ALEMANHA

Escritor critica desigualdade na Feira de Frankfurt

O vice-presidente Michel Temer acabou vaiado por parte da plateia que compareceu ao evento

Da Agência Estado
09/10/2013 às 11:43.
Atualizado em 25/04/2022 às 00:42
Feira de Frankfurt entra em sua 65.ª edição como maior feira de livros do mundo (France Presse)

Feira de Frankfurt entra em sua 65.ª edição como maior feira de livros do mundo (France Presse)

Antes de embarcar para Frankfurt, o escritor Luiz Ruffato, um dos preferidos dos leitores alemães, já tinha dito que seu discurso de abertura da 65.ª edição da maior feira de livros do mundo incomodaria. E incomodou na mesma medida em que encantou o público ao fazer referências à história e à situação atual do País. Pouco depois, em sua fala, o vice-presidente Michel Temer acabou vaiado por parte da plateia que compareceu ao evento. “O que significa ser escritor num país situado na periferia do mundo, um lugar onde o termo capitalismo selvagem definitivamente não é uma metáfora? Para mim, escrever é compromisso.” Foi assim que Ruffato começou sua fala, em que resgatou as raízes do País e tratou da violência e da discriminação em todas as suas formas. “Nascemos sob a égide do genocídio”, disse. E foi além: “Se nossa população é mestiça, deve-se ao cruzamento de homens europeus com mulheres indígenas ou africanas - ou seja, a assimilação se deu através do estupro das nativas e negras pelos colonizadores brancos.” O escritor não economizou em estatísticas de violência e de suas consequências, sem deixar de ressaltar que houve avanços. E terminou seu discurso dizendo que acreditava, “talvez ingenuamente”, no papel transformador da literatura. “Filho de uma lavadeira analfabeta e de um pipoqueiro semianalfabeto, eu mesmo pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro mecânico, gerente de lanchonete, tive meu destino modificado pelo contato, embora fortuito, com os livros. (...) E se a leitura de um livro pode alterar o rumo da vida de uma pessoa, e sendo a sociedade feita de pessoas, então a literatura pode mudar a sociedade.” Ruffato foi aplaudido por exatamente um minuto - algumas pessoas aplaudiram de pé. Nenhum dos presentes - a maior autoridade da Alemanha foi Guido Westerwelle, ministro das Relações Exteriores que defendeu uma cadeira permanente para o Brasil no Comitê de Segurança da ONU e elogiou o recente discurso sobre espionagem feito pela presidente Dilma Rousseff nos Estados Unidos -, conseguiu tal feito. O vice-presidente Michel Temer, por sua vez, foi até vaiado ao final de sua fala. Talvez inspirado pelo discurso de Ruffato, talvez para responder às firmes críticas que o escritor fez ao Brasil, Temer decidiu contar parte de sua história de vida, mais precisamente a de sua transformação em leitor. Foi uma professora que dizia que a literatura o levaria para longe de onde morava a sua grande inspiradora. Temer falou sobre política, democracia, o País hoje. “O Brasil cresceu muitíssimo num prazo mínimo de 25 anos. É interessante ver que pessoas que estavam na quase pobreza absoluta cresceram socialmente. E, hoje, aqui, nós tivemos mais um exemplo disso.”

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