neste sábado

Espetáculo baseado na cultura africana chega ao Sesc Campinas

Apresentação de dança “Iku” discute os significados do fim da existência humana

Aline Guevara
06/05/2022 às 10:01.
Atualizado em 06/05/2022 às 10:21
Antes de ser apresentado nos palcos, o espetáculo "Iku" foi filmado durante exibição na praia de Guaratuba, em Bertioga (Raoni Reis)

Antes de ser apresentado nos palcos, o espetáculo "Iku" foi filmado durante exibição na praia de Guaratuba, em Bertioga (Raoni Reis)

"Iku", dentro da mitologia e das culturas africanas e afro-diaspóricas, significa morte. Como explica o coreógrafo, bailarino e diretor teatral Djalma Moura, é o orixá responsável por levar o nosso sopro da vida para outros planos. É a partir deste conceito que foi idealizado o espetáculo de dança "Iku", que será apresentado neste sábado (7), às 16h30, no teatro do Sesc Campinas. 

"Quando começamos a pensar o espetáculo, nossa ideia era falar sobre morte no contexto das políticas de morte do Estado e necropolítica, mas veio a pandemia e ficamos muito mexidos com tudo o que foi acontecendo", lembra o diretor sobre o início de "Iku" dentro do Núcleo Ajeum, grupo de artistas da periferia sul de São Paulo. Eles partiram da visão de seu corpo negro sobre o mundo e da ancestralidade africana para traduzir muitas das angústias deste período em relação à perda da vida. "O nosso trabalho foi ganhando um outro caminho, o de entender o fluxo da vida, a construção das nossas comunidades, o equilíbrio delas e, ao mesmo tempo, o desequilíbrio que ocorre quando alguém parte", explica. 

O espetáculo discute como a estrutura de uma sociedade é estabelecida a partir do rompimento, da perda de alguém do seu meio, e como o coletivo precisa se organizar para se manter vivo, pulsante. A resposta, segundo os idealizadores do projeto, é celebrar aqueles que nos deixaram e fazer da lembrança deles uma presença viva na memória dos que ficam.

Riqueza coreográfica 

A coreografia de "Iku" traz a representação dos ciclos da vida em harmonia e o consequente rompimento com o esvaziamento provocado pela morte, ao mesmo tempo que é um percurso recorrente natural. Toda a ideia é inspirada nas culturas africanas dos povos iorubás - grande parte da população afrodescente brasileira é descendente destes grupos.

O espetáculo conta com seis bailarinos, inclusive Djalma, que ao longo dos 50 minutos de duração interpretam a coreografia pensada para transmitir todos estes significados. Mas além da própria compreensão da morte, "Iku" traz os múltiplos entendimentos que o fim de um ciclo de vida pode ter para a sociedade. "É um orixá que está sempre em trânsito, em movimento. Para cada pessoa pode representar uma coisa. Para alguns dá medo, em outros causa repulsa, uns veem como parte da natureza e outros ainda conectam com leveza e tranquilidade", conta o diretor, explicando alguns dos vários conceitos de visão da morte trazidos para dentro da apresentação. 

A morte e a vida

Ainda que fale de morte, "Iku" discute muito sobre a vida. Foram usados alguns conceitos do escritor e filósofo Wanderson Flor do Nascimento, que definiu "ikupolítica". "Esse entendimento dele fala das possibilidades de ter uma boa vida, mas também a dignidade de ter uma boa morte", cita Djalma. Para ele, todo o processo de desenvolvimento do espetáculo também foi um caminho de cura e de saúde do grupo. "Conseguimos falar dos nossos ancestrais, família e amigos, de uma maneira mais leve e celebrativa em contraponto com a pesada onda de mortes que vivemos na pandemia. Era um luto que não tinha sido encerrado e conseguimos revisitar isso".

Além do espetáculo teatral, que será apresentado pela primeira vez em Campinas, "Iku" foi encenado em 2021 na praia de Guaratuba, em Bertioga, São Paulo, e gravado como filme.

Programe-se

Espetáculo de dança "Iku"

Quando: sábado, 07/05, às 16h30

Onde: Teatro do Sesc Campinas - Rua Dom José I, 270/333, Bonfim

Ingressos: a partir de R$ 9,00 na bilheteria local

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