TEATRO

Falência da linguagem

Com Deborah Bloch, Os Realistas tem curta temporada na cidade; diretor Guilherme Weber, falou ao CadernoC

Delma Medeiros
14/09/2018 às 07:09.
Atualizado em 22/04/2022 às 04:05
Debora: decisão de montar no Brasil depois de assistir na Broadway (Divulgação)

Debora: decisão de montar no Brasil depois de assistir na Broadway (Divulgação)

A falência da linguagem e da comunicação é o fio condutor de Os Realistas, espetáculo que chega a Campinas para curta temporada no Teatro Iguatemi Campinas, após temporadas de sucesso no Rio de Janeiro e São Paulo e uma primeira turnê por capitais brasileiras. A montagem, que em inglês recebeu o nome de The RealisticJoneses, marcou a estreia do dramaturgo Will Eno na Broadway em 2014, após vários êxitos no teatro americano. Debora Bloch assistiu à montagem e decidiu que iria produzir o texto no Brasil. De posse dos direitos, uniu-se a Guilherme Weber, que pode ser chamado de “especialista” em Will Eno - ele ostenta o título de ator que mais encenou o dramaturgo no mundo. Weber assina a direção e atua no espetáculo, que tem ainda no elenco Debora Bloch, Emilio de Mello e Isabel Teixeira. “Eno tem um estilo específico, tanto que é chamado pela imprensa de “o Samuel Beckett da nova geração”. Ele aborda a falência da linguagem, mostra como a comunicação entra em colapso frente aos sentimentos. Trata-se de uma obra engraçada e rica, do gênero realista, em que os heróis dão lugar a pessoas comuns”, comenta Guilherme Weber, em entrevista por telefone à reportagem do Caderno C. Ele destaca que Os Realistas é a peça mais popular de Eno, que antes dela, apesar de vários sucessos, era restrito a espaços menores, off-Broadway, sem tanto acesso de público. Em cena, dois casais se encontram e descobrem coisas em comum. “Mas, o texto mostra ao mesmo tempo a relação que se estabelece entre eles e a falência da comunicação”, explica Weber. E o autor leva essa falência literalmente para a cena. “A trama traz um personagem sofrendo de uma doença que afeta o centro da linguagem. Ele coloca um personagem que, literalmente, está perdendo a capacidade de se comunicar”, aponta o diretor. Weber destaca ainda a capacidade de Eno de abordar temas existencialistas pelo viés da comédia. A relação de Weber com a obra de Will Eno começou em 2003, quando estrelou e assinou a criação, com Felipe Hirsch, da montagem brasileira de Temporada de Gripe. Depois, seguiu com ThomPain – Baseado em Nada, espetáculo indicado ao Pulitzer; e Lady Grey – Em Luz Cada Vez Mais Baixa (ambos de 2006), nas quais também atuou e dividiu a criação com Hirsch, e Ah, a Humanidade e Outras Boas Intenções (2013), reunião de cinco peças curtas do autor, em que atuou a assinou o projeto com Murilo Hauser.  Os Realistas marcou ainda o retorno de Debora Bloch à produção teatral, tarefa que abraçou em meados dos anos 80. Guilherme Weber conta que a vocação do dramaturgo surgiu quando, com cerca de 10 anos, assistiu a um espetáculo junto com seu pai, em que uma cadeira, presa a um fio de nylon, deveria sair do palco com um truque cênico, conduzida pelo fio invisível. “Só que deu errado, a cadeira caiu e teve que ser arrastada como um peixe morto. A atmosfera de medo e frustração que envolveu os atores e a plateia causou tal impacto em Eno que ele pensou: ‘Quero trabalhar para reproduzir essa sensação de perigo e exposição’”. Nesta segunda turnê, o projeto foi selecionado pelo Programa Petrobras Distribuidora de Cultura 2017/2018. “Isso nos permite apresentar o espetáculo a preços populares e com recursos de Libras e audiovisual”. 

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