CINEMA

Elza Soares esteve em Campinas para gravar trilha sonora

Cantora participa do longa de animação "A História Antes de Uma História", de Wilson Lazaretti

Marita Siqueira
20/02/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 04:05
Elza Soares grava trilha sonora de filme em estúdio de Campinas (Rodrigo Zanotto/Especial para AAN)

Elza Soares grava trilha sonora de filme em estúdio de Campinas (Rodrigo Zanotto/Especial para AAN)

Queixo a meia altura, amparado por mãos castigadas pela idade; olhar baixo e concentrado. Assim Elza Soares ouviu cuidadosamente as duas canções que gravou, um tango e um bolero, no estúdio campineiro Vitrola Digital, na última segunda-feira (18), para o longa-metragem de animação 'História Antes de Uma História'. “Eu não gosto de me ouvir muito porque sempre acho que pode melhorar”, diz. A trilha sonora — composição e direção — é do secretário de Cultura Ney Carrasco e de Nelson Pintom, uma parceria de aproximadamente três décadas que já desenvolveu inúmeros trabalhos para o Núcleo de Cinema de Animação de Campinas, responsável pelo filme.

Dirigido por Wilson Lazaretti e produzido por Maurício Squarisi, o longa fala sobre o processo de fazer uma animação abusando da metalinguagem. Nos primeiros rabiscos do desenhista Doutor K, nasce a bruxa (ou feiticeira). Sem coração, é uma “prisioneira da vaidade e exilada freudiana”, explica Lazaretti. Em um repentino ataque de fúria, ela apaga todos os desenhos. Nesse momento, a voz de Elza interpretando o denso tango reflete a angústia da personagem. “É o personagem conflitante do filme”, afirma o diretor. Tal situação fica nítida no quarto verso, no qual explora a suave vibração da garganta para cantar o tormento da solidão.

O enredo passa a ser construído pelo desabrochar da bruxa, movido pelo sentimento. Personagem se apaixona pelo criador. Esse romance entre o criador e a obra faz referência a 'Dom Quixote', de Miguel de Cervantes. Além do clássico da literatura, podem ser observadas influências de Leonardo Da Vinci, Isaac Newton, Santos Dumont e Bartolomeu de Gusmão. Depois de rendida ao amor, o bolero perde espaço para o tango.

As mudanças de letras são pequenas, há apenas diferentes intercalações dos versos. “É a mesma música, com letra bastante parecida, mas ela muda de intenção”, diz Ney Carrasco. Apenas para exemplificar: enquanto o último verso do tango diz “Pra encontrar o meu coração”, a versão de bolero fala “Pra roubar meu coração”.

Convite

O nome de Elza Soares para emprestar a voz à trilha sonora soou quase que naturalmente para os produtores. Dentro de um táxi, numa chuvosa noite no Rio de Janeiro, Lazaretti ouviu no rádio Elza cantando 'Fadas', de Luiz Melodia. Num “estalo”, o diretor gravou a canção e enviou para Carrasco. “A Elza teve uma referência direta com o que queríamos para o filme. Quando Lazaretti me pediu a música da sequência e ele me deu a gravação de 'Fadas', dizendo que queria alguma coisa naquele clima, sabia que a prioridade seria Elza”, afirma Carrasco. “Então, eu fiz um tango em cima disso. Ele é um pouco mais pesado. Foi pensado nela desde o começo”, conclui.

A cantora, por sua vez, diz ter aceitado de imediato. “Sorte a gente só tem uma vez na vida. Quando me foi apresentado o trabalho, eu fiquei muito entusiasmada. Como o Brasil é maravilhoso, existem tantas produções boas! Esse trabalho é muito bonito”, diz. E o resultado foi aprovado. “Eu gostei do resultado, espero que eles tenham gostado também. Adorei a experiência”, afirma ela, dizendo que as supostas dificuldades que poderia encontrar por não ser um trabalho comum na sua carreira foram supridas pelos dois maestros que a acompanharam (Carrasco e Pintom). “Agradeço por confiarem em mim e na minha voz.”

Apesar das dificuldades físicas em função dos 75 anos de idade, o timbre de Elza mantém-se impecável e o ouvido apurado. Tanto que a cantora está em turnê pelo mundo (a próxima parada é a Europa), com o show 'Deixa a Nega Gingar'. Disposição para seguir em longas turnês pelo mundo? “Basta você não se sentir senhora para ter disposição”, responde ela, numa referência ao termo de chamamento usado pela repórter que vos escreve.

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