música e amizade

Entre as feras da música

Paulo Pugliesi faturou o troféu de melhor arranjador na categoria Música Regional pelo seu trabalho no disco Clareia, do também campineiro Zeza Amaral

Rogério Verzignasse
02/06/2018 às 18:52.
Atualizado em 28/04/2022 às 11:02
Paulo Pugliesi, um dos fundadores do Departamento de Música da universidade, coleciona vários troféus, entre eles o disputado Prêmio Sharp (Divulgação)

Paulo Pugliesi, um dos fundadores do Departamento de Música da universidade, coleciona vários troféus, entre eles o disputado Prêmio Sharp (Divulgação)

Há exatos 30 anos, as câmeras do Brasil inteiro estavam voltadas para o auditório do elegante Hotel Nacional, do Rio de Janeiro. Astros da música chamados ao palco recebiam o cobiçado Prêmio Sharp, que, em sua primeira edição, prometia se tornar o Grammy brasileiro. E, entre feras do quilate de Tom Jobim, Milton Nascimento, Cazuza e Luiz Gonzaga, brilhou um campineiro. Paulo Pugliesi faturou o troféu de melhor arranjador na categoria Música Regional pelo seu trabalho no disco Clareia, do também campineiro Zeza Amaral, cidadão que hoje tem uma legião de fãs escrevendo crônicas no Correio Popular.  Bem, mais que uma reportagem sobre música, na verdade esta é uma matéria sobre a amizade fraterna entre os dois, e sobre a carreira profissional de um cidadão que encarou modismos de uma época para se tornar um instrumentista respeitado - com cadeira em orquestras consagradas - e com atuação decisiva na organização do Departamento de Música da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Pugliesi, hoje, mora em uma chácara no bairro Guará, em Barão Geraldo. No estúdio, ele guarda troféus, discos, instrumentos. Tem a vida pacata de quem, aos 70 anos, prefere ficar bem longe da barulheira e da poluição do Centro. E, ali dentro, cada peça preserva uma memória. O cenário lhe remete, por exemplo, aos nebulosos anos 60. Enquanto coturnos e mosquetões davam ordens, a garotada ouvia The Beatles e se divertia cantando e tocando em bares. Pugliesi, adolescente ainda, ri ao lembrar dos músicos caretas que faziam passeata no Rio contra a guitarra. Mas, ironia do destino. Teve uma noite em que o rapaz, roqueiro assumido, foi ao inesquecível restaurante Armorial e assistiu à apresentação de um conjunto fantástico. Tinha Arnoldo no piano, Cavaletti na bateria e Ditinho dos Santos no contrabaixo. Era aquela música comportada, elegante, no estilo do consagrado Zimbo Trio. E não é que o roqueiro se apaixonou? E o detalhe principal. O baixista, Ditinho, de ofereceu para ensinar ao rapaz os segredos do instrumento. Tudo de graça. As aulas aconteciam na casa do adolescente, lá no Botafogo. Pronto. A solidariedade revelou um talento. Pugliesi, de imediato, conseguiu uma cadeira na antiga Sinfônica de Campinas, que tinha como regente o maestro Luiz de Tullio. Era um menino, de 20 e poucos anos, no meio de instrumentistas experientes, de cabelos brancos. Dali, o jovem brilhou na Sinfônica de São Paulo por dois anos, regido por Eleazar de Carvalho. E, já conhecido e respeitado, foi contratado pela Unicamp e ajudou a fundar os cursos de música erudita e música popular.

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