agilizou o processo.

“Caetano ia me mandando as músicas. Eu e Moreno nos encontrávamos para escolher as tonalidades e trabalhar em estúdio com as bases programadas, que foram feitas por Kassin (programador/arranjador) em conversa com Caetano. E eu ia colando as vozes guias para ele trabalhar em cima.”

As gravações provisórias da voz dela foram todas feitas por Moreno na capital baiana.

Recanto Escuro nunca foi refeita, ou seja, a voz guia tornou-se definitiva. As outras, foram gravadas depois no estúdio Ilha dos Sapos, no Candeal. Lá, estiveram apenas Caetano, Moreno e Gal, nem mesmo um assistente de estúdio para pegar um cabo ou desligar o ar-condicionado.

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