Intolerância religiosa

Filme sobre Clara Nunes estreia com protesto

O documentário é resultado de um minucioso trabalho de pesquisa e traz cenas inéditas, como a apresentação da cantora na Suécia, na década de 1970.

France Presse
09/10/2017 às 17:46.
Atualizado em 22/04/2022 às 18:03
O documentário é resultado de um minucioso trabalho de pesquisa e traz cenas inéditas, como a apresentação da cantora na Suécia, na década de 1970. (Leo&Ge)

O documentário é resultado de um minucioso trabalho de pesquisa e traz cenas inéditas, como a apresentação da cantora na Suécia, na década de 1970. (Leo&Ge)

De cantora de bolero no interior de Minas Gerais a diva do samba no Rio de Janeiro, Clara Nunes se imortalizou como uma das maiores cantoras brasileiras. De vestido branco, com sua cabeleireira vasta e tiaras de conchas e flores na cabeça, ela própria narra sua história no documentário Clara Estrela, dos realizadores Susanna Lira e Rodrigo Alzugui. Feito com imagens de arquivo, o longa-metragem estreia hoje (9) no Festival do Rio, às 18h, no Cinepolis Lagoon, zona sul cidade. A mostra de cinema exibirá 250 filmes até o próximo domingo (15).O documentário é resultado de um minucioso trabalho de pesquisa e traz cenas inéditas, como a apresentação da cantora na Suécia, na década de 1970. Em outras passagens, Clara Nunes revela suas raízes, desde sua saída de Paraopeba – cidade próxima a Belo Horizonte – até se tornar intérprete de compositores como Cartola e de Candeia. Ela também narra a influência das religiões afro em sua obra. Candeia, aliás, é autor de O mar serenou, uma das músicas mais executadas de Clara até hoje, passados mais de 30 anos de sua morte. Clara faleceu prematuramente, por uma complicação após uma cirurgia de varizes.Para a estreia hoje, a produção do filme pede que espectadores compareçam vestidos de branco para um protesto contra a intolerância religiosa, um tema relevante para Clara Nunes, que era umbandista. O documentário também será exibido amanhã (10), às 18h, no Espaço BNDES, no centro, e na quarta-feira (11), às 14h, no Ponto Cine, no bairro de Guadalupe, na zona norte. A cantora era idolatrada na região, popularmente conhecida como subúrbio.Primeira pessoaClara Estrela, documentário sobre a cantora Clara Nunes, estreia no Festival do RioClara Estrela, documentário sobre a cantora Clara Nunes, estreia no Festival do RioIolando Husak/DivulgaçãoA direção optou por um documentário em primeira pessoa, sem entrevistas com artistas contemporâneos ou biógrafos. A diretora Susanna Lira explicou que, diante do vasto acervo audiovisual, seria importante deixar a própria se apresentar, sobretudo às novas gerações.“Achamos que, primeiro, íamos dar voz a uma pessoa que morreu há três década, da forma mais próxima a que ela usaria para contar a própria história”, disse. “Se alguns fatos [sobre sua vida] não estão no filme é porque ela não mencionou, então [não queria falar sobre isso], a gente não colocou. O resultado é bem poético”, define.Quando não é a própria Clara quem comenta sua vida em inúmeras entrevistas dadas a emissoras de TV e rádio ao longo dos anos, a atriz Dira Paes é quem interpreta a cantora em alguns trechos. A escolha de Dira foi feita para dar ainda mais peso à brasilidade da cantora, explicou Susanna Lira. “Clara representava essa mulher que vinha do interior para a cidade grande, o que é o caso da própria Dira, que tem uma trajetória semelhante, por ter vindo do Pará”, justificou.Apesar do vasto material disponível, Clara Nunes, que rompeu paradigmas na indústria fonográfica e chegou a vender mais de 100 mil cópias, não tinha sido retratada em um documentário até hoje. Para os realizadores, essa foi também uma oportunidade de misturar passado e presente.Susanna conta que o que mais a surpreendeu fazendo o filme foi perceber o quanto Clara Nunes é atual. “Já naquela época ela falava sobre empoderamento da mulher, a importância da mulher trabalhar, ser independente, sobre intolerância religiosa, sobre o respeito à fé do outro”, destacou.Première BrasilClara Estrela integra a mostra Retratos, que reúne biografias dentro da Première Brasil. Nela, também está em cartaz o filme Callado, da documentarista Emília Silveira e Henfil, de Angela Zoé. O primeiro marca o centenário do escritor e jornalista Antônio Callado, incluindo a passagem dele pela britânica BBC, além de bastidores de suas reportagens. As últimas exibições de Callado no festival são hoje, às 18h, no BNDES, e amanhã, às 14h, no Ponto Cine.“Esse é um filme sobre uma paixão”, contou a documentarista Emilia Silveira. “Ele era um grande escritor e jornalista. Seu livro mais famoso, o Quarup, marcou minha vida, minha juventude”, completou Emilia, que também é autora do filme Galeria F. Ela juntou o centenário de Callado com os 50 anos do romance Quarup para abordar a vida e a obra do artista.Já o filme sobre Henfil recupera o trabalho do cartunista e ativista dos direitos humanos com depoimentos de seus colegas do jornal Pasquim. A obra mostra como o artista usou seus desenhos contra a ditadura militar e também para falar da hemofilia, doença da qual sofria. Ele precisava fazer constantes transfusões de sangue, por meio das quais acabou contraindo o vírus HIV. O longa estreou semana passada e sua última exibição será sexta-feira (13), às 14h, no Ponto Cine.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por