CADERNO C

Festa para o centenário órgão de tubos

Uma cerimônia festiva e musical no próximo domingo celebra os 100 anos do instrumento da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, na Colônia Helvétia

Cibele Vieira/[email protected]
16/02/2025 às 07:28.
Atualizado em 16/02/2025 às 07:28
O órgão de tubos foi trazido da Alemanha para as tradições litúrgicas da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, inclusive concertos realizados durante o ano (Divulgação)

O órgão de tubos foi trazido da Alemanha para as tradições litúrgicas da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, inclusive concertos realizados durante o ano (Divulgação)

A Colônia Helvétia, comunidade de imigrantes suíços fundada em 1888, é um lugar pitoresco — espremido entre Viracopos e Indaiatuba — e com uma narrativa importante sobre os movimentos migratórios que compõem a população brasileira. Ali existe a Igreja Nossa Senhora de Lourdes — cujo padroeiro é o santo suíço São Nicolau de Flüe — que encomendou da Alemanha um órgão de tubos de pequenas dimensões, para dar continuidade às tradições litúrgicas de sua cultura de origem. O instrumento foi instalado em 1925 e funciona perfeitamente até hoje e, para celebrar seu centenário, será realizado no próximo domingo (dia 23) o primeiro de uma série de seis concertos previstos para o ano, com uma missa especial que terá a participação do coro da Paróquia. 

O concerto de música de câmera com órgão, que é aberto e gratuito, começa às 9h15 e terá um repertorio com obras de Bach, Händel, Krebs, Gabrielli e Caldara. Participam Sílvia Pinotti (oboé, Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas), Celso Cavalheiro (violino), Francisco Amstalden (fagote, Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas), Júlio Amstalden (órgão). "Para além do patrimônio material em si, com essa atividade celebramos a vida comunitária através da memória de todos que exerceram na Colônia o papel de organista, uma vez que o instrumento, ao longo de um século, tem ininterruptamente reunido em torno de si a comunidade para cantar suas alegrias, suas tristezas, suas esperanças, suas uniões e suas despedidas", diz Julio Amstalden, um dos organizadores do evento. 

No primeiro concerto do ano, o homenageado será Henrique Lins, imigrante alemão que auxiliou na montagem do órgão quando era ainda um jovem recém chegado ao País, mas passaram por lá nove organistas. Júlio, que é um dos organistas atuais, conta que, para os europeus, a música de igreja (católica e protestante) é indissociável do órgão. Vale lembrar que, desde a década de 1970, a Colônia Helvétia mantém sua "Festa da Tradição", com demonstrações do folclore, gastronomia e cultura suíça (no final de semana próximo ao Dia Nacional Suíço — 1º de agosto). Este ano, em que a festa completa sua 49ª edição, o tema será o "Centenário do Órgão de Tubos". 

UM SOM DIFERENTE 

O som desse órgão pode ser comparado a uma orquestra de flautas, já que sua sonoridade é produzida por flautas de metal e de madeira. Júlio, organista profissional com formação no Brasil, Canadá e Europa, comenta que "a sonoridade pode variar bastante: pode ser forte e incisiva, pode ser suave e doce, pode ser aveludada, pode ser rascante, pode ser brilhante, pode ser clara, pode ser escura. Essa paleta de cores sonoras é para melhor servir a liturgia e comunicar diferentes sentimentos (alegria, tristeza, coragem, interiorização etc.). É o coração humano". 

"Esse instrumento sempre foi um diferencial em nossa matriz", explica Elisa Bannwart, responsável pela parte musical da Paróquia. "Seu som suave faz com que nossas missas e celebrações fiquem mais solenes e permite que haja uma maior sintonia com o divino. Ele é tocado em momentos alegres e tristes, pois assim como abrilhanta nossas cerimonias festivas, também é tocado nos funerais", afirma. O órgão de tubos de Helvétia tem dois teclados manuais, pedaleira (teclado para os pés) com 32 notas, oito diferentes timbres combináveis e projeto fônico baseado na estética organística do século XIX (romântica). Os órgãos de tubos são instrumentos com mais de 2000 anos de história, foram criados no século II a.C. na Grécia, e no Brasil chegou com os portugueses. 

UMA HISTÓRIA DE AMOR 

O casal Sávio Amstalden e Maria Alvina Krähenbühl, casados há 37 anos, se conheceram na presença do órgão, que fez parte do cenário para sua história de amor. Foi em uma apresentação na igreja, quando ela tocava o órgão e ele regia o Coro. "Muito difícil, para não dizer impossível, expressar o sentimento de tocar aquele órgão, que já faz parte do meu ser, após 47 anos — a se completarem em março próximo — de atividade. Difícil também traduzir em palavras o seu timbre, sua potência e sua riqueza sonora. Somente ouvindo mesmo!", declara Maria, que é organista da Colônia Helvétia há quase cinco décadas. Ela brinca que "esse órgão é minha segunda paixão na vida, perdendo apenas para minha família!". 

Sávio lembra uma situação pitoresca ocorrida em 2010, durante uma das manutenções do órgão, quando seu fole foi desmontado. "Em seu interior, foram encontrados vários jornais de época, com reportagens e anúncios da região de Hohenzollern na Alemanha, onde o órgão foi fabricado, escritos em gótico antigo. Esses jornais serviam para revestir o fole, dando vedação absoluta ao escape do ar antes de chegar aos tubos. Como parte de sua madeira estava condenada por ataque de cupins, o fole foi inteiramente refeito e os jornais já não existem mais", relata. Mas foi um achado histórico e curioso.

PROGRAME-SE 

Concerto: Um século do órgão de tubos de Helvétia 

Quando: Domingo, dia 23, às 9h15 

Onde: Igreja Nossa Senhora de Lourdes — Alameda Antônio Ambiel, 817, Helvétia, Indaiatuba 

Entrada Gratuita 

Informações: Fone (19) 99789-6916 Instagram @coloniahelvetia

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