ESTREIA

Filme documenta o nascimento de um clássico

Longa "Hitchcock" mostra os bastidores das filmagens de "Psicose"

João Nunes
correiopontocom@rac.com.br
01/03/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 02:38

Anthony Hopkins em cena do filme "Hitchcock" (Divulgação)

Sempre desperta curiosidade aquilo que há por trás dos fatos, os chamados bastidores. Pois são os bastidores das filmagens do clássico 'Psicose' a matéria-prima de 'Hitchcock' (Hitchcock, Estados Unidos, 2012), de Sacha Gervasi, que estreia nesta sexta-feira (1) em Campinas. Não se trata, portanto, de biografia de um dos mais célebres cineastas de todos os tempos, mas recorte sobre o processo de gestação de uma obra que se eternizou como uma das mais instigantes da carreira do diretor.

A começar pela análise do período em que se passa a história — estamos em 1959. Os estúdios impõem censura sobre o que pode e o que não pode (nudez, violência ou o simples aparecimento de vaso sanitário) e a ausência de apoio financeiro da Paramount (o cineasta hipotecou a própria casa para bancar o filme), entre outros, e de como esses detalhes ilustram uma época.

Mas o roteiro de Stephen Rebello (autor do livro 'Alfred Hitchcock and the Making of Psycho'), escrito em parceria com John J. McLaughlin, se propõe também a relatar a relação do diretor (Anthony Hopkins) com a mulher Alma Reville (Helen Mirren, interpretação, como sempre, elegante e sedutora).

Nessa relação se concentram alguns dos melhores momentos, pois, aos olhos dos dois personagens, eles estão em processo de traição afetiva mútua, enquanto o espectador sabe que não está acontecendo nada. A sutileza com que o diretor mostra esta contradição revela-se interessante jogo narrativo: são fotos de mulheres, presente e gestos de um lado, e a entrada de um roteirista interessado no trabalho de Alma, de outro.

O primeiro impacto do espectador com a caracterização do grande Anthony Hopkins na tela parece caricato demais, imitação pura e simples. Porém, talvez porque nos acostumamos com ele e porque efetivamente o ator sabe o que faz, o fato é que, aos poucos, somos persuadidos a aceitá-lo como o verdadeiro Hitchcock.

Também há alguns maneirismos da direção em aplicar o que conhecemos dele publicamente na vida privada. Em dado momento ele passa pelo camarim — feito um fantasma, como nos filmes — de duas atrizes e uma delas diz: “Ele está sempre espionando”. Ou quando usa propositalmente expressões que o marcaram em termos publicitários (“mestre do suspense”, por exemplo) como base de bem-humorado comentário.

Há, ainda, outro dado que interessa particularmente a quem conhece a história do cinema e sabe que Psicose foi um grande sucesso. E, olhando em perspectiva, fica difícil dramatizar os problemas de Hitchcock, como a insegurança dele, o peso usado para anunciar a Alma a venda da casa, a recusa da produtora em distribuir o filme. Assim, em vez do drama, tendemos a embarcar na graça nascida dessas situações.

E há um destaque que impressiona: com poucos recursos de maquiagem — hoje tão difundidos —, James D’Arcy parece ressuscitar o próprio Anthony Perkins, tamanha a semelhança e veracidade que ele empresta ao personagem.

Fica complicado imaginar que Hitchcock se mostre por inteiro para quem desconheça a história do cinema e do próprio diretor, pois não perceberá nuances nem tampouco levará em conta certos detalhes, como a composição da famosa cena do chuveiro em que a personagem central de Psicose (Scarlett Johansson) é assassinada.

E em que pese certas escorregadas do filme, como a tal cena vista pela plateia na première — inverossímil na maneira como foi coreografada —, o longa tem como principal mérito nos envolver na trama mágica que só o cinema proporciona. Tal mágica, afinal, e muito antes da ousadia da linguagem ou de virtuosismos formais, é o que move nosso ato de ir ao cinema.

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