Campineira de coração, a jovem começou a carreira musical aqui na cidade
Fantine durante a audição às cegas e nos bastidores do 'The Voice' na Holanda ( Divulgação)
Muitos reality shows musicais tentaram e ainda tentam emplacar na TV brasileira, tanto na aceitação do próprio programa com o público quanto de um novo artista no mercado fonográfico. Temos inúmeros exemplos, desde o extinto 'Fama', da Globo, até 'Ídolos', 'Ídolos Kids' e 'Got Talent Brasil', da Record e 'Astros', do SBT, sem esquecer do 'The Voice', da Globo — este, arrebatou milhões de fãs, mas sua vencedora, Ellen Oléria, apenas lançou um CD de regravações e sumiu da mídia. Mas existiu, sim, um reality musical — o único —, que conseguiu sucesso com o público e, ao mesmo tempo, criou um ídolo nacional. Aliás, um não, mas cinco de uma vez só. 'Popstar' estreou no SBT em abril de 2002 e, em apenas 20 episódios mostrando a formação de uma girl band com integrantes escolhidas entre 30 mil candidatas, teve como resultado Rouge, o grupo feminino de maior sucesso no Brasil e da América Latina, com mais de 6 milhões de discos vendidos. Foram três anos de sucesso e o fim veio por questões burocráticas e pela falta de identificação musical das integrantes com o que era pedido.Oito anos depois, as marcas do sucesso do grupo ainda latejam nas meninas, boas e ruins, principalmente em Fantine Tho, a campineira de coração que começou a carreira musical por aqui e morava ainda em Campinas durante todo o processo de formação do Rouge. “Os outros programas que existem por aí são adultos e sofisticados. E o adulto é muito seletivo, consome principalmente produto internacional. A musicalidade brasileira é incomparável, mas a forma como um profissional brasileiro se desenvolve ainda é precária, nem chegamos perto da técnica dos americanos, por exemplo. O Rouge pegou crianças e adolescentes e, além da repercussão do programa, o repertório e a interação do grupo firmaram a marca. O sucesso veio daí”, acredita Fantine.A cantora não mora mais em Campinas. Nem mesmo no Brasil. Deixou o País há seis anos para morar na Holanda, justamente para fugir do passado e recomeçar a vida. “Nós ficamos completamente rotuladas pelo trabalho e o repertório do Rouge tinha pouquíssimo a ver com a nossa natureza musical. Eu fazia muito rock’n’roll, coisas underground e, do nada, virei um produto pop carnavalesco. E, mesmo depois que tudo terminou, quando eu subia no palco com a minha banda, para fazer a minha música, o público queria ver Ragatanga (maior sucesso da girl band). Minha maior fome, minha maior sede era voltar a ser eu mesma”, esclarece.Por mais contraditório que possa parecer — e depois de muito relutar —, Fantine encontrou a forma de conseguir isso em um novo reality show musical. Mas, dessa vez, na Holanda e como ela mesma. A cantora se inscreveu na quarta temporada do The Voice de lá e foi aprovada. O vídeo da seletiva às cegas — como é chamada a etapa em que os jurados escolhem os candidatos apenas pela voz, sem saber quem está cantando — está fazendo sucesso na internet e já bateu a marca de 100 mil views no iTunes, que comercializa os singles gravados durante o programa. Fantine interpretou Leave the Light On, de Beth Hart.“Estou muito surpresa com essa repercussão. Pensei que todo mundo ficaria zangado, principalmente os fãs que estão fazendo campanha pela volta do Rouge. Achei que eles virariam as costas, por entenderem que eu estaria pensando em mim em primeiro lugar, e não na banda. Esse foi um dos meus receios em participar do programa. Mas estou tão cansada de deixar minha vida em stand by em função do Rouge. Eu precisava agilizar a minha vida e ainda bem que a aceitação foi maravilhosa”, diz Fantine. DúvidasAceitar participar do programa realmente não foi fácil. Fantine chegou a se inscrever nas três primeiras temporadas, sendo convidada para todas, mas apenas na quarta decidiu dar as caras na TV holandesa. “É uma mistura de sentimentos absurda. A primeira coisa que passa na cabeça é ‘estou dando um passo para trás’. Vou passar por um reality tudo de novo, como candidata. Mas, a minha realidade aqui é outra. Eu acabei de me separar e minha primeira reação foi voltar para o Brasil. Mas percebi que minha filha (de 5 anos) cresceria sem pai, então quis ficar na Holanda e arriscar o máximo possível para oferecer uma boa vida para ela. O reality pode me projetar como artista solo, vou fazer contatos aqui. Essa é a minha prioridade.”A ideia está dando certo, tanto que Fantine confessa se sentir “a queridinha” nos bastidores. “Eles gostam da minha musicalidade, da minha história. Eles me veem como favorita. Mas a vitória está muito longe, até porque, com o público, a favorita é uma menina incrível de apenas 17 anos que se apresentou no segundo programa.”Retorno foi anunciado ano passadoO Rouge anunciou no ano passado um retorno, incluindo Fantine, com direito a uma música nova, 'Tudo é Rouge'. “Mas tudo está muito empacado. Eles (donos da marca e investidores chegam a falar em uma turnê de seis meses, talvez um ano, e, para mim, isso seria um grande erro. Eu acho que tem que ser um grande show, dois no máximo, como um presente para os fãs e como despedida do grupo, já que nunca tivemos isso. Vai ficar ridículo a gente fazer 'Ragatanga' durante seis meses, pingando de cidade em cidade. Vamos acabar com a nossa carreira. Acho gostoso matar a saudade, honrar o fã, mas fazer turnê promovendo coisa infantil e antiga, não vai rolar. Portanto, estamos procurando uma forma de conciliar tudo isso”, alerta. Para ela, a grande magia do Rouge na época era a entrega total das integrantes e a paixão pelo que faziam. “Para a gente conseguir dar a mesma coisa e ter o mesmo sucesso, a gente tem que estar apaixonada da mesma forma que foi no passado. Mas nós crescemos, evoluímos.” Uma opção, garante Fantine, é mudar o estilo do grupo, adequando-o à musicalidade das demais integrantes (Lissah Martins, Karin Hils e Aline Wirley, atualmente, todas estrelas de musicais — Luciana Andrade, que deixou o grupo em 2004, não quis voltar). “Aqui na Holanda eu tenho liberdade total de subir no palco e tocar uma composição minha, fazer a minha música, e a galera valoriza a história que eu quero contar. É um público mais culto, mais exigente, e estou muito feliz. Por menor que seja meu público e o palco, a minha arte é maior, e essa liberdade vale muito mais. Podemos tentar isso como o Rouge, se eles quiserem.”