PRÉ-ESTREIA

Filme de Philippe Barcinski é simples e engenhoso

Première de 'Entre Vales' em Paulínia foi marcada pela má educação da plateia

João Nunes
correiopontocom@rac.com.br
04/04/2013 às 13:28.
Atualizado em 25/04/2022 às 21:48

O cineasta Phillippe Barcinski, diretor do filme 'Entre Vales' (Divulgação)

Uma parábola realista sobre como uma fatalidade pode desconstruir a vida de alguém. Lido na lógica invertida seria: de como uma fatalidade pode reconstruir essa mesma vida. Assim, de modo enigmático — necessário que seja — o diretor Philippe Barcinski define seu segundo longa, 'Entre Vales', exibido em première terça-feira (2) no Theatro Municipal de Paulínia.

Por necessária que seja, entenda-se que qualquer sinopse estraga o grande prazer de assistir a uma história simples narrada a partir de uma montagem e de um roteiro sofisticados. Pode-se apenas resumir que se trata da relação sensível de um pai e seu filho.

Chamado inicialmente de 'Entre Vales e Montanhas', o cineasta preferiu reduzir o título por achá-lo mais sonoro e por não revelar seu conteúdo. Apesar de ter sido rodado 60% na Região Metropolitana de Campinas (RMC), a história se passa em uma grande cidade não identificada. Daí o fato de ter cenas em São Paulo e, principalmente, no antigo lixão do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro.

A produtora-executiva Malu Viana Batista disse ter ficado satisfeita com a infra-estrutura oferecida pelo Polo Cinematográfico de Paulínia, onde a equipe montou a base de produção. O trabalho, segundo ela, foi todo feito em locação. São de Campinas o hospital, a escola, o escritório e o consultório que aparecem na tela.

O custo, sem incluir a cota de lançamento, foi de R$ 3 milhões, valor que está abaixo da média recente para produções nacionais. “Mas você verá na tela muito mais do que sugere esse orçamento”, afirma Malu.

Um dos plots da história é o projeto do economista Vicente (Ângelo Antonio) envolvendo a destinação do lixo das grandes cidades. “Falamos de um país em transformação no qual os lixões a céu aberto estão acabando”, diz o diretor.

A produção deve chegar às telas em junho distribuído pela Imovision e num circuito pequeno. “Não é para grandes plateias”, assume Philippe. Tanto que ele começou a rodar os festivais internacionais. O próximo será em Seattle (Estados Unidos). “Sei da dificuldade de um filme de fala não inglesa emplacar nos Estados Unidos; daí que um festival naquele país pode ser uma boa entrada”. A de Paulínia foi a segunda exibição pública de 'Entre Vales'. A primeira aconteceu no Festival do Rio, em 2012.

Ângelo Antônio atua como protagonista ao lado do ótimo garoto Matheus Restiffe. Escolhido em teste de mais de cem meninos, ele diz que gostou do resultado. “Foi fácil e foi difícil”, diz o garoto. “Eu não sabia o que iria fazer, pois não li o roteiro, mas passei por três fases de testes; na última, conheci o Ângelo Antonio”.

Seguindo no tom enigmático e sem revelar muito, Philippe Barcinski garante que Entre Vales é “bastante intenso e até desconfortável”. Afirma ter buscado emoções fortes, porém contidas, para mexer com as pessoas. “Ninguém sai ileso”. Mesmo assim, confessa que ainda está entendendo como o filme chega ao público.

Falta de educação

Se depender da plateia presente em Paulínia, o filme chegou muito mal. Um projeto da prefeitura lotou cinco ônibus de escolas municipais para “prestigiar o evento”. O que se viu foi um verdadeiro festival de má-educação. Gritos, gargalhadas (incluindo os momentos tensos), piadas com a história do filme, comentários infantis incessantes em voz alta e bagunça generalizada marcou a sessão do começo ao fim.

As respostas dos estudantes às solicitações de silêncios eram respondidas com vaias e mais gritos e mais risos debochados. Uma pena, pois 'Entre Vales' merecia uma plateia atenta e sensível ao drama projetado na tela. Seria preferível ter um grupo de 50 pessoas interessadas no filme do que cinco ônibus de estudantes que desconhecem o significado de palavras como respeito, educação e civilidade.

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