Protesto contra fechamento de oficina cultural em Campinas ( Elcio Alves)
Artistas de Campinas se reuniram sábado na área externa do Centro de Convivência Cultural, no Cambuí, para uma manifestação engajada e pacífica contra o fechamento da Oficina Cultural Hilda Hilst (OCHH), que funciona na Rua Ferreira Penteado, anunciado para o dia 23 próximo pela Secretaria do Estado da Cultura, alegando reestruturação orçamentária. Trata-se de um programa do governo do Estado gerenciado pela organização social (OS) Poiesis - Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura. Segundo a organização, as atividades serão mantidas, passando a ser coordenadas pela Oficina Cultural Carlos Gomes, de Limeira. O evento, intitulado Exposição: Protesto Contra o Fechamento da Oficina Cultural Hilda Hilst, ocorreu entre as barracas da tradicional Feira de Artes e Artesanatos, atraindo atenção dos frequentadores. Fotografias, desenhos, pinturas e intervenções com objetos propunham a reflexão sobre a ação que levou a demissão de funcionários, o cancelamento de atividades que acontecem durante todo ano no espaço e, assim, levanta dúvidas quanto a manutenção da agenda. Para o artista plástico Álvaro Azzan, organizador da exposição-protesto, o intuito do ato é incomodar. “Os artistas devem se unir em ações comum para que assim haja embasamento maior”, afirma, referindo-se ao tema comum sobre a vida e obra da escritora e poeta Hilda Hilst que foi abordado na ocasião. Entre os manifestantes, estava o cartunista Bira Dantas, uma das referências do cartum nacional. “Estou muito estarrecido com o avanço da privatização na saúde, na educação, na cultura. Fico triste com tudo isso, porque tudo que se terceirização piora e quem paga por isso é a população”, afirma. Os fotógrafos Ricardo Lima e Touché, por sua vez, lembraram do apoio que a OCHH dava ao Festival Hércules Florence de Fotografia de Campinas, realizado anualmente na cidade. “O festival perde um apoio importante, pois ajudava a trazer profissionais de primeira linha ao evento”, diz Lima. “A oficina patrocinava dois ou três cursos durante o festival, nos quais vieram fotógrafos renomados”, completa Touché. A artista e estudante do centro, Marga Ledora, também lamenta o fechamento das portas. “A programação é excelente, a equipe é fantástica, tem equipamentos novos, recém-comprados. É um absurdo desmontar tudo aquilo”, diz a artista e estudante do centro Marga Ledora. De acordo com a Secretaria de Estado da Cultura, o serviço está sendo “reestruturado”, em função da readequação do orçamento estadual, e todas as atividades serão mantidas. Apesar da afirmativa, instrutores e participantes das oficinas vêem a medida com apreensão. “Descentralizar pode ser interessante para levar a outras regiões e outras pessoas que não tem acesso, mas tinha que ser mantida estrutura central, mesmo porque a equipe é ótima”, diz o João Bosco, que já participou de oficinas como aluno e como professor. Além de Campinas, foram desativadas sedes de Araraquara, Araçatuba, São João da Boa Vista, Bauru e uma em São Paulo, que funcionavam em prédios alugados. Após o comunicado do encerramento das atividades, o secretário municipal de Cultura, Ney Carrasco, informou que a administração se dispõe a ceder espaço para manter na cidade a coordenação e a realização de todas as oficinas programadas. No entanto, a organização social (OS) que gerencia o programa reiterou, por meio da assessoria de imprensa, que nada será alterado. Petição O anúncio do fechamento das oficinas culturais provocou uma série de mobilizações pela manutenção do programa, um dos mais bem sucedidos na oferta de atividades gratuitas de formação artística ao público em geral. Além da exposição-protesto, há a petição on-line "Não ao fechamento da Oficina Cultural Hilda Hilst" , hospedada no site Avaaz.org (httpd://secure.avaaz.org/pol), que será encaminhada ao governo do Estado de São Paulo. Até as 15h de ontem, 1.592 pessoas haviam assinado a petição, cuja meta é chegar a 2.000 adesões. Sem comemoração Oficialmente a OCHH completa 10 anos domingo, mas efetivamente está em atividade desde 2000, oferecendo oficinas, cursos, palestras e workshps nas áreas de artes cênicas, visuais, comunicação, moda, design, cultura digital, gestão cultural, literatura, marketing, patrimônio cultural e música. No ano passado, 1.412 pessoas foram atendidas nas atividades da Oficina Cultural Hilda Hilst. Entre as oficinas realizadas, um destaque foi a Produção de Websérie - Ficcção, realizada de abril a novembro. O projeto foi de realização de um audiovisual por meio de oficinas de roteiro, trilha musical, direção, cenografia, direção de fotografia, preparação de atores, som direto, desenho de som e edição. Outra foi campoexpandidoLAB_2014, um projeto de palestras e oficinas voltadas à discussão da imagem no campo das linguagens contemporâneas de fotografia e vídeo, realizada em agosto. Nas cinco unidades do interior que foram fechadas, 15.276 pessoas participaram das oficinas culturais em 2014. O contrato firmado entre a Secretaria do Estado da Cultura e a Apoiesis para gerenciamento do programa Oficina Cultural estabelece um repasse de R$ 134 milhões para desenvolvimento das oficinas até 2018. Pelo contrato, para o exercício de 2015 a estimativa de repasse à Organização Social é de R$ 24 milhões. Já a Apoiesis informa que o plano de trabalho ajustado com a Secretaria para 2015 prevê o repasse de R$ 19 milhões que serão gastos na programação cultural, pessoal e custeio.