A artista visual Antiopy Lyroudias visitou o bioma brasileiro e compartilha em exposição no Tote suas reflexões sobre o desmatamento e a exuberância das paisagens
São 41 obras, entre pinturas (óleo sobre tela), aquarelas, livro de artista, mapas e documentos (Divulgação)
Desde que chegou ao Brasil, mais especificamente em Campinas, em 2003, Antiopy Lyroudias mergulhou na atividade artística. Ela fez vários cursos, experimentou diferentes tipos de arte, foi conhecer locais e se encantou por encontrar fragmentos da Mata Atlântica no 'quintal' de casa. Identificou espécies na Mata Santa Genebra, em Joaquim Egídio e foi fotografar em detalhes aquelas que eram cultivadas pelo Instituto Agronômico. Mas não ficou satisfeita em apenas conhecer e reproduzir. Por isso, desde 2018 se dedica à pesquisa para mostrar a transformação da flora brasileira, mais especificamente a da Mata Atlântica, desde a chegada dos europeus no Brasil no século XVI até os dias atuais. O resultado pode ser conferido na mostra "Mata Atlântica em paisagens visuais" que abre neste sábado, 18, no Tote Espaço Cultural, em Sousas.
São 41 obras, entre pinturas (óleo sobre tela), aquarelas, livro de artista, mapas e documentos. "Eu não quis mostrar só a destruição, mas também a grandeza da Mata Atlântica", destaca a artista. Mas além da questão exótica e da beleza dessa vegetação, ela não se esquiva de apontar para a exploração desenfreada que a floresta sofreu ao longo dos séculos. Evidencia também o que o cultivo de café, açúcar e outras plantações contribuíram para a extinção da flora atlântica de grandes áreas no território, mas principalmente da costa brasileira, que tem boa parte invadida pela criação de cidades. Esta é a floresta nacional mais desmatada e hoje restam apenas 15% da floresta nativa em todo o território nacional.
Acostumada aos jardins simétricos criados por paisagistas em cidades europeias, ter a natureza ao seu alcance fez com que a artista aderisse às caminhadas em regiões com remanescentes da Mata Atlântica para alimentar seu processo criativo, expandindo a linguagem da pintura para a fotografia. Sob a curadoria de Isabela Senatore e Andrés I. M. Hernández, a mostra apresenta uma coleção de obras de arte que refletem a descoberta de um mundo quase fantástico na sua visão. "Desvendar a Mata Atlântica foi um momento deslumbrante. Principalmente porque eu vim de um ambiente urbano em que a natureza é controlada pela mão humana, onde tudo é organizado e desenhado geometricamente. Estar no meio da mata pisando o chão de terra, observando as árvores imensas em todas as suas proporções, encontrar folhas gigantes e uma infinidade de tonalidades de verde, me deixaram fascinada", afirma Antiopy
DO PAU-BRASIL À FRANÇA
Antiopy Lyroudias ampliou sua pesquisa a partir do seu interesse pelo Pau-Brasil, que coincidentemente recebeu o nome de Caesalpinia echinata do francês Lamarck em 1785, mas hoje cientificamente é chamado de Paubrasilia echinata. Em sua primeira mostra individual "Pau-Brasil - Vermelho como brasa", de 2021, a artista já mostrava a questão da flora brasileira e sua representação nacional. Partindo desse ponto, Lyroudias aprofundou seus estudos e foi buscar as relações Brasil e França, especificamente nos séculos XVI e XVII, período de invasões da costa brasileira pelos europeus, entre eles os franceses, e percebeu que não há registros formais na memória coletiva da França e do Brasil sobre esses episódios. "Talvez tenham conhecimento da presença francesa já no século XIX. Esse levantamento histórico foi muito importante para o desenvolvimento das minhas obras", explica.
Segundo o que apurou, houve, na verdade, uma forte presença francesa no Brasil com o intercâmbio de produtos entre os dois países durante os séculos XVI e XVII, em particular do Pau-Brasil, item muito utilizado em construções de castelos e objetos decorativos que existem ainda hoje na França. Outra área do comércio que também teve muito interesse pela árvore-símbolo do Brasil foi a indústria têxtil, que a utilizava para o tingimento de tecidos. "Ao conectar os países da sua vida (França e Brasil), ela conseguiu localizar em um museu um mapa - que está na exposição - que mostra a rota das navegações, os locais que os franceses acessaram, as tribos que tiveram contato, e vários detalhamentos históricos importantes", comenta Isabela Senatore, orientadora da artista e cocuradora da mostra, que acompanha a pesquisa desde 2018.
BELEZA E REFLEXÃO
"A arte de Antiopy é sobre as suas vivências e suas raízes em dois países: Brasil e França. Cada passeio dentro da Mata Atlântica foi um encantamento, um deslumbramento para produção de imagens que se tornariam obras que contam uma história. As obras são fortes, intensas, carregadas de cores e de detalhes das plantas gigantescas", diz Isabela. Já Andrés I. M. Hernández avalia que "a artista coloca público em um lugar de reflexão projetada artisticamente solicitando, pertinentemente, um posicionamento sobre nosso papel como seres humanos na sociedade contemporânea com relação à instrução, à preservação ambiental e às consequências da conscientização da urbanização desenfreada e da necessidade de preservar, tendo a Mata Atlântica, e sua grandeza, e o Pau-Brasil, como faísca discursiva, como referentes e que a alcançam em metáforas transitórias do passado ao presente, do que foi e o que é, agora como um registro atualizado do tempo, da memória, da história a partir das artes visuais".
Antiopy Lyroudias tem origem francesa e raízes gregas e colombianas, mas vive em Campinas há 20 anos - para onde se mudou acompanhando o marido executivo. Desde 2010 ela passa alguns meses do ano em Berlim, onde moram os filhos. É graduada em francês latim e grego clássico pela Sorbonne (França), tem doutorado em literatura francesa pela Eberhard Karl Universidade de Tübingen (Alemanha) e sua formação em Artes Visuais teve início em 2013 no Ateliê de Vera Ferro, em Campinas, de onde partiu para variadas artes e, nos últimos anos, passou a se dedicar à fotografia com Isabela Senatore. Participou de seminários sobre arte contemporânea com Hernández e hoje faz parte do grupo internacional Broken Forests, formado por artistas e curadores que apoiam as visões e ideias para projetos que visem a preservação e proteção do mundo natural.
PROGRAME-SE
Exposição "Mata Atlântica em paisagens visuais"
Quando: abertura no sábado, 18/11, das 11h às 17h, e visitação de 20/11 a 7/12, com agendamento pelo telefone (19) 98351-0084
Onde: Tote Espaço Cultural - Av. D. Maria Franco Salgado, 260, Sousas
Entrada Gratuita
Informações: Instagram @toteespaçocultural e @antiopy
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