CADERNO C

'Estranho Familiar' é mosaico do cotidiano

Espetáculo entrelaça questões ligadas a emoções humanas, preconceitos, marginalidade e valores latinos, em duas exibições gratuitas no CIS Guanabara

Cibele Vieira/[email protected]
24/06/2025 às 14:16.
Atualizado em 24/06/2025 às 14:16
A montagem foi criada pelo Coletivo Humana Existência, reunindo vivências e cenas do dia a dia para representar a exclusão e desumanização de alguns segmentos sociais (Rebeca Schumacker)

A montagem foi criada pelo Coletivo Humana Existência, reunindo vivências e cenas do dia a dia para representar a exclusão e desumanização de alguns segmentos sociais (Rebeca Schumacker)

Uma colagem de textos e de canções dá a base para o espetáculo "Estranho Familiar", que aborda emoções humanas universais e dilemas existenciais enraizados no contexto latino-americano. A montagem da peça, no Armazém do CIS Guanabara, permite que a plateia participe espontaneamente da apresentação em alguns momentos. A exibição acontece amanhã (dia 25) e quintafeira (dia 26), às 20h, com acesso exclusivamente pelo estacionamento, que é gratuito. Não haverá venda de ingressos (a contribuição é voluntária), mas a reserva pode ser feita pelo Instagram @humana.existencia ou pela plataforma Sympla. 

Criada pelo Coletivo Humana Existência, a montagem reúne vivências e cenas do cotidiano para representar a exclusão e desumanização de alguns segmentos sociais e propõe um movimento, como o do mosaico do caleidoscópio, para reconfigurar algumas relações, criando novos contextos. Em uma experiência estética ousada e sensível, o espetáculo convida à reflexão sobre pertencimento, marginalidade e humanidade, a partir do olhar de quem vive em uma terra de exploração e apagamento. Esta é a estreia da segunda temporada da peça. 

O diretor Ricardo Moreira foi buscar seu personagem na obra de Freud, que trabalha a questão do inconsciente, e isso deu origem ao título da montagem. "Como é algo que existe, nos é familiar. Mas está no inconsciente, portanto tem estranhamento à medida que a gente tem lapsos de reconhecimento", explica. Esse é o conceito que ele leva para o palco com a ideia de discutir os grupos que são minorias sociais, excluídos ou marginalizados na sociedade, principalmente das grandes cidades, onde sofrem todo tipo de preconceito, afirma.

UM COLETIVO COM FOCO 

O coletivo de artistas se formou em junho de 2024, embora seus integrantes se conhecessem de outras montagens de pequenos grupos ou companhias diferentes. 

"Tínhamos a necessidade de ter um espaço — em seu conceito mais amplo — para fazer o teatro que queríamos e falar sobre as vozes do Brasil profundo. Com essa proposta, reunimos 24 pessoas que deram origem a esse trabalho, ampliando nossa escuta para a América Latina", conta o diretor. 

Ele se refere a questões como gênero, idade, deficiências, dependentes químicos e outros que entrelaçam as emoções humanas universais, como o amor, a alegria, a tristeza, a dor, a esperança e a finitude da vida. Para Ricardo, o coletivo tem a proposta de diversidade e seus integrantes têm identidades diversas sob todos os pontos de vista, o que facilita o propósito de dar visibilidade a essas questões que são familiares, mas ainda causam estranhamentos. 

MONTAGEM INOVADORA 

Ricardo Moreira assina a direção e o roteiro do espetáculo, mas explica que fez uma colagem teatral de fragmentos com canções e textos, gênero introduzido no Brasil por Millôr Fernandes na segunda metade do século passado. A música faz parte da narrativa e é necessária para ajudar a contar a história, costurando canções e textos. "São mais de 30 autores e mais de 50 compositores dos quais usamos pequenos trechos", diz Ricardo. 

Entre os autores, estão, por exemplo, Pablo Neruda, Rubem Alves, Guilherme de Almeida, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Henrique Vieira, Paulo Freire e outros. Entre os compositores, ele cita o grupo 14Bis, Chico Buarque, Piazzola, Vanessa da Mata, Gonzaguinha, Paula Toller, Gilberto Gil, Gloria Groove, Guilherme Arantes, Raul Seixas, Villa Lobos e Pedro Abrunhosa (compositor português). 

A estética da montagem remete à concepção de teatro épico de Brecht, que provoca quebras da emoção para levar à reflexão. "A dinâmica de sucessão de trechos de textos e músicas no espetáculo se dilui em quebras que acontecem durante o espetáculo, que tem 1h40. "Em função de determinados aspectos do espetáculo, como o local onde as pessoas estão sentadas, elas têm mais visibilidade de alguns detalhes e personagens, o que tem feito algumas pessoas a voltarem para ver de outro lugar", conta o diretor. 

Como a plateia fica muito próxima e no mesmo nível que o elenco, por alguns momentos o público se sente convidado a participar, embora não exista um convite explícito para isso. O diretor ressalta, entretanto, que tudo acontece espontaneamente e sem nenhum tipo de constrangimento ou provocação para que as pessoas participem. Nesse aspecto, ele comenta que o CIS Guanabara tem o espaço ideal para isso e elogia o sistema de apresentação de projetos para a ocupação do espaço, tanto as salas de ensaio como o espaço de apresentações.

PROGRAME-SE 

Espetáculo ‘Estranho Familiar’ 

Quando: Amanhã, dia 25, e Quinta, dia 26, às 20h 

Onde: Armazém do CIS Guanabara, Rua Mário Siqueira, 829, Botafogo, Campinas 

Estacionamento gratuito 

Entrada Gratuita 

Contribuição voluntária 

Reservas podem ser feitas pela plataforma Sympla 

Informações: Instagram @humana.existencia

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