TEMPOS DE LEMBRANÇA

Exposições em Campinas usam fotos, imagens, roupas e bordados para uma viagem ao passado

As mostras "Desexistir" e "Tecido pelo Tempo" serão inauguradas nesta sexta-feira, às 19h, no Tote Espaço Cultural e Espaço 800

Cibele Vieira/ [email protected]
15/09/2023 às 09:37.
Atualizado em 15/09/2023 às 09:37
Quadro de Cecília Randon que integra a mostra “Tecido pelo Tempo” (Divulgação)

Quadro de Cecília Randon que integra a mostra “Tecido pelo Tempo” (Divulgação)

O efeito do tempo na vida e nas reflexões de dois artistas maduros rendem duas mostras interessantes e, coincidentemente, inauguradas na mesma data. Enquanto o Tote Espaço Cultural, em Sousas, inaugura a exposição "Desexistir", em que Edson Françozo relata por meio de fotos de família refotografadas por uma câmera Pinhole (artesanal) o processo de demência da mente humana, na galeria Espaço 800, no Guanabara, a artista carioca Cecilia Rondon pinta o tempo, com tintas e linhas de costura. As duas mostras serão inauguradas às 19h.

A DEMÊNCIA DAS IMAGENS

Ao se aposentar como professor universitário de Linguística na Unicamp, Edson Françozo recuperou a prática da fotografia, uma atividade à qual se dedicava na juventude. Naquela época as câmeras eram analógicas e ele chegou a ter um laboratório doméstico de revelação de filmes, mas ao retomar a atividade recentemente, passou a lidar com equipamentos digitais, impressões em fine art e outros recursos tecnológicos avançados. Ao passar pelo processo de luto de uma pessoa da família que foi acometida pela demência, ele refletiu sobre como mostrar esse "apagamento" de memória por meio do trabalho fotográfico. Foi quando, orientado pela artista visual, fotógrafa e curadora Lilian Barbon, buscou formas de ressignificar fotos da própria família, que estão expostas de forma sensível e criativa, após passar por processos de envelhecimento.

"Observei como a memória se reconstrói ou se perde, tornando a pessoa demente desorientada, com dificuldade para se situar ou organizar no tempo e no espaço. Para traduzir essas sensações em imagens, comecei a fazer sobreposições de fotos da mesma pessoa em idades diferentes, refotografando com a câmera artesanal para ter o efeito de envelhecimento. Foi quando surgiu o nome da exposição, 'DesExistir', pois parece que a pessoa vai deixando de existir quando sua memória - e no caso as imagens das fotos - começam a desaparecer", diz.

Além de grandes murais com fotos trabalhadas nesse processo, ele usou o verso das imagens - onde antigamente eram registradas a identificação da imagem, datas e dedicatórias - para imprimir poemas de sua autoria. Com essas montagens, o artista convida os visitantes do Espaço Cultural Tote a "caminhar em meio a espectros e ausências, e a perceber a potencialidade do tempo, tanto em sua passagem como em suas desordens e anacronias".

Obra de Edson Françozo que faz parte da exposição “DesExistir” (Divulgação)

Obra de Edson Françozo que faz parte da exposição “DesExistir” (Divulgação)

O COLORIDO DE PINCÉIS E AGULHAS

"O tempo é uma linha que vai sendo costurada enquanto a vida passa", diz Cecília Rondon, que tece com delicadeza suas histórias usando tintas e linhas. O tempo sempre foi o tema principal da artista visual, que por meio da pintura fez sua carreira no Rio de Janeiro. Ao se mudar para a cidade de Vinhedo, há cerca de dois anos, ela decidiu expor parte de suas obras para conhecer e interagir com o público campineiro. O curador da mostra, Beto Mallmann, diz que "o tecido é pano de fundo para restaurar memórias de ancestralidade e ela transforma em obras sensíveis e belas as toalhas de mesa, lençóis e vestidos que foram usados por gerações e trazem significados profundos". Assim é a exposição "Tecido pelo Tempo", na galeria Espaço 800.

Cecília pinta e borda suas lembranças criando um diálogo afetivo com os visitantes. A mostra tem 14 obras, parte delas da série "Despedida", formada por quadros e caixas de acrílico com tecidos e um vestido. "Na pintura temos cor, forma e linha. O bordado é a linha, e atua como se fosse um pincel, é a pintura bordada", diz a artista. Através da pintura - sua principal linguagem - do bordado e da costura, Cecília aproveita fragmentos de histórias, tecidos, palavras e vestimentas para criar uma arte que usa o tempo como tema principal. "Sempre foi assim, eu tentando pintar o tempo, a ancestralidade", diz. Ela já participou de várias mostras e projetos artísticos no Brasil e no exterior, mas é sua primeira exposição em Campinas. A artista fez parte da geração anos 1980 da Escola de Arte do Parque Lage, RJ, movimento referência de arte contemporânea do Rio de Janeiro.

PROGRAME-SE

Mostra "DesExistir" de Edson Françozo

Quando: abertura na sexta-feira, 15/9, às 19h, e visitação de 16/9 a 14/10 (sob agendamento pelo tel.: 19 98351-0084)

Onde: Tote Espaço Cultural - Av. Maria Franco Salgado, 260, Sousas

Entrada Gratuita

Informações: Tel (19) 98351-0084 Instagram @toteespacocultura

Mostra "Tecido pelo Tempo" de Cecilia Rondon

Quando: abertura na sexta-feira, 15/9, às 19h, e visitação de 15/9 a 25/10, de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h

Onde: Espaço 800 - R. Frei Antonio de Pádua, 800, Guanabara

Entrada Gratuita

Informações: (19) 99773-3120 Instagram @espaco800.ar

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por