POLÍTICA CULTURAL

Edital para ocupação do Castro Mendes gera discussão

Uma das queixas é que não há critérios diferenciados para produções locais e nacionais

Delma Medeiros
18/03/2013 às 05:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 00:12
O produtor cultural Reginaldo Menegazzo fala sobre edital para ocupação do Teatro Castro Mendes (Rodrigo Zanotto/Especial para AAN)

O produtor cultural Reginaldo Menegazzo fala sobre edital para ocupação do Teatro Castro Mendes (Rodrigo Zanotto/Especial para AAN)

O edital para ocupação do Teatro Municipal José de Castro Mendes, publicado no Diário Oficial do Município no último dia 8, está dando o que falar e dividindo opiniões. Alguns produtores culturais avaliam que, embora burocrático, este é processo mais democrático para a distribuição de datas para ocupação do espaço. Já outros consideram que são poucas as datas disponíveis e que os grupos locais continuam sendo penalizados pela administração municipal, que não estabeleceu critérios diferenciados para produções da cidade e em relação às do circuito nacional. O diretor de Cultura, Gabriel Rapassi, explica que o processo é emergencial, apenas para os meses de maio e junho, e que serve como piloto para corrigir eventuais equívocos na preparação de um novo edital para ocupação do teatro no segundo semestre que, antes de ser publicado, será aberto à consulta pública para que a classe artística e sociedade civil possam participar dando sugestões.

O ator e produtor Cláudio Fontana, que produziu e atuou com o ator Thiago Lacerda as peças 'Calígula' (2009) e 'Hamlet' (em cartaz no Rio de Janeiro), afirma que nos últimos anos está muito difícil se apresentar em Campinas, pela falta de espaços. “A última vez que estivemos aí foi com Calígula (março de 2009), no Centro de Convivência Cultural, que estava numa situação deplorável. Desde então ficamos na expectativa da reforma do teatro porque depois de São Paulo, Campinas é a praça mais interessante do Estado”, diz o produtor. Ele explica que não foi possível conciliar a vinda do espetáculo pelas datas oferecidas no edital, porque as disponíveis já estão marcadas em outras cidades. “Mas a Secretaria nos procurou e estamos negociando uma data fora do edital, no mês de abril. Possivelmente, vamos levar o Hamlet para Campinas no final de abril”, adianta Fontana, citando que dois meses é muito pouco para as grandes produções se organizarem. “Mas, felizmente, acho que vai dar certo e voltaremos à cidade.”

Ton Crivelaro, presidente da Associação dos Profissionais de Teatro de Campinas (APTC), ficou descontente com o edital por não priorizar os grupos locais. “Enquanto o Castro Mendes coloca em pé de igualdade os grupos locais e os de fora, os teatros particulares não seguem o mesmo critério e privilegiam as produções do eixo Rio-São Paulo. Com isso, os produtores locais ficam prejudicados, já que não temos espaço nos teatros privados”, avalia. Crivelaro também questiona o critério da comissão (formada por “três profissionais de notório saber artístico”, de acordo com o texto do edital) que vai selecionar os trabalhos. “Se o produtor tiver um desafeto dentro da comissão, fatalmente está fora.”

Processo necessário

Para Reginaldo Menegazzo, da Produção Cultural, o processo pode até ser burocrático, mas “necessário para que não tenhamos que conviver com as mesmas produções todos os anos”. Segundo ele, o maior problema é a escassez de espaços culturais públicos. “Claro que o ideal seria termos vários espaços e contar, além dos grupos locais, com grandes produções nunca vistas na cidade. Porém, como só temos o Castro Mendes com condições de apresentações, isso não é possível. Assim, o edital se torna uma solução”, afirma. “A classe artística e produtores campineiros terão de se acostumar com essa burocracia que, a meu ver, só vem somar. O que temos de garantir é que a seleção seja feita por pessoas que não se deixem influenciar e que sejam criteriosas. No geral, o edital responde a uma necessidade de momento.”

O produtor musical Fernando Vasconcellos também aprova o formato adotado pela Secretaria de Cultura. “Editais são a forma mais democrática para definir a pauta do teatro. Claro que funciona melhor tendo vários espaços (públicos). No Rio de Janeiro, por exemplo, existem 22 teatros municipais, então dá para atender à demanda. Em Campinas, só temos um no momento. Acredito que com a reforma do Convivência e a construção do teatro de ópera (Carlos Gomes), o município consiga suprir a demanda de montagens locais, regionais e nacionais”, avalia. “Além disso, a seleção dos grupos por uma comissão torna mais difícil privilegiar um ou outro grupo. Depois de tudo pelo que a cidade passou nessa área, esse edital é muito bem-vindo”, completa.

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