Bailarinos com diferentes tipos de limitações quebram ideias preconcebidas sobre pessoas com deficiência e mostram que no palco há espaço para todos brilharem
Cena do espetáculo de dança: "Ciranda de Retina e Cristalino" (Mauro Machado)
O espetáculo "Ciranda de Retina e Cristalino" chega ao Teatro do Sesi Amoreiras, em Campinas, com uma proposta diferente. Com um elenco marcado por características únicas - como a baixa visão, o nanismo ou a paralisia de membros - a dramaturgia parte de personagens com deficiências tanto estéticas quanto nos acompanhamentos cenográficos - bengalas, cadeira de rodas, espelhos - com a proposta de tornar comuns as visões que partem de mundos diferentes. "Não é abordar os problemas para criar uma certa empatia ou pesar, mas enaltecer a diversidade e mostrar que há brilho, alegria e ludicidade nesse contexto", explica Anderson Vieira, um dos produtores. As apresentações são gratuitas às quintas, sextas e sábados em dois finais de semana de fevereiro (8, 9 e 10; 22, 23 e 24).
Fernanda Amaral é a diretora, coreógrafa e bailarina da companhia "Dança sem Fronteira" que montou o espetáculo e há 20 anos trabalha com uma metodologia chamada DanceAbility. É um método internacional de dança contemporânea criado em 1987 nos Estados Unidos com a filosofia de possibilitar a dança para qualquer pessoa. "É um método que não isola ninguém, independente das condições físicas ou cognitivas", explica Fernanda. Para ela, é como usar a arte com a missão de mudar as ideias preconcebidas das pessoas sobre deficiências. A diversidade da peça de 60 minutos, que não tem texto em cena, se completa com corpos diferentes no gênero, na cor da pele, no tamanho e nas deficiências, para que o público se sinta representado no palco e se identifique com a histórias, além do elenco que precisa conquistar seu respeito em cena.
"O diferencial desta apresentação é usar a diversidade para explorar a narrativa sob a perspectiva de uma pessoa com deficiência, mas fora do lugar comum", acrescenta Anderson, que promove e acompanha o espetáculo há um ano e meio pela produtora Corpo Rastreado. Ele ressalta a peça como uma reparação histórica. "É preciso tirar essa ideia errônea do imaginário coletivo de que as pessoas com alguma deficiência são limitadas e doentes". A proposta da montagem é falar sobre equidade, poesia, beleza estética, dissociando a visão pesada e dolorosa destas condições. "Usamos elementos e tecnologias no cenário que se tornam símbolos imagéticos, como rodas, espelhos, exploramos a baixa visão, mostramos bengalas luminosas, tudo isso para tirar daquele ambiente pesado de dor e levar à projeção do quanto essa atuação pode ser potente, do quanto a cadeira de rodas, por exemplo, pode ser lúdica", comenta.
PERSONAGENS ESPECIAIS
A montagem de "Ciranda de Retina e Cristalino" tem personagens muito diferentes. Entre eles a Retina, mulher com baixa visão que baila atrás de sua janela; o Cristalino, um jovem também com baixa visão que se equilibra fazendo malabarismos na penumbra com sua bengala verde e sua roda iluminada; a Cecília, uma jovem que baila com seu olho no formato de uma roda com grandes cílios e a dupla Iris e Corneia, dançarinas com duas faces, que dançam e refletem suas imagens em um grande espelho desfocado dançando em sua cadeira de rodas. Todos são isolados em seus círculos, mas conectados pelas narrativas corporais que as vezes se unem em uma só coreografia formada pela diversidade de corpos e olhares que os levam a uma grande ciranda da memória.
As composições coreográficas são cuidadosamente desenhadas com as formas dos bailarinos e suas características únicas, juntamente com a trilha sonora e a iluminação, que delimitam espaços com diversas movimentações. Os produtores explicam que confrontam esses olhares, vivências e adaptações dos bailarinos aos novos tempos de afastamento social e encontros através de telas. Outro elemento poético na obra é o círculo, a roda que gira, gira e dá voltas, rodando na ciranda da memória e lembrando a ciranda sem fim, como diz a letra da canção composta por Fernanda Amaral e Wagner Dias. A peça não tem diálogos, apenas a letra dessa ciranda cantada, que terá na sexta (dia 9) e no sabado(dia 24) tradução na linguagem de sinais.
DANÇA SEM FRONTEIRAS
A Cia. Dança sem Fronteiras foi criada em 2010, em São Paulo, pela bailarina, coreógrafa e educadora Fernanda Amaral. Desde sua criação, a companhia se apresenta em mostras e festivais nacionais e internacionais presencialmente e online e já montou doze espetáculos com apresentações em teatros, museus e espaços abertos, sendo contemplada por editais e prêmios nacionais e internacionais. Regularmente a companhia também realiza e produz videodanças, participando de mostras e festivais no Brasil e em outros paises.
No elenco estão Ana Mesquita, Carmen Estevez, Cinthia Domingues, Fernanda Amaral, Gabriel Domingues, Lucinéia Felipe dos Santos, Rafael Barbosa, Cintia Domingues. A música original, arranjos e performances instrumentais são de Sérgio Zurawski, da Bipolar Studio e a iluminação é de Fellipe Oliveira. Outras informações sobre o espetáculo: https://dancasemfronteiras.com.br/ciranda-de-retina-e-cristalino/
PROGRAME-SE:
Espetáculo de dança: "Ciranda de Retina e Cristalino"
Quando: quintas, sextas e sábados, dias 8,9,10, 22,23 e 24/02
Onde: Teatro do Sesi Campinas - Av. das Amoreiras, 450 - Vila Rialto
Entrada Gratuita - ingressos podem ser reservados pelo site Meu Sesi
Informações: Tel.: (19) 3772 4100 - Instagram @dançasemfronteiras
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