CINEMA

Filme de Rio Claro é selecionado para o Festival de Cannes

'Command Action' é produzido pelo coletivo de cinema Kino-Olho e dirigido por João Paulo Miranda Maria

João Nunes/Especial para o Correio
21/04/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 15:59
O curta, um docudrama, se passa na feira popular do bairro do Cervezão, em Rio Claro (Divugação)

O curta, um docudrama, se passa na feira popular do bairro do Cervezão, em Rio Claro (Divugação)

É de Rio Claro (SP) o único filme brasileiro a participar de uma competição oficial do 68º Festival de Cannes, o mais importante do mundo, que acontece de 13 a 24 de maio. Chama-se 'Command Action', curta-metragem produzido pelo coletivo de cinema Kino-Olho e dirigido por João Paulo Miranda Maria, que foi selecionado para a 54ª Semana da Crítica, uma das mostra paralelas do festival. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (20) pelo diretor artístico da mostra, Charles Tesson. O curta, um docudrama, se passa na feira popular do bairro do Cervezão, em Rio Claro. Para João Paulo, a seleção é um reconhecimento “de uma luta de viabilizar o sonho” de fazer cinema no interior. Nascido há 31 anos em Porto Feliz, mas morador de Rio Claro e fundador do Kino-Olho, ele conta que realizou dezenas de trabalhos entre curtas-metragens, séries de TV e propaganda. Origem do título O título 'Command Action', diz, surgiu a partir do robô eletrônico que o protagonista do filme, um garoto, almeja ter e que fala palavras em inglês que o personagem não entende. Segundo João, a ideia foi criar certo conflito cuja narrativa demonstra a falta de inocência na infância daquele menino de periferia, que sofre com a ausência de estrutura familiar, comida, dinheiro, respeito, etc. O cenário é uma feira popular tradicional que vende legumes, filmes e CDs piratas, roupas, galinhas, carne, peixes, pastel, especiarias e bugigangas eletrônicas da China, e que existe há dezenas de anos e envolve famílias que trabalham nela todos os domingos. “É uma feira simples de bairro periférico; o filme faz um panorama das famílias de diferentes origens, incluindo migrantes, idosos, crianças etc”. Histórias reais As histórias são reais e resultado das pesquisas do grupo. Para narrá-las, o diretor contou com o uso de não-atores, feirantes e atores profissionais dos grupos Tempero D’alma e Grupo Kino-Olho. O protagonista David Martins foi selecionado numa escola pública. O roteiro traz assinatura de Fernanda Tosini. Professor do curso superior de cinema da Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), João contou com apoio da universidade, que cedeu alunos como estagiários no filme cujo orçamento foi captado via Lei Rouanet. Se foi difícil? “Está sendo, pois conseguimos captar metade do esperado e ainda temos possibilidade de conseguir a outra metade até o fim deste ano. Isto ajudaria a pagar estúdios de finalização e fazer cópias para o cinema”. João Paulo irá a Cannes com apoio para a viagem da Agência Nacional de Cinema (Ancine). No festival, ele terá uma agenda de entrevistas, exibição e rodadas de negócios com produtores internacionais visando obter apoio para o primeiro longa-metragem. O diretor respondeu a três perguntas formuladas pelo Caderno C. Confira:Caderno C — Qual foi a emoção ao saber que o filme foi selecionado?João Paulo Miranda Maria — A emoção é única, pois a mostra competitiva Semaine de la Critique é composta por uma associação internacional de críticos de cinema. Eles possuem a visão de identificarem talentos que estão surgindo na questão estética da linguagem cinematográfica. Estar nesta lista seleta de selecionados para competição é algo histórico e que com certeza mudará minha carreira.E qual a sensação de participar do maior festival do mundo?É estar entre os melhores do mundo. Diferentemente do Oscar, que é um evento voltado para norte-americanos, tendo apenas um prêmio internacional, o Festival de Cannes promove os melhores do mundo de igual para igual. E revela o que tem de melhor dentro da arte cinematográfica no mundo e vai muito além do cinema de entretenimento que vemos de Hollywood, pois realmente enfatiza o lado artístico das melhores obras do mundo.Qual seu projeto de cineasta?Defendo um modo independente de produção cinematográfica no interior de São Paulo, que chamo de Cinema Caipira. Seria um cinema que surge da realidade do interior, o folclore, a história, a cultura. A ideia não é imitar um filme de capital, estilo de novela, mas procurar algo genuíno do interior. Algo que acaba sendo mais verdadeiro e até mais viável para a produção independente.

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