ARTE, CIÊNCIA E UM DIVÃ

Documentário produzido em Campinas é selecionado para mostras internacionais

Produção foca o uso da arte nas sessões de terapia como recurso para expandir consciência

Cibele Vieira
21/06/2022 às 12:26.
Atualizado em 21/06/2022 às 12:26
Psicóloga Patricia Lopes Karniol e o psiquiatra Isaac Germano Karniol, que comandaram o projeto que resultou no documentário e terá dois livros e uma exposição como desdobramentos (Divulgação)

Psicóloga Patricia Lopes Karniol e o psiquiatra Isaac Germano Karniol, que comandaram o projeto que resultou no documentário e terá dois livros e uma exposição como desdobramentos (Divulgação)

O documentário "Arte, Ciência e um Divã", produzido pelo psiquiatra Isaac Germano Karniol e a psicóloga Patricia Lopes Karniol, de Campinas, foi selecionado para exibição em dois importantes eventos internacionais. O primeiro, na última semana, foi durante o Brazil Internacional Month-ly Independent Film (BIMIFF) e, em julho, será a estreia na plataforma FilmFreeway, que traz as seleções dos principais festivais de cinema do mundo. O documentário foi produzido pela Cão Bravo Produções, sob a direção de Adriana Siqueira Lopes, que conduziu as entrevistas junto com André Grecco. 

Realizado durante a pandemia, o documentário tem seis episódios de 52 minuros cada, com depoimentos de profissionais e artistas pacientes. A obra mostra como o recurso de inserir a produção de desenhos, poesia, música e pinturas durante as sessões de terapia ajudou a interpretar sentimentos e emoções que não ficavam evidentes somente com o recurso das palavras. Esse material foi expandido e dois dos casos analisados resultaram em livros, que serão lançados na próxima semana em São Paulo: "O Primordial no Homem Moderno" (com ilustrações de Egas Francisco) e "Bullying - quem são os alvos".

As pinturas e desenhos produzidos durante as sessões de terapia também serão expostos em outubro, no Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC), em mostra coletiva dos artistas Fabrícius Nery, Marcia Castro, Maria Inês Parada e Patricia Siqueira Lopes, além de quadros de Egas Francisco criados na fase de retomada pós-terapia. Todos eles participam com depoimentos espontâneos no documentário, que também tem como entrevistados o psiquiatra Breno França, os psicanalistas Plínio Montagna e Sônia Rezende e o professor Antònio Muniz Rezende. Há também a participação do crítico de arte Enock Sacramento, além da avaliação do processo pelo pintor Fabrícius Nery e o bailarino Mateus Pamplona. 

A arte como cura

"A ciência pelo uso de tecnologias avançadas, utilizando algoritmos, inteligência artificial e estudos de imagens, conseguiu um enorme progresso nas últimas décadas tentando entender como funciona a mente humana na sanidade e na loucura", conta Isaac. Ele cita estudos recentes que indicam a produção de sentimentos e emoções não apenas pelo sistema nervoso central, pelo cérebro, mas também pelo corpo como um todo. Por isso, a importância de propor novas formas de abordagens para permitir uma intercomunicação constante tanto consciente, como inconsciente, o que foi suprido pela arte. 

Patricia conta que a arte nas sessões era produzida por artistas, mas também por outros pacientes sem formação acadêmica dentro da chamada arte ingênua. "Percebemos que o que não era conseguido apenas pelos tratamentos biológicos, um verdadeiro desenvolvimento mental e emocional, carregado de muita vida surgia com esses recursos”. 

Numa das experiências, o paciente que se autointitulava "Seven" utilizava desenhos e pinturas, além de relatos e poesias tentando uma intercomunicação com sua professora de arte em uma escola da periferia. "O seu sofrimento e revolta eram tão intensos que ele estava planejando comprar uma arma para se vingar dos praticantes de bullying. Mas com a abordagem pela arte, seu desenvolvimento mental foi evidente, conseguiu ser aprovado no Ensino Médio e traçou um caminho tanto pessoal, como profissional", relata Patricia. 

Outro paciente foi o artista plástico Egas Francisco, que com pinturas e poesias conseguiu lidar com uma depressão grave que ameaçava sua vida. "Este trabalho foi feito obedecendo princípios éticos com a concordância de todos para participar desta experiência tanto científica, psicanalítica, mas também artística", diz o psiquiatra. "Apenas a racionalidade não conseguiria dar conta do que estava acontecendo na mente de Egas. Seria muito difícil pela lógica, pela ciência tradicional, trazer uma representação da plasticidade acompanhada de sentimentos, emoções que acompanham o funcionamento mental. A arte tenta preencher este vácuo", finaliza. 

Parte desse trabalho é mostrado no Youtube, com o título do documentário.

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