ENTREVISTA

Eduardo Nassife fala de sua paixão pela escrita e novos projetos

Depois de escrever a biografia da atriz Glória Pires, autor dedica-se a história de vida de Chacrinha

André Luís Cia
17/03/2013 às 15:13.
Atualizado em 26/04/2022 às 00:26
Eduardo Nassif é tido  como um dos mais jovens promissores roteiristas que têm despontado no País (Divulgação)

Eduardo Nassif é tido como um dos mais jovens promissores roteiristas que têm despontado no País (Divulgação)

Na infância, ele adorava desenhar, pintar, ler e escrever. Era fascinado por qualquer coisa ligada às artes, mas o despertar da paixão pela escrita surgiu mesmo em 1989, quando assistia à novela 'Tieta' , escrita pelo autor Aguinaldo Silva, adaptação do livro Tieta do Agreste, de Jorge Amado. Doze anos depois de se emocionar com a novela, o carioca Eduardo Nassife dava o pontapé inicial para o trabalho que o projetaria no mercado brasileiro: a biografia da atriz Glória Pires (40 anos de Glória), que começou a ser escrita em 2001 e foi lançada em 2010. Aos 31 anos, ele é um dos mais jovens promissores roteiristas que têm despontado no País.

Nascido em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, foi criado no subúrbio do grande Méier. Atualmente, mora no bairro Peixoto, lugar que define como calmo, ideal para que consiga escrever com tranquilidade. Dentre os próximos trabalhos, está a biografia de um dos ícones da TV brasileira, o apresentador José Abelardo Barbosa de Medeiros, o folclórico "Chacrinha" e um documentário com a atriz Suzana Vieira. "Que venham mais projetos porque é um privilégio viver daquilo que escolhi ainda criança. Eu amo o que eu faço".

Gazeta de Piracicaba - Quando a paixão pela escrita deixou de ser um sonho e se tornou realidade?

Eduardo: No final de cada capítulo de 'Tieta', eu escrevia num caderno tudo o que tinha acontecido naquele dia. Era quase um resumo dos capítulos, desses que vemos em jornais. Mas essa paixão começou a ficar mais séria em 1993, após eu assistir à reprise de Vale Tudo, em 1992 (sucesso recentemente no Canal Viva). Além disso, eu também via a novela "Mulheres de Areia", que passava às 18 horas (coincidentemente, as duas tramas tiveram a estrela Glória Pires como protagonista). Com isso, comecei a criar as minhas histórias. Era engraçado porque eu queria imprimir um dinamismo ao que escrevia e eram só cenas de ação, morte e acidentes, desde então, nunca mais parei de escrever.

 Como foi o seu primeiro projeto como escritor?

Meu primeiro trabalho foi o curta-metragem "Duplo Sentido", produzido a partir de um concurso de roteiro da faculdade de jornalismo. O meu roteiro ganhou esse concurso e foi produzido. Em 2009, escrevi outro curta, "O Futuro a Deus Pertence", com a atriz Narjara Turetta e o Marcus Toledo. "Não consegui apoio. Eu mesmo paguei os custos do meu bolso, mas lutei para produzi-lo"

Como surgiu a ideia da biografia da Glória Pires?

A biografia da Glorinha foi uma proposta minha a ela. Não fui convidado, eu a convidei. Já éramos amigos há três anos. Propus a ela ter um registro de sua carreira, e resolvemos arregaçar as mangas, separar as fotos. Foram horas de entrevistas com ela, com amigos, família, artistas e filhas. Foi muito bacana todo o processo. A Glorinha sempre nos ajudou e foi muito solícita. Eu e Fábio Fabrício Fabretti (outro autor do livro) costumamos dizer que escrevemos o livro a seis mãos, pois a Glorinha participou ativamente conosco o tempo todo. Em 2008, ela mudou para Paris. Fazíamos tudo pelo skype, de madrugada, pela diferença de horário lá. Quando terminamos o livro, ela não conseguiu dormir enquanto não tivesse lido tudo. Foi um trabalho que eu me orgulho muito, assim como todos os outros, mas ele me deu maior projeção. Eu gosto do livro como um todo. Eu escrevi o primeiro capítulo sozinho e o Fábio escreveu o último. Eu gosto mais do último e o Fábio, do primeiro (risos).

