Coletivo de teatro mais antigo do país foi fundada em Campinas
A ilustração é do cartaz do 1˚ Festival do Teatro Amador do Estado de São Paulo, realizado em Campinas no período entre 16 e 29 de novembro de 1963 (Divulgação)
O ano era 1963 e o país vivia um burburinho político com grande envolvimento dos trabalhadores das artes. Foi nesse clima que a Fecamta (na época Federação Campineira de Teatro Amador) nasceu, impulsionada por atores, jornalistas e advogados, além de entidades da sociedade como o Lions Clube. Com o peso de ter sido a primeira entidade coletiva que reuniu os artistas de teatro no país com um cadastro jurídico formal (Cnpj), a entidade passou por muitas mudanças, apoiou movimentos políticos - como as Diretas Já -, contribuiu para a formação dos artistas e hoje mudou sua configuração para agregar novas artes, se tornando a “Federação Campineira de Música, Teatro e Audiovisual”. Para celebrar seus 61 anos de história, fará uma programação especial na quarta-feira, dia 24, das 19h às 21h, na Casa de Cultura Aquarela, onde está sediada há cinco anos.
“É uma organização de grande importância para a preservação e difusão da cultura na cidade de Campinas. Com o Cnpj mais antigo no setor cultural, a Fecamta representa um verdadeiro marco para o teatro da cidade e para o espaço das artes da cena em geral, como uma federação de resistência do patrimônio cultural da cidade”, declara Luiz Araújo, produtor cultural e atual presidente (2023-2025). O evento de aniversário reunirá associados e convidados que poderão assistir a duas exibições de curtas no cineclube (“Música no Quintal e os Vissungos” e “Bene, o Poeta Negro”), seguido por um sarau aberto para participação de atores, músicos e poetas, e será encerrado com um jantar africano preparado pela chef Fá Kbluduru.
O ex-presidente Marcos Bryto revela que os planos para a entidade se mantém nas atividades formativas para atores - que a caracteriza desde o início - e entre 24 de fevereiro e 27 de março promove o “GranEarte” (Grande Encontro das Artes), que entra em sua 13ª edição. “Nesse período realizaremos - com o apoio de um edital Proac - 58 ações como cursos, oficinas, espetáculos e shows, todos sediados na Casa de Cultura Aquarela”, conta o presidente Luiz Araújo. Hoje a entidade conta com cerca de 150 associados, distribuídos por cerca de 25 grupos, com o perfil de apoiar quem quer fazer arte na periferia. Bryto define bem a proposta atual da Federação, que atua com duas forças: o empoderamento e fortalecimento da identidade cultural das periferias e a luta pelos direitos autorais dos artistas. A entidade tem se preparado também para documentar virtualmente sua história para preservar a memória e deixá-la disponível para pesquisas.
PRESERVAÇÃO DA HISTÓRIA
A Federação foi formalizada em Campinas no dia 23 de janeiro de 1963 e, em novembro daquele mesmo ano, já promoveu o 1º Festival do Teatro Amador do Estado de São Paulo, com a montagem da peça “O Auto da Compadecida”. Na época, uma das pessoas envolvidas na criação e fortalecimento da entidade foi Cecilia de Godoy Camargo, que, com o apoio do Correio Popular, fazia planos para a entidade. Ela escreveu: “A FECAMTA sente-se jubilosa em poder, nesta oportunidade, saudar a mocidade entusiástica que aqui vem representar o teatro de sua terra, esperando que sejam colhidos os melhores frutos neste convívio social e artístico”.
O diretor de teatro Walter Rhis, da Cia Cenarte de Teatro, foi presidente da entidade em quatro mandatos, entre os anos 1980 e 1990. Ele relembra que a cidade era efervescente culturalmente, o movimento estudantil era intenso e mantinha uma produção teatral feita por estudantes também e os atores se juntavam em campanhas como a das Diretas Já, quando foi formado até um bloco de carnaval só com artistas, o que ele pretende retomar este ano. O período e a atuação da Fecamta o marcaram tanto que foram o tema de sua monografia de conclusão do curso de Jornalismo da PUC em 1987. "Todo o teatro campineiro foi feito na Federação, que era evidência nacional, e dela participaram vários grupos que se organizaram e atuam ainda hoje, como Sia Santa, Cenarte, Téspis, Grutas e outros", conta Rhis.
Outro ex-presidente, Marcos Bryto, que atuou na direção da Federação nos anos 1980 e 2000, lembra que anteriormente havia na cidade a ATA (Associação de Teatro Amador) fundada em 1950. Mas foi somente em 1978, com a formalização da profissão de ator, que teve origem uma uma nova agremiação, a APTC (Associação dos Profissionais de Teatro de Campinas), separando a atuação amadora e a profissional. Bryto lembra que nessa época a Fecamta teve um período de decadência, mas logo se recuperou, mudando o estatuto em 1983 e substituindo, no nome, o Amador por Associativo. Como as artes evoluíram e ganharam outros espaços, a Fecamta entra em 2024 com uma nova mudança. Mantendo a mesma sigla, agora é a Federação Campineira de Música, Teatro e Audiovisual.
UM EVENTO DE RESGATE
O evento de celebração dos 61 anos da Fecamta será também a oportunidade de reunir artistas e grupos interessados em participar da Maratona de Cenas Curtas que ocorrerá em março, dentro do GrandEArte - Grande Encontro das Artes na Casa de Cultura Aquarela. No cine clube, o filme “Música no Quintal e os Vissungos” foi gravado na Fazenda Roseira, aborda a ancestralidade e a resistência africana e visita novos quintais, culturas ancestrais e raízes por meio de um estudo aprofundado do grupo Tlhangana sobre os vissungos (cantos africanos). Já o documentário “Bene, o Poeta Negro” é um curta-metragem que aborda a trajetória de Bene de Moraes nos vários territórios do município, compartilhando a cultura popular e ancestral por meio de sua atuação como ator de teatro, dança e grande declamador de poemas. Ele foi o responsável por criar o hábito da realização de rodas de discussão ao final dos espetáculos, sempre nas periferias.
PROGRAME-SE
Encontro Fecamta 61 anos
Quando: quarta, dia 24, das 19h às 21h
19h - chegada e confraternização
19h30 - exibição do documentário “Música no Quintal e os Vissungos”
20h - exibição do documentário “Bene, o Poeta Negro”
20h30 - Sarau Sankofa (participação aberta)
21h - Jantar Africano
Onde: Casa de Cultura Aquarela - R. Antonio Carlos Neves, 338, Chácaras Campos Elíseos
Entrada Gratuita (mediante confirmação antecipada)
Informações: Whatsapp (19) 99258-6469 - Instagram @fecamtarmc e @aquarelacultura
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