Gal Costa, a voz de cristal, e Rolando Boldrin, que há décadas valorizava em seu programa a música brasileira, morreram ontem em São Paulo; ela estava em casa e ele internado há dois meses em um hospital particular
Gal Costa e Rolando Boldrin (Divulgação)
Gal Costa, uma das principais cantoras da música brasileira, morreu na manhã de quarta-feira (9), aos 77 anos, em sua residência, na capital paulista. Logo que a notícia confirmada por sua assessoria de imprensa, artistas, produtores e políticos se manifestaram nas redes sociais lamentando a partida inesperada desse verdadeiro ícone da cultura musical do País.
Após passar por uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita, em setembro, Gal ficou afastada dos palcos, chegou a adiar shows para 2023 e também cancelou sua participação em um festival que aconteceu em São Paulo no último fim de semana. Até o fechamento desta edição, não havia sido divulgada a causa da morte da cantora. O velório, aberto ao público, está previsto para amanhã, das 9h às 15h, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. O enterro será fechado apenas para familiares e amigos próximos.
Maria da Graça Costa Penna Burgos nasceu em Salvador em 26 de setembro de 1945. Começou a carreira artística aos 20 anos cantando músicas inéditas de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ao longo de 57 anos de carreira lançou 40 discos, o último foi "A pele do futuro", de 2018, inspirado em seu único filho Gabriel, de 17 anos. Conhecida como "a voz de cristal", Gal tem em seu repertório dezenas de clássicos da MPB, como "Chuva de Prata", "Baby", "Meu nome é Gal" e "Pérola Negra".
Gilberto Gil postou no Twitter: "Nossa irmãzinha se foi... Gal, a quem chamava de Gaúcha. Fica a saudade pra mim, pra todos que eram próximos e pra tanta gente na extensão deste Brasil que se encantava com seu canto. Agora o canto dela fica conosco pro resto das nossas vidas, pra o tempo todo da nossa história".
Maria Bethânia postou um vídeo no Instagram dizendo: "Eu nunca pensei um dia chegar a vocês para falar sobre a dor de perder Gal. O Brasil que ela sempre encantou com sua voz única, magistral, hoje inteiro chora, como eu. Uma amiga que mesmo longe, sempre mantive admiração e respeito. Deus a receba na sua mais pura luz. É triste demais, difícil demais".
Apresentações em Campinas
Gal Costa soltou a voz em três apresentações em Campinas: em 1983 no Tênis Clube, em 1985 na Sociedade Hípica, e em 2015 no Sesc. Na Red Eventos, em Jaguariúna, fez shows em 2016 e em 2019.
Ela se apresentaria na Arena Multishow do Ginásio do Guarani, no fim do ano passado, mas o show "As várias pontas de uma estrela" foi adiado e depois cancelado por conta das regras de restrição da Covid-19.
O produtor musical Beto Franchi conta que sua primeira experiência próxima a Gal Costa foi em 1984, quando ele trabalhava na gravadora PolyGram. Ele considera Gal como a estrela maior da música brasileira. "Infelizmente não foi possível trazer esse novo show dela para Campinas. Tenho histórias maravilhosas sobre ela, mas o momento é triste e as lembranças são doloridas. Ela falava que queria morrer no palco. Não conseguiu, mas acho que do palco ela nunca vai sair", ressalta.
Carmen Arduino, que foi produtora de Gal no Rio de Janeiro, comentou que a artista era uma profissional maravilhosa, singela e calma. "Nunca a vi reclamar de nada. Era uma lady", enfatiza. A produtora afirma também: "as únicas coisas que vieram à minha cabeça ontem foram a linda piscina que tinha no apartamento dela em São Conrado, a dona Mariah falando do amor pela filha e o seu caderno de poesia".
Para a professora de música Regina Machado, do Instituto de Artes da Unicamp, "Gal é uma das cantoras mais importantes do Brasil, o que a torna imediatamente uma das mais importantes do mundo. Sua voz fez história e sua coragem criou uma trajetória riquíssima dentro da música popular brasileira. Nunca teve medo de mudar e ousou, em momentos diversos, trilhar novos caminhos aos quais sempre se entregou inteiramente. O tamanho de sua arte, de seu canto, só se compara à falta que ela fará".
A despedida de Boldrin
Ele sempre teve um jeito muito especial de lidar com a música, a poesia, a composição, o palco, a contação de causos. Rolando Boldrin, 86 anos completados em 22 de outubro, vai deixar saudade. Ele morreu na quarta-feira (9), também na capital paulista, após passar dois meses internado no Hospital Albert Einstein. A causa da morte foi insuficiência respiratória e renal. Aberto ao público, o velório está previsto para ocorrer hoje, das 8h às 15h, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. O sepultamento será às 17h.
Com mais de 60 anos de carreira, ele participou de cinco filmes, de mais de 30 novelas e vários programas de TV e rádio. Seu trabalho atual era o programa musical "Sr. Brasil", exibido pela TV Cultura nos últimos 17 anos e ainda no ar com reprises. Boldrin se consagrou como um dos principais expoentes da cultura sertaneja e das raízes da música caipira no Brasil. "Com o 'Sr. Brasil', 'tirou o Brasil da gaveta' e fez coro com os artistas mais representativos de todas as regiões do país", diz nota da Fundação Anchieta.
Sétimo filho de uma família de doze irmãos, ele deixou a cidade de São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, aos 16 anos em busca do sonho de ser artista. Era também um grande contador de causos. Na música estreou em 1960 e lançou seu primeiro álbum solo em 1974. Como apresentador de TV, além do "Sr. Brasil", esteve à frente dos programas "Som Brasil", (TV Globo), "Empório Brasileiro" (Band) e "Empório Brasil" (SBT). Foi homenageado em tema do desfile da escola de samba Pérola Negra no Carnaval de São Paulo, em 2010, com o enredo "Vamos tirar o Brasil da gaveta". Em seu site oficial, ele se definia como um "homem de muitos talentos e personalidade".