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Fernanda Torres fala da reprise de 'Tapas & Beijos'

Fernanda Torres fala da reprise de 'Tapas & Beijos' e do que tem aprendido nesses tempos de isolamento

Estadão Conteúdo
07/08/2020 às 12:54.
Atualizado em 28/03/2022 às 19:24
De casa, Fernanda Torres gravou também a série 'Amor e Sorte', dirigida pelo marido Andrucha Waddington (Divulgação)

De casa, Fernanda Torres gravou também a série 'Amor e Sorte', dirigida pelo marido Andrucha Waddington (Divulgação)

Com a pandemia, a atriz e escritora Fernanda Torres viu a estreia da peça com o diretor Felipe Hirsch, inspirada em Adão e Eva no Paraíso, de Eça de Queiroz, ser adiada e as gravações da série Fim, baseada em livro de sua autoria, suspensas. E, enquanto não for possível retomá-los, os projetos presenciais da atriz foram substituídos pelas produções do confinamento. Além de interpretar uma terapeuta na série Diário de Um Confinado, estrelada por Bruno Mazzeo, disponível no Globoplay, Fernanda gravou com a mãe, Fernanda Montenegro, e sob direção do marido, Andrucha Waddington, um dos episódios da série Amor e Sorte, no sítio onde estava confinada com a família, na região serrana do Rio. A série, de Jorge Furtado, deve estrear em setembro na Globo - e contará com outras duplas de atores que estão juntos no isolamento, como Lázaro Ramos e Taís Araujo. Também por causa da pandemia, as mudanças na grade de programação da emissora trouxeram de volta na última terça, 4, a série cômica Tapas & Beijos, protagonizada por Fernanda e Andréa Beltrão. Exibido entre 2011 e 2015, o programa, de Claudio Paiva, traz Fernanda como Fátima e Andréa como Sueli, amigas que moram no subúrbio carioca e trabalham em Copacabana, na Djalma Noivas - e é naquele cenário que se desenrola toda a vida delas, inclusive amorosa. As atrizes dividem a cena com nomes como Fábio Assunção, Vladimir Brichta e Flávio Migliaccio, que morreu em maio. Fernanda conversou com o Estadão, do Rio, por videoconferência. Estadão - Como vê Fátima e Sueli hoje? Fernanda Torres - São personagens muito atuais ainda. São duas mulheres trabalhadoras. Elas não tiveram filhos, não se casaram. É uma série sobre gente que trabalha, que passa mais tempo no trabalho que com a própria família. Então, todos os problemas pessoais, as relações afetivas acabam passando pelo trabalho, que é a realidade de grande parte da população brasileira. E Fátima e Sueli foram criadas na época da ascensão da classe C. Era uma época em que o Brasil estava empregando muito, então estavam todos empregados na série. O Claudio Paiva falou: “hoje elas estariam na fila dos R$ 600. E aquela rua inteira estaria fechada: o Djalma Noivas, que vive de casamentos, estaria falido, o restaurante do Seu Chalita estaria fechado, primeiro porque não temos mais o Seu Chalita, infelizmente, e depois porque os restaurantes fecharam. A La Conga, a boate, estaria fechada, e talvez só o Armane, com aquela lojinha de produtos chineses, estaria vendendo on-line”. Atualmente, são usados termos como empoderamento feminino, masculinidade tóxica... As duas representam muito esse empoderamento que se fala hoje, são independentes... -É, mas existe uma coisa interessante na série, porque não é só a questão da mulher, tem também a questão de raça, de gênero. O personagem do Orã (Figueiredo) era casado com um travesti. O Armane seria o macho tóxico, mas, ao mesmo tempo, era condenado tanto à mulher quanto à amante, aquilo era quase algo trágico. O que quero dizer é que acho que o Tapas trazia tudo isso, mas não de uma forma panfletária. O elenco se reencontrou pelo Zoom, e imagino a tristeza pela morte do Flávio Migliaccio. O Flávio era um ator incrível, com a herança do (Teatro de) Arena, com a herança de uma época em que o Brasil perseguia essa questão do homem brasileiro. Meu primeiro contato com o Flávio foi no (Aventuras com) Tio Maneco, que é a estreia do Mauricio (Farias, diretor de Tapas & Beijos) com 10 anos, ele é um dos meninos do Tio Maneco. Falei disso com o Mauricio: você estreou como ator no Tio Maneco dirigido pelo Flávio, e o último trabalho da vida dele foi com você. Flávio se foi dizendo: “o que minha geração lutou não aconteceu, que é uma frustração muito grande...”. Por tudo isso, é uma coisa muito forte a falta do Flávio. Além de Diário De Um Confinado, você gravou Amor e Sorte, que é também uma série da quarentena. Foi uma loucura, porque o Jorge (Furtado) me ligou e disse que tinha criado uma série para duplas de atores que estão 'quarentenados'. O Silvio de Abreu falou: “a Nanda está na serra com o Andrucha”. Então, todos os outros foram dirigidos remotamente, mas a gente tinha o Andrucha. A gente filmava horas por dia, noturnas. Mas foi uma experiência incrível com a família. Ele acabou fazendo um filme normal. Como será o episódio seu e de Fernanda Montenegro? Foi tudo escrito rápido. Entre o Jorge falar e a gente começar, foram dez dias. A princípio, ele me chamou para escrever, mas disse que era esquisito escrever para mim e para minha mãe e sugeri o Antônio Prata. E o Prata, com o Chico Mattoso, desenvolveu algo muito legal, uma espécie de inversão. Uma mãe que foi jovem nos anos 1960, 70, uma mulher que foi livre, e com 90 anos está danada da vida. Era um pouco falar dessa questão da terceira idade que, de repente, tem que ser confinada, tem risco de vida, não pode fazer nada... Qual lição vai ficar dessa pandemia? - Lição eu não sei, acho que a pandemia vai interferir no mundo. Acho que o negacionismo do Trump talvez custe a ele a eleição. Então, todo esse posicionamento anticiência que a gente viu crescer de maneira tão assombrosa nos últimos anos, terraplanista, fundamentalista, isso talvez sofra um revés por causa da pandemia. Não estou dizendo que o mundo será melhor ou pior, mas acho que o que está acontecendo com o Trump nos EUA diz alguma coisa sobre essa visão anticientífica. Agora, acho que, assim que sair uma vacina, rapidamente o mundo voltará a poluir como nunca, a devastar como nunca. Não vejo uma mudança profunda. (Do Estadão Conteúdo)

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