Mostra pode ser visitada gratuitamente na sede da Cocen da Unicamp até o dia 13 de janeiro
Maria da Glória Bardi, colecionadora fotográfica e servidora aposentada da Unicamp, teve a iniciativa de coletar fotos guardadas por amigos e conhecidos que frequentavam bailes antigamente (Divulgação)
Até o dia 13 de janeiro, a exposição "Bailes Negros: Sociabilidades e Resistência em Campinas" pode ser visitada na sede da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (Cocen) da Unicamp. A mostra, que começou no dia 21 de novembro para inaugurar o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da universidade, está nos seus últimos dias e tem entrada gratuita.
A exposição começou a partir da iniciativa de Maria da Glória Bardi, colecionadora fotográfica e servidora aposentada da Universidade. "Eu comecei a perguntar para as pessoas se elas tinham fotos antigas e fui tendo a ideia. Não sei nem porque ela surgiu, mas a ideia de trazer a nossa história de festas", explica Maria, que é uma mulher negra. Ela conta que ouviu muitas histórias de amigos e conhecidos dos bailes frequentados e foi quando decidiu coletar as fotos que essas pessoas guardavam. "Alguns ainda estão vivos, na faixa dos 80 anos para cima, mas lembram das festas maravilhosas, das roupas, como o black tie que os homens usavam", completa a colecionadora.
As fotos foram então organizadas pelo Centro de Memória Unicamp (CMU) em parceria com o Neab, com coordenação geral de Ana Cláudia Cermaria e curadoria das bolsistas Emily Vitória Alves Nogueira e Georgia Maria Gonçalves Ferreira. Entre as imagens, estão registros do histórico concurso Pérola Negra, criado por Laudelina de Campos Mello — que lutou pelos direitos trabalhistas para as empregadas domésticas — e realizado pela primeira vez em 1957.
Segundo a coordenação da exposição, as fotos evidenciam os bailes não só como lugares de festividades, mas também de resistência, de afirmação cultural e de identidade. "Achei incrível que a gente pudesse falar sobre a população negra para além do espaço de dor e sofrimento. Aqui o nosso olhar está no momento de lazer, de alegria, de cultura e festividade", comenta a curadora Ana Clara Benfica.
Ana explica que alguns espaços tradicionais da cidade não eram lugares com acesso fácil para a população negra na época e que graças à pesquisa foram clubes alternativos que viraram refúgios, como o Clube Machadinho. "Não temos espaços que falem sobre essas festas, como o Pérola Negra", afirma.
Emily Vitória Alves, curadora da mostra, também acredita que esses lugares eram espaços de resistência. "É uma forma de resistência apagada da história, não de Campinas, mas de muitos lugares do Brasil. Essas pessoas estavam vivendo e celebrando as vidas".
A mostra "Bailes Negros: Sociabilidades e Resistência em Campinas" é a primeira iniciativa do projeto "Histórias Negras: Registros Orais para a desinvibilização da presença negra em Campinas (1930- 1970)" do Serviço de Difusão Cultural do Centro de Memória da Unicamp (CMU).
PROGRAME-SE
Mostra ‘Bailes Negros: Sociabilidades e Resistência em Campinas’
Quando: até 13 de janeiro; segunda a sexta, das 8h30 às 17h30
Onde: Sede Cocen Rua Saturnino de Brito, 323, Unicamp, Barão Geraldo, Campinas
Entrada gratuita
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