APLAUSOS

Filme de campineira agrada o público de festival em SP

'Rio Cigano', de Julia Zakia, estreou domingo, na 37ª Mostra Internacional de São Paulo

João Nunes/Especial para o Correio
22/10/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 06:22
A cineasta Julia Zakia despertou interesse ao abordar tema pouco usual: a comunidade cigana ( Divulgação)

A cineasta Julia Zakia despertou interesse ao abordar tema pouco usual: a comunidade cigana ( Divulgação)

Com a sala praticamente cheia, a campineira Julia Zakia estreou seu filme 'Rio Cigano', domingo (20), na 37ª Mostra Internacional de São Paulo, e despertou interesse na plateia no debate pós-sessão por causa do tema pouco usual: a comunidade cigana.A cigana Iascara pediu a palavra para elogiar o filme: “Falo em nome de um grupo formado por 600 mil pessoas para dizer que fiquei emocionada pela maneira como fomos retratados, pois o filme irá permitir uma visibilidade menos preconceituosa em relação a nós”, disse. E contou que os ciganos chegaram ao Brasil em 1574, mas se acostumaram a viver escondidos.Ninguém sabe, prosseguiu, que Juscelino Kubistchek era cigano, assim como há artistas, políticos e outras personalidades que preferem o anonimato justamente para não ficarem marcados. Segundo ela, atualmente na Europa os ciganos “viraram caça” dos neo-nazistas. E lembrou que da próxima sexta a segunda haverá um congresso na Universidade Estadual de São Paulo (USP) que debaterá questões sobre a comunidade e reunirá ciganos do mundo todo.Aproveitou para elogiar também a lenda da condessa húngara, no filme, que é muito disseminada. Em 'Rio Cigano', a condessa sangra uma linda jovem e toma o sangue dela para rejuvenescer. Na realidade, lembrou Iáscara, entre os ciganos há uma doença cuja cura supostamente vem de um ritual parecido.Julia contou que o filme foi rodado em Alagoas, nas locações externas e, nas internas, no Polo Cinematográfico de Paulínia — um dos últimos filmes realizados no local. Há também cenas na Sérvia, Bósnia e na República da Eslováquia.Grande parte do que se vê trama envolve ciganos de fato, num total de 120. Apenas cinco são atores, entre eles, a própria diretora e a protagonista Georgette Fadel, que interpreta dois papéis. O filme narra, em tom fantástico, a história de duas amigas que, em meio a uma perseguição, se separam ainda crianças. Uma delas vai viver com a tal condessa. A outra, uma vez adulta, sai em busca da amiga. O longa terá mais duas sessões na Mostra: na quinta, às 21h20, no Espaço Itaú Frei Caneca 4, e sábado, às 17h15, na Cinemateca. LatinosMeu interesse no primeiro dia da Mostra foram os latinos e escolhi 'Solo' do jovem uruguaio Guillermo Rocamora, e 'Las Analfabetas', do chileno Moisés Sepúlveda. Guillermo foi diretor de produção do incensado uruguaio 'Uísque' (Pablo Stol, 2003) e, agora, investe no primeiro longa.O mais curioso: o protagonista é músico, mas de uma banda da aeronáutica. Obviamente, alguém o questionou por isso; afinal, a história ditadura ainda está muito presente em nossos países. Mas ele acredita que tenha humanizado os militares ao contar o dilema do músico dividido entre servir a pátria e participar de um concurso de músicas inéditas.Como não poderia deixar de ser, o filme tem um ritmo que lembra 'Uísque', com sua pausas, poucos diálogos e força das imagens. E, claro, o humor tenso e melancólico dos uruguaios está ali presente.O chileno, no entanto, está um degrau acima — até agora, um dos melhores da Mostra. Uma professora substitui a mãe que lia jornais para uma amiga analfabeta, mas esta quer que ela aprenda a escrever. São duas ótimas atrizes em cena, em especial Paulina Garcia — excepcional como a mulher que não sabe ler.

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