E o convite para trabalhar na novela 'Fina Estampa' como pesquisador?

Em 2009, participei da primeira turma da Master Class (curso de roteiro dado pelo autor Aguinaldo Silva no Rio de Janeiro. Os selecionados tiveram que reescrever uma cena da novela 'Tieta'. Foram selecionadas duas turmas). A partir dessa Master, o Aguinaldo escolheu cinco novos roteiristas que colaborariam em sua próxima novela (criação coletiva da primeira turma), que foi chamada provisoriamente de 'Marido de Aluguel'. O nome 'Fina Estampa' foi sugerido por mim. Aguinaldo adorou e me indagou na hora: "Você também é fã do Caetano?". Eu disse que amava o Caetano, ouvia Elis, Roberto Carlos, Djavan, Bethânia, Gil, Celso Fonseca, Cazuza, enfim, adoro música brasileira. Em 2010, fui contratado pela TV Globo para integrar a equipe dessa novela.

 E a biografia do Chacrinha? De onde veio o convite?

Recentemente, fui convidado pelo Ricardo Amaral, Martha Ribas e pelo Leleco Barbosa para escrever a biografia da Chacrinha. Terminei as pesquisas e estou finalizando as entrevistas, que são muitas. Graças a esse novo projeto, eu conheci grandes nomes do cenário artístico brasileiro, como Roberto Carlos, Boni, Agildo Ribeiro, Elke Maravilha, Haroldo Costa, entre outros. Estou descobrindo histórias bem curiosas e engraçadas sobre o Velho Guerreiro.

Como é o processo de escrita de uma biografia? Qual o grau de intimidade com o entrevistado? Você teve a experiência de fazer com um biografado vivo (Glória) e, agora, com outro que está morto (Chacrinha). O que é mais difícil?

O processo de trabalho do escritor é algo muito pessoal e particular. Eu acho que não há uma fórmula, uma receita. Cada um tem o seu método. Eu me embaso muito nas pesquisas, para que o livro tenha conteúdo e credibilidade naquilo que eu quero narrar. Claro, a invasão à privacidade é algo inevitável, mas também depende da forma de como invadimos essa intimidade do biografado. Eu sempre deixo o biografado à vontade, e acho que, por causa disso, as entrevistas acabam sempre sendo um gostoso bate-papo, não fica aquela coisa maçante, chata e formal. Fica leve, descontraída e acaba fluindo bem para todos. Não sei se é mais difícil ou mais fácil com o biografado vivo ou falecido. Passei pelas duas experiências. A vantagem de termos o biografado vivo é que, dessa forma, não há ninguém melhor para contar sobre a sua vida do que ele.

Documentário com atriz

Workaholic assumido, Eduardo Nassife também está envolvido com o documentário de uma das atrizes mais queridas e respeitadas no país: Suzana Vieira. O documentário 'A Casa da Atriz - Suzana Vieira', surgiu de uma parceria com o cineasta Fred Augusto e com o jornalista e produtor Dario Dezem, que produziram um minidocumentário sobre a Bibi Ferreira e também o longa documental "Sequestro", que ganhou prêmio no Festival de Los Angeles.

Nassife se tornou sócio deles, que são donos da produtora DD Filmes, em São Paulo.

“Estamos tendo reuniões e encontros com a Susana frequentemente. Ela é uma pessoa muito para cima, com um astral maravilhoso, divertidíssima, e muito, muito engajada naquilo que se propõe. Com o documentário não está sendo diferente”, disse.

Afinidade com TV e o cinema

Além da biografia do Chacrinha e do documentário da atriz Suzana Vieira, Eduardo Nassife tem um projeto na TV que ainda não pode dar detalhes. Além disso, está produzindo seu primeiro longa-metragem, em parceria com o diretor Adolpho Knaulth. Nassife teve uma experiência bem-sucedida com o cinema em 2010 porque seu curta-metragem “Dramas do Sucesso” ganhou menção honrosa no Festival de Los Angeles. “Escrevi esse trabalho para os alunos da New York Film Academy, onde um amigo meu cursa Cinema e me pediu um roteiro para eles produzirem”.

Ele confessa que gosta muito de cinema e TV e que as pessoas o cobram para escrever para o teatro, mas ainda não sentiu despertar o interesse como roteirista neste segmento. “Amo teatro, mas como espectador”. .

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