ECONOMIA CIRCULAR

Ecoboxes quer ampliar uso de plástico reciclável como matéria-prima

Empresa sediada em Paulínia desenvolve essa e outras ações para neutralizar a emissão de gases do efeito estufa durante o processo produtivo

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
29/01/2024 às 08:41.
Atualizado em 29/01/2024 às 08:41
Uso do material representou, no ano passado, 42,87% das 8,4 mil toneladas de polipropileno consumidas; neste ano, quando a empresa completa 10 anos, a meta é dobrar o percentual (Rodrigo Zanotto)

Uso do material representou, no ano passado, 42,87% das 8,4 mil toneladas de polipropileno consumidas; neste ano, quando a empresa completa 10 anos, a meta é dobrar o percentual (Rodrigo Zanotto)

A Ecoboxes, com sede em Paulínia, tem investido em ações para ampliar o uso de plástico reciclável como matéria-prima e de produtos carbono zero, política desenvolvida com o objetivo de neutralizar a emissão de gases do efeito estufa durante o processo produtivo. O uso desse tipo de material no ano passado foi de 3,6 mil toneladas, o que representou 42,87% das 8,4 mil toneladas de polipropileno consumidas. A meta atual da empresa é dobrar a participação em 2024, quando completa dez anos.

Para isso, a Ecoboxes formará parcerias com clientes para alavancar as ações de logística reversa. O intuito é aumentar a coleta de plástico, que será usado para elevar a produção de sua usina de reciclagem instalada em Valinhos. Nessa planta, a sucata é recebida, passa por análise química, limpeza, trituração, lavagem e secagem, ficando pronta para ser reutilizada.

“Dessa forma, vamos ter maior controle sobre a qualidade da matéria-prima usada”, explicou a gerente administrativa de Venda da Ecoboxes, Cristiane Silveira Hernandes. A empresa se valerá da economia circular, que visa ao consumo e descarte consciente, acompanhando todo o ciclo de vida do produto a fim de torná-lo menos danoso ao meio ambiente. Atualmente, ela já recebe caixas plásticas danificadas e refugos de produção dos clientes, trocando 5 quilos por 1 quilo em caixa nova. Um dos modelos carbono zero produzido pela fábrica para uma empresa de telefonia celular pesa 3 quilos, ou seja, a caixa sai de graça se 15 quilos de material reciclável forem entregues. A proposta é incentivar os clientes a instalar de pontos de coleta de plástico, como embalagens de alimentos industrializados, e de polipropileno, termoplástico usado como material de embalagem. É a aplicação da logística reversa, conceito que complementa a economia circular e que possibilita os produtos consumidos retornarem para as empresas, buscando contribuir para um mundo mais sustentável. O objetivo principal é promover uma mudança de comportamento das empresas e a adoção de práticas sustentáveis.

De acordo com a Ecoboxes, a produção de 1 quilo de caixa com plástico virgem resulta na liberação de 1,4 quilo de gás carbônico (CO2), principal causador do efeito estufa, em toda a cadeia produtiva, desde a transformação do petróleo em polipropileno até fabricação do produto final. Usando novamente o exemplo de uma caixa de 3 quilos com material reciclável, deixam ser lançados no meio ambiente 4,2 quilos de CO2.

QUALIDADE

A gerente industrial da empresa de Paulínia, Bruna Carola, explicou que a evolução da tecnologia do plástico nos últimos anos fez com que a caixa produzida com material reciclado tenha a mesma capacidade mecânica da feita com plástico 100% virgem, seja em questão de qualidade, resistência, capacidade de carga e durabilidade. Ela somente não pode ser usada em casos específicos, como para alimentos, a fim de evitar a contaminação, ou para armazenamento em câmaras frias, com as baixas temperaturas afetando a qualidade.

A supervisora de Marketing da Ecoboxes, Quezia Coelho, explicou que a capacidade mecânica das caixas com material reciclável é garantida pelo uso de um aditivo bioplástico, fornecido por uma empresa israelense, que é produzido a partir do lixo orgânico. “Ele garante a mesma resistência do concreto ou de uma caixa com plástico 100% virgem”, afirmou.

A empresa produz caixas e paletes plásticos que podem ser personalizadas para as necessidades de cada cliente, que são de diversos setores, como e-commerce, automotivo, telecomunicação, vestuário e rede de farmácias. Os itens podem ser feitos com polipropileno totalmente novo, material composto ou todo em plástico reciclável. Um das encomendas recebidas pela indústria de um cliente foi a produção de caixas carbono zero retornáveis para substituir as de papelão. “O preconceito com o material reciclável está diminuindo e hoje há empresas que exigem que sejam carbono zero”, disse Cristiane Hernandes.

A premissa é imposta por uma nova realidade de mercado que busca produtos cada vez mais sustentáveis. “Há clientes que nos pedem relatórios de carbono zero”, afirmou a gerente administrativa de Vendas. Os dados são uma forma de mostrar as ações das empresas na área de sustentabilidade, estratégia para manter ou conquistar novos clientes, principalmente os do exterior, onde as exigências por práticas de preservação do meio ambiente são cada vez maiores.

BRASIL

De acordo com o Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico (PICPlast), o uso de plásticos reciclados em embalagens de alimentos e bebidas cresceu 42% entre 2020 e 2021 no Brasil, último dado disponível, quando atingiu a marca de 151 mil toneladas do material ecologicamente correto na produção de recipientes para itens comestíveis e potáveis. O PICPlast é uma parceria entre a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), representante do setor de transformados e reciclados plásticos, e a maior indústria petroquímica do continente americano.

Em 2021, o país produziu cerca de 1 milhão de toneladas de plástico reciclado para todas as finalidades, o que representou um crescimento de 14,7% na produção do material. De acordo com o Índice de Reciclagem no Brasil, elaborado pelo PICPlast, o Brasil reciclou 23,4% do plástico pósconsumo gerado, aumento de 0,3% em relação a 2020. A maior taxa de reciclagem foi atingida na região Sul do País, 41,1%, enquanto na Sudeste, onde fica o Estado de São Paulo, a taxa chegou a 25,4%. O menor índice foi na região Norte, 4,6%.

Essa é uma forma de evitar que plástico polua os mares ou seja jogado na terra, onde leva 100 anos para se decompor por não sofrer a ação de bactérias. O PICPlast envolve hoje cerca de 2 mil participantes de 900 empresas que participam de capacitações e iniciativas de desenvolvimento de mercado, além de gerar mais de R$ 160 milhões para o programa de incentivo à exportação.

“A humanidade não consegue viver sem o plástico”, diz Cristiane Hernandes. Ela defende, no entanto, a implantação de ações que evitem que o material seja um dos vilões nas agressões ao meio ambiente. Para ela, nas próximas décadas, essas iniciativas deixarão apenas de ser incentivadas para se tornarem uma exigência prevista em lei, com o envolvimento de todas as partes, incluindo consumidores, indústrias e governo.

A gerente de Vendas acredita que a atual geração está mais preocupada e envolvida com a defesa do meio ambiente, com a adoção de ações de preservação sendo uma imposição da sociedade.

Ela lembrou que o Brasil reforçou recentemente seu compromisso de reduzir em 42% as emissões de gás carbônico (CO2) na atmosfera até 2030, como sua contribuição para diminuir o efeito estufa. “Temos seis anos para cumprir essa meta”, disse Cristiane Hernandes. “Com o aumento do consumo de embalagens descartáveis, se fez muito importante a conscientização do consumo e reciclagem, pois o volume consumido e descartado de forma desenfreada afeta diretamente os recursos naturais”, afirmou.

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