PRÉ-ESTREIA

Filme põe na telona o tal João de Santo Cristo

'Faroeste Caboclo', filme baseado no sucesso da Legião Urbana, chega às telas de todo o País

João Nunes
correiopontocom@rac.com.br
29/05/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 14:18

Cena do filme 'Faroeste Caboclo', do cineasta e publicitário René Sampaio (Divulgação)

Giuliano Manfredini convive há anos com a ideia de um filme baseado na canção 'Faroeste Caboclo', composta em 1979 pelo pai dele, Renato Russo. “A música foi feita para o cinema”, informa Giuliano sobre o primeiro longa do cineasta e publicitário René Sampaio. E Renê conta que ouviu a canção pela primeira vez em Brasília, aos 14 anos, e sonhou fazer dela o filme que pré-estreia nesta quarta (29) e quinta-feira (30) entra em circuito.

De início, o diretor rebate qualquer purismo em relação à transposição literal dos 159 versos da música para o roteiro. Destaca que fez um recorte que priorizou a história de amor entre João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira), nordestino que vai morar em Ceilândia, arredores de Brasília, e Maria Lúcia (Ísis Valverde), filha de senador, que vive no Plano Piloto — área nobre da capital.

Pergunto o que há de Quentin Tarantino no western dele. Seria blasé dizer que não há nada, responde, mas se existe algo comum são as fontes: os americanos e os spaguetti italianos (em especial, Sergio Leone). E cita a cena que abre 'Era uma Vez no Oeste' (1968): em meio ao iminente tiroteio, pingos de goteira e zumbidos de mosca quebram o silêncio. “Essa é a atmosfera que pretendi criar no duelo entre João e Jeremias (Felipe Abib).”

Sobre o roteiro (Marcos Bernstein e Victor Atherino, mas com várias participações), lhe digo que há um toque de 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' (Machado de Assis), no qual um morto narra a história. O cineasta vê semelhanças, mas contesta a estrutura. “A narração acontece até antes do último tiro.”

Também conta que evitou citar versos da música, pois quis estabelecer as diferenças de linguagem. “Estava fazendo cinema e buscando o registro realista”, diz, lembrando que a música é um cordel escrito como fábula.

Lembro-lhe que, apesar do realismo da narrativa, esta mantém elementos da fábula e até dos contos de fada, como na cena em que o herói (ou anti-herói) busca a mocinha no “castelo” onde se encontra “aprisionada” — feito Rapunzel. Ou igual a 'Romeu e Julieta', se quisermos nos reportar à tragédia.

Quando elogio a encenação, Renê acredita que se preparou fazendo comerciais. “Fiz 500 comerciais, o que me permitiu aprender a lidar com a encenação dentro de um tempo curto; e tive aulas com Suzana Amaral e ela me ensinou a dar veracidade às ações.”

'Faroeste Caboclo' teve sequências rodadas na Região Metropolitana de Campinas (RMC), como a plantação de maconha, a boate dos anos 1980 no Tênis Club, cenas do duelo, da cadeia e as do reformatório. E claro, incluiu figurantes da região.

Os atores

Fabrício Boliveira valoriza muito seu papel. “Tenho 12 anos de carreira e este é meu primeiro protagonista.” Por viver negro pobre e analfabeto habitante da periferia de Brasília ele destaca o tom político (em plena ditadura), mas enfatiza o social. “Sem ser panfletário, lá estão o preconceito racial e social, temas que continuam atuais, somados a outros, como a questão gay e a intolerância em geral.”

Afirma que se baseou no mito de Édipo para compor o personagem. “Édipo teve o destino construído e eu quis levantar a questão sobre o que é escolha pessoal e o que é destino.”

Ísis Valverde afirma que procurou fugir do arquétipo. “Não queria ser ‘a mocinha’ porque ficaria sem graça.” Acha que criou personagem com variantes que não são da mocinha clássica — por exemplo, ela fuma maconha.

A atriz lembra que o elenco foi preparado por Sérgio Pena e atribui a esse trabalho e à boa direção de atores o fato de as cenas conterem verdade. “Encenamos coisas que ficaram de fora, mas esse trabalho ajudou no resultado final”, acredita.

Fabrício justifica o discurso articulado que possui dizendo que os pais dele foram fundamentais para que tivesse consciência do que é ser negro no Brasil. “Eles me ensinaram a ter dignidade antes de tudo, fiz curso de artes cênicas, leio muito e tenho a auto-estima resolvida.”

Antonio Calloni faz policial corrupto e nunca foi ligado à música da Legião Urbana, mas gosta da ideia de Renato Russo como poeta e prosador, até porque o ator também gosta de escrever — lançou vários livros de poesia. Conta que baseou seu personagem na matéria-prima do roteiro. “E me diverti brincando de bangue-bangue, mas acima de tudo, gostei de ser chamado para fazer o filme porque adoro cinema.”

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