Nove anos atrás, Fábio Porchat e o diretor Ian SBF escreveram o primeiro tratamento do roteiro de Entre Abelhas
Fábio Porchat com Irene Ravache em cena do longa Entre Abelhas: brincando, ator diz que participação de atriz "deu credibilidade" ao filme ( Divulgação)
Nove anos atrás, Fábio Porchat e o diretor Ian SBF escreveram o primeiro tratamento do roteiro de Entre Abelhas (Brasil, 2014). Até pensaram em elenco que, por questões éticas, evitam citar. Certo mesmo é que Giovanna Lancellotti não constava na lista porque tinha onze anos. “Esperei crescer pra pegar a Giovanna”, brinca, pois no filme a atriz interpreta a mulher de Fábio. “Na verdade, nem peguei porque o casal está se separando”. O mesmo ocorreu, em outro sentido, em relação a Letícia Lima, que interpreta uma garota de programa e se constitui personagem-chave da trama. “Esperei a Letícia se separar do Ian (com quem foi casada) para beijá-la”. O ator/humorista/roteirista classifica como tragicomédia o filme que estreia na próxima quinta-feira e conta a história de Bruno, rapaz que se dá conta que algumas pessoas do cotidiano dele começam a desaparecer. “Parece comédia, mas não é”, reforça Ian. O importante, diz o cineasta em sua estreia em longas, foi tê-lo realizado do jeito que tinham imaginado desde o princípio. Fizeram até um pacto: se aparecesse alguém querendo comprar os direitos do roteiro, eles venderiam? “Não, eu queria atuar e ser dirigido por Ian e, agora, estamos concretizando um sonho”, afirma Fábio. Entre Abelhas não é do Porta dos Fundos, mas ambos admitem ser impossível não mencionar o grupo. Nada menos que quatro integrantes desse bem-sucedido projeto da internet estão no filme — além deles, Marcos Veras e Luis Lobianco — “parceiros, amigos e bons atores capazes dar peso aos personagens”, segundo Fábio. Como convidada, Irene Ravache chegou animada dizendo que gostaria de entrar no tom do grupo. “Irene foi fundamental e generosa; imagine essa grande atriz querendo falar a nossa linguagem”. Mas como não perde a piada, acrescenta: “na verdade, ela nos deu credibilidade”. Marcos Veras garante que trabalhar com amigos facilita muito, mesmo tendo de controlar as crises de riso. “O diretor é nosso amigo e isso permitiu que a gente se divertisse, mas havia respeito e, na hora de trabalhar, entrávamos no personagem e atuávamos”. Segundo ele, é um filme diferente do que vem sendo feito no Brasil não só no modo de fazer como na temática, pois aborda a depressão. Aproveita e analisa o personagem dele. “O Davi tampouco enxerga o amigo, a mulher e a namorada; um cafajeste que ainda pensa que é adolescente. Como todos sabem, os homens demoram mais para crescer”. Conta também que na primeira versão do roteiro o personagem não existia, foi criado posteriormente e cresceu. E aposta na receptividade do público. “As pessoas vão se surpreender porque haverá reversão de expectativa; vão pensando ver uma coisa e verão outra”. Luis Lobianco vive uma dessas pessoas que desaparecem da visão de Bruno. “É um atendente de pizzaria, cara que ninguém enxerga”. E se vangloria de ter feito a maioria das cenas com a Irene e ficou feliz porque tiveram espaço para improvisar como a cena dos legumes. “Foi sensacional. O filme afirma que nossa geração quer chegar oferecendo de tudo um pouco e sem dar necessariamente o que o público deseja, mas querendo surpreendê-lo”. Para Fábio existe uma clara leitura de Entre Abelhas: o personagem não encara os problemas e não vê nada de errado no fato não enxergar algumas pessoas. Entende que o roteiro faz uma leitura dos nossos dias. “Ignoramos os outros, as pessoas se tornaram invisíveis e isso tem a ver com o título. As abelhas estão desaparecendo e ninguém sabe o motivo e se elas sumirem por completo o mundo acaba. E fico feliz quando a plateia descobre essa relação sem precisar o personagem dizer explicitamente do que se trata”.