O Caderno C acompanhou, na cidade de Pedreira, filmagens do longa 'Malasartes e o Duelo com a Morte', de Paulo Morelli
Jesuíta Barbosa (em primeiro plano) durante filmagem, em Pedreira, de <CF463>Malasartes e o Duelo com a Morte ( Divulgação)
Quando ganhou o edital do Polo Cinematográfico de Paulínia no final do ano passado, a produção de 'Malasartes e o Duelo com a Morte', roteiro e direção de Paulo Morelli, correu atrás de locações na região para atender a cota de filmagens exigida. Com o cancelamento do edital, a O2 Filmes, de São Paulo, resolveu rodar assim mesmo. “Ficamos muito satisfeitos com as locações e decidimos filmar aqui”, diz a produtora Andrea Barata Ribeiro. E não se arrependeram. Nesta primeira etapa estão sendo rodadas as cenas que ela chama de “parte terrena” e realista. Nos estúdios, acontecerá “a parte da morte”, que é pura fantasia. São duas fazendas: uma em Campinas, no distrito de Sousas, e outra em Pedreira. Esta, um significativo conjunto de prédios, que tem até uma igreja (virou espaço para guardar o figurino), e se transformou na base do set nas três semanas e meia previstas de filmagens. Numa das casas foi criado pela direção de arte um bar, elogiado por Paulo Morelli pelo apuro na composição. E faz todo o sentido a escolha, lembra Andrea, porque a história desse personagem conhecido desde muito tempo em Portugal e no Brasil se passa em época indeterminada, mas num interior mais ou menos identificado com o de São Paulo e Minas Gerais — o sotaque da região denuncia sua procedência. E foi numa locação no meio da natureza que o Caderno C acompanhou a filmagem de duas cenas na visita feita na semana passada e que envolveu o triângulo principal da trama: Malasartes (Jesuíta Barbosa), a namorada Áurea (Isis Valverde) e o irmão dela, Próspero (Milhem Cortaz) — que é contra o namoro. Uma ponte sobre caudaloso rio serve de cenário. É nela que o herói pode encontrar a morte. Bem que Malasartes tenta convencer o cunhado a não se exaltar, mas este é mais forte, ataca-o e o obriga a subir num mastro. Acompanho a cena pelo monitor do cineasta, mas também posso vê-la acontecer à minha frente. Paulo comenta depois uma curiosidade muito comum no cinema. O projeto tem 28 anos, o roteiro passou por inúmeras modificações, as sequências foram ensaiadas, as falas decoradas, mas ali, na hora de rodar, ele cortou um dos diálogos. “Quando vi a encenação, eu pensei: não preciso desse diálogo”. Na outra cena, vê-se uma briga entre os irmãos Áurea e Próspero. Nesse momento, Jesuíta Barbosa senta-se ao meu lado e acompanhamos a cena sob a mesma perspectiva. Pergunto se ele quer o fone para ouvir melhor o que os atores estão dizendo e ele gentilmente recusa: “Não, obrigado, eu sei as falas”. Diz e prega os olhos no monitor elogiando o movimento da câmera e o ângulo que está sendo mostrado do rio e da ponte. Em seguida, a equipe de suporte coloca uma escada ao lado do tal mastro no qual Malasartes foi obrigado a subir. Na cena que se verá no cinema, ele está bem no alto, enquanto Próspero o balança para que Malasartes caia no rio. Pergunto a Jesuíta se ele ensaiou a cena e ele me diz que ela será feita em estúdio. Mas no set um dublê executará a sequência. Há quem não goste de conhecer os bastidores de filmagens justamente por isto: saber como é feito quebra o que muita gente entende por magia do cinema. Quando fui convidado para fazer esta reportagem no set fiquei pensando em como Pedro Malasartes seria caracterizado. Sei do talento de Jesuíta, grande revelação do cinema nacional, mas, acostumado a vê-lo em filmes dramáticos, não conseguia visualizá-lo num personagem de comédia. Ao chegar ao local onde as cenas estavam sendo rodadas, eu o vi dormindo numa cadeira, chapéu que cobria o rosto compondo o figurino. E imediatamente concluí: é um perfeito Malasartes, impressão que se confirma ao vê-lo atuar